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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

RICARDO DE BENEDICTIS - CRÔNICA

EL DITADOR
Ricardo De Benedictis
Enfim, temos um novo Sancho Pança na América, copiado dos espanhóis e retratados na obra de Miguel Cervantes “Don Quixote de La Mancha”. A diferença é que Don Quixote era uma figura de ficção do autor espanhol, baseado na velha e conhecida teoria de que a Arte imita a Vida e vice-versa.
O Don Quixote de Cervantes, lutava contra moinhos de ventos, figuras e cavaleiros que sua mente doentia criava, enquanto o novo Quixote – Hugo Chávez, já falecido, lutou contra seu próprio povo, o venezuelano desarmado – que morre de fome ou é abatido pelo exército, desta feita comandado pelo novo Bolívar – Nicolás Maduro, ditador que era o segundo de Chávez, egresso do volante de ônibus e caminhões e, tal qual seu criador, afeito a bravatas e atos insanos.
Desta feita a Venezuela está imersa numa crise sem precedentes, levando ao êxodo alguns milhões de cidadãos perseguidos, presos, deportados, fugitivos do regime, refugiados com suas famílias pelo Continente Americano.
O pior. Não tem comida, a inflação chega a hum milhão por ano e até papel higiênico não se acha para comprar. Compra-se um pão com uma cesta de bolívares e o ditador ainda se dá ao luxo de mandar incendiar dois caminhões de suprimentos médicos e alimentos que lhe foram doados por países americanos. O prefeito de Santa Helena, na divisa do Brