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sábado, 21 de julho de 2018

NANDO DA COSTA LIMA - CRÔNICA

BECO DA TESOURA
Nando da Costa Lima

            Não é mentira, não! Foram as fadas caatingueiras que se encontraram com as da mata e transformaram Conquista em poesia... É aqui onde acontece o encontro mágico da caatinga com a mata que fica o reino do “Beco da Tesoura”, onde quer que se vá nesta terra tem que atravessar o dito beco. Claro que temos outras opções, mas o reino da tesoura tem um magnetismo que o transforma na passarela oficial da Terra do Frio. Até hoje, quando se passa pelo velho beco, se escuta o barulho das tesouras do passado cortando tecidos e marcando o tempo. Só quem escuta são os apaixonados por Conquista. Nem sei qual foi o reinado mais duradouro, só sei que foram vários. Faz tanto tempo, a luz ainda era “de motô” e o Magassapo estava no auge, era o reduto dos boêmios da terra! Foi bem antes de Camilo falar “Sou apenas um homem sozinho dentro da noite...”. O poeta estava com saudades do tempo a que me refiro.
            Foi aqui que se encontraram Íris Silveira, Erathostenes Menezes, Camillo de Jesus Lima e outros grandes poetas mateiros e caatingueiros.Todos matreiros! Nossa terra tem o hábito de abrigar grandes almas! Uma época brilhante da poesia conquistense: “Me solta gente, eu quero atravessar a fronteira...”, este brado de Camilo explica tudo.
            E o poeta, como sempre muito elegante, atravessou o Beco da Tesoura com muita pressa. Eros tava pensativo, tinha que arrumar um meio de ficar em Conquista, tinha bebido da água do Poço Escuro e se enraizado na terra dos Mongoiós. O Olimpo fez de tudo para resgatá-lo do meio dos mortais, mas sabia que era quase impossível, ele estava apaixonado pela poesia que emergia da Terra do Frio. Estava tão apaixonado por Conquista que só voltou ao velho mulungú da terra onde foi concebido para fazer sua última homenagem a um amigo cuja beleza ficou no passado! “Buscando a tua sombra / a evocar o passado / a ti eu me compara amigo abandonado / Tu já não tem mais vida, e eu já não canto mais”.
            Eros tinha pressa, estava indo encontrar os poetas Íris e Camillo na casa da amiga Maria Alice. E foi lá que eles bolaram um plano para que Eros permanecesse vivendo aqui como um mortal... O plano foi simples e eficaz: Eros se declarou poeta, e se aqui já tinha muito poeta, imagine no Olimpo? Até Afrodite concordou que ele ficasse. E ele, junto a outros poetas, deixou fluir um tipoúnico de poesia! Nossa poesia é diferente, não que seja melhor ou pior que a dos outros... longe disto! É que talvez as musas da Terra do Frio, ou até mesmo o próprio frio, inspiram ainda mais os nossos poetas, donos de versos antológicos. É bom saber que pessoas tão geniais se encontraram na nossa linda e surreal Vitória da Conquista.
            Foi numa madrugada fria, no reino do Beco da Tesoura, que as fadas decidiram que Vitória da Conquista se transformaria em poesia...

quarta-feira, 18 de julho de 2018

BIG BEN - CRÔNICA

As ilhas da fantasia
BIG BEN
Mesmo sendo um ancião, é sinônimo de juventude fresca, de gente cheia de vida, cheia de charme, cheia de liberdade e, acima de tudo, de gente que gosta de ser gente. Enfrentou orgulhosamente e de peito aberto a república do ódio, não se deixou intimidar e mostrou a sua cara para o mundo: a cara da determinação, a cara da coragem, a cara da vitória!

Colocou nos seus devidos lugares os metidos a grandeza, os esnobes desprovidos de atributos reais, a "gentalha" que pensa que classe se compra com dinheiro. Tu és a "classe das classes", a classe legítima e verdadeira. Na verdade, foi você quem a inventou!

Só mesmo ilhas irmanadas com todos os seus encantos naturais, com todos os seus mistérios enigmáticos, com tantas idas e vindas ao sabor das marés, poderia representar tão bem o seu espírito indomável, amante do desconhecido, insaciável pelas coisas do mundo.

E o que falar dos seus filhos? Filhos nascidos de seu próprio ventre. Filhos agradecidos, orgulhosos, abençoados e queridos que não perdem a oportunidade de propagar aos quatro cantos do mundo todos os seus talentos, reforçando ainda mais a sua graça natural, despida de vaidade.

O que seria do Tio Sam sem a sua língua ecumênica? o que seria das suas fantasias sem esse lugar paradisíaco, onde é permitido realizar todos os sonhos de um conto de fadas? O que seria do mundo moderno sem a sua missão civilizatória? O que seria do seu tempo sem a sua pontualidade levada ao extremo da hora? O que seria da sua cultura sem esse senhor de fino trato? O que seria dos nossos irmãos acorrentados como gado sem a sua luz de liberdade? O que seria do seu modelito sem os seus ícones da moda? O que seria da sua fome insaciável de consumo sem a sua revolução pioneira? O que seria das suas tribos sem esse "velho de vanguarda"? O que seria do mundo das fábulas sem o seu legado de ordem e progresso?

Parafraseando Winston Churchill, o seu primeiro ministro, nos tempos sombrios: Nunca, no campo das conquistas humanas, tantos deveram tanto a tão poucos. O seu legado tem mais bem do que mal, mais amor do que ódio, mais contentamento do que ressentimento, mais justiça do que injustiça, mais tolerância do que intolerância, mais paz do que guerra, mais vida do que morte. Você com certeza, mais acertou do que errou!

A sua locomotiva ainda continua a todo vapor, espalhando pelo mundo todas as maravilhas da sua mente jovial, livre e criativa, dentro é lógico, da sua marca mais peculiar: a discrição. Vida longa e próspera, Reino Unido!

sábado, 14 de julho de 2018

NANDO DA COSTA LIMA - CRÔNICA

O Trapezista Voador
            NANDO DA COSTA LIMA
A cidade estava alegre, tinha tempo que não aparecia um circo. E pra completar, trouxe junto Raio, o Trapezista Voador, a sensação do momento. Era aplaudido de pé em toda cidade que passava. Era alto e forte, usava uma malha preta desbotada, uma capa verde enfeitada com raios dourados (a maioria despencando) e um tênis conga branco. A mulherada delirava quando o Trapezista Voador aparecia no picadeiro, teve até caso de desmaio! A meninada enlouquecia, era uma gritaria só. Todo mundo sonhando em “ficar grande” pra virar trapezista “avuadô”. Ninguém queria ser palhaço, dava até briga... O trapezista Raio reinou absoluto, era convidado pra todo acontecimento da cidade: casamento, batizado, velório. E ele era maniento, só comparecia nos eventos com o traje que o fez famoso. Isso até acontecer a tragédia que o levou ao abismo da birita e, consequentemente, a abandonar uma brilhante carreira. Aconteceu que Deolinda, filha do dono do circo, fugiu com o sacana do palhaço Mangangá. O Raio Voador se entregou de corpo e alma à cachaça. Foi isso que causou aquele incidente terrível...
Foi num domingo nublado, ninguém notou que o trapezista voador tava bêbado. Tinha se alimentado bastante pra curar a cachaça, ia fazer uma apresentação especial para os ilustres da cidade. Na hora que ele subiu no trapézio, parecia sóbrio e firme, a plateia nem notou o estado do artista. O efeito contrário da pinga só veio a acontecer depois da terceira pirueta que ele deu no ar, deve ter misturado tudo no bucho... Seu Erivelton deu o primeiro alerta: “Parece que tá chovendo macarrão com môi”. Quando acabou de falar, o trapezista terminou de despejar a rajada de vômito, melando todas as autoridades presentes. O sacana tinha comido uma bacia de macarrão número seis ao sugo, até a miss da cidade foi atingida. A coitada passou a mão no cabelo, cheirou e confirmou aos gritos: “É gumito!!!”. E o sacana deu sorte: quem tava assistindo arremessou várias cadeiras nele, mas não pegou nenhuma. Mesmo assim, quando ele pulou na rede e desceu pro picadeiro, o pessoal pegou ele de porrada que só faltou matar. Só não tomou uns tiros graças à interferência do delegado, que o levou preso pra evitar uma tragédia maior. É que o cachorrinho da mulher do dotô morreu engasgado com a dentadura do trapezista, piorando a situação.
Mesmo depois de ser espancado e preso, o trapezista voador não se conformou com a fuga do palhaço. O homem ficou louco. Logo ele, a atração principal. O circo ia falir se perdesse o palhaço Mangangá e o astro que voava ao mesmo tempo. Teve que cancelar a apresentação em Poções. O empresário circense já tinha mandado procurar a sua filha Diolinda em tudo que é canto, mas ninguém dava notícias dela e do palhaço fujão. Teve um sujeito que encontrou com eles lá em Sompaulo, numa pensão.
Com o circo em crise, todos os funcionários passaram a se preocupar com a cachaça do trapezista, ele era o único que podia salvar a situação. Fizeram de tudo para que abandonasse o copo. Como o problema era a fuga do palhaço com Deolinda, todo dia eles arranjavam uma possível substituta. Mas Raio não tinha olhos pra ninguém, já acordava com um litro de pinga na mão e só bebia no gargalo! Teve quem achasse que era feitiço, deram até um banho de pipoca com sal grosso e arruda, mas não adiantou de nada. Pra tirar cachaça de artista, só “rezadô” especializado.
Passaram-se seis meses quando Deolinda reapareceu de repente, estava já pra parir e sozinha, ninguém nem perguntou pelo palhaço. O circo já tinha até um substituto. Os outros artistas e a meninada foram logo avisar ao trapezista que ela tinha voltado. Ele, quando soube, engoliu três conhaques e saiu correndo, todos que estavam no bar foram atrás para ver o reencontro tão esperado, tinha até gente chorando de emoção. Agora o trapezista “avuadô” recuperava e voltava a encantar o público com suas piruetas mortais. Quando Deolinda apareceu, ele nem notou o barrigão, foi logo perguntando desaforadamente: “Cadê o palhaço Mangangá???”. Quando ela contou sua triste história, todos ficaram sabendo que Mangangá tinha morrido atropelado em São Paulo...O Trapezista Voador colocou as mãos na cabeça como se quisesse arrancar os cabelos, e ficou 12 horas desmaiado. Depois que acordou, nunca mais falou em trapézios nem picadeiros. Trocou o circo pela pinga.
E a meninada ficou retada por ter perdido o herói, ninguém mais queria ser o trapezista “avuadô” quando crescesse. Todo mundo queria ser o palhaço Mangangá, que fugiu com a filha mais bonita do dono do circo. Se alguém chamasse o outro de trapezista “avuadô”, era caso de sair na porrada.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

RICARDO DE BENEDICTIS - CRÔNICA

INAUGURADA A REFORMA DO CCCJ LIMA
Na noite desta terça, (03), o Governador Rui Costa inaugurou reforma realizada, após quase cinco anos de interdição do nosso espaço cultural. Várias benfeitorias e adequações foram incorporadas ao CCCJL, a exemplo de 311 novas poltronas no Teatro, novas saídas de emergência, pequenas intervenções de piso tátil e acessibilidade, pintura geral, melhorias do ar condicionado, mesa de iluminação, letreiro luminoso externo, melhorias na concha, etc.
Pude testemunhar pessoalmente as intervenções explicitadas, bem como a presença de políticos e seus assessres, convidados que fomos pelo atual diretor Elton Becker.


O PORQUE DA NOVA PLACA E REFORMAS DO CCCJL, INCLUÍNDO A ATUAL, INAUGURANDO REFORMA DO EQUIIPAMENTO NA NOITE DESTA TERÇA, 03 DE JULHO
 Ricardo De Benedictis
A data de funcionamento, que decreta a inauguração prática do nosso Centro de Cultura é 14 de setembro de 1986. Inicialmente, a placa inaugural trazia o nome de Centro de Cultura Governador João Durval Carneiro. Como o grupo do então governador perdeu as eleições e assumiu o Sr. Waldir Pires, (recentemente falecido), o diretor que me sucedeu deu um jeito de por fim à placa original, manchando o registro histórico, quando deveria ter mandado confeccionar uma nova placa, em substituição à original. Este fato foi criticado pela imprensa da época e vários questionamentos foram feitos. A Fundação Cultural e a Secretaria de Cultura, recém criada, na pessoa do Sr. José Carlos Capinan, faziam ‘ouvidos moucos’ aos protestos.
Voltando  à inauguração. 
Ricardo De Benedictis e seu filho Vinicius
Por questões de saúde do governador João Durval Carneiro, afastado temporariamente,  sua inauguração oficial teve de ser adiada, mas a Fundação Cultural do Estado da Bahia autorizou-me a iniciar os eventos, tendo a data 14 de setembro como o Norte, com a abertura do 3º FESTIVAL DE INVERNO DA BAHIA, cujo evento se prolongou até o final do mês de setembro de 1986.
Em julho de 1987, me exonerei, a pedido, dando lugar a Vicente Quadros Silva Filho, sucedido por Gildásio Leite. Em 1992 fui novamente nomeado, desta feita pelo então governador Antonio Carlos Magalhães, permanecendo no cargo de diretor até janeiro de 1993 quando assumi a direção do recém criado Departamento de Cultura, ex-Coordenação de Cultura, até então muito bem dirigida por Ricardo Telles. Na oportunidade, indiquei o ator e diretor Geraldo Moreira Brito (Geraldo Sol) para minha sucessão. Permaneci no Departamento de Cultura, levando meu filho Ricardinho Benedictis para o cargo de Chefe de Divisão Cultural, até dezembro de 1995, voltando ao cargo para suceder Giorlando Lima, deixando o embrião da Secretaria de Cultura, posteriomente criada no início do governo Guilherme Menezes e que teve nossa inspiração. Na minha saída do Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal, a pedido, indiquei para o Cargo o ativista Alberto Carlos Napoli, retornando à direção do Centro de Cultura, cargo no qual permaneci até janeiro de 1997, quando me exonerei a pedido.
Quem desejar consultar o calendário de eventos da Bahia, vai encontrar o Centro de Cultura Camilo de Jesus Lima como o equipamento número um em todo o Estado da Bahia. Neste período criamos o Conselho Regional de Cultura do Sudoeste e mais alguns espalhados pela Bahia, com a ajuda de Leonel da Costa Nunes (ator e diretor de teatro), incluindo Itabuna, Lauro de Freitas, Feira de Santana e outros. Criamos ou ajudamos a criar dezenas de Conselhos Municipais de Cultura na Bahia e realizamos o Censo Cultural da região, no final da década de 1990.
Nesta terça, estive presente à volta para funcionamento pleno do nosso Centro de Cultura ao qual doei parte da minha vida. Na oportunidade, tive o prazer de reencontrar velhos amigos e funcionários que comigo trabalharam, a exemplo de Filis Meireles, Abel, Zezinho e alguns outros, aos quais agradeço pela deferência e preocupação em atender seu ex-colega. Desejo todas as felicidades ao nosso Centro Cultural e a todos quantos deram tudo de si para que se mantivesse vivo!
Não necessito dizer que após nossa saída, houve um período em que o CCCJLima foi administrado pela UESB que também realizou um bom trabalho.
Outro fato a se registrar é que, quando da sua inauguração o CCCJL não era gradeado, a entrada era de chão batido e, visando evitar danos ao patrimônio público, conseguimos algumas reformas. Realizamos seu gradeamento, nomenclaturas dos espaços, conseguimos a doação de duas máquinas de projeção que estão expostas no foyer (que trouxe às minhas expensas quando do centenário do Cinema), revitalização do telhado e do madeiramento do foyer, instalamos salas para ballet, ligamos o esgoto para o esgoto geral da EMBASA, uma vez que o sistema era de fossa e calçamos toda a área da concha, além de termos realizado centenas de grandes eventos, duas bienais de Artes Plásticas, sete edições do FESTIVAL DE INVERO DA BAHIA, entre outros eventos de porte. Em outra oportunidade prometo detalhar mais algumas atividades, a exemplo de festas de São João abertas ao público, Exposição de Presépios de Natal e exposições artesanais, entre outras.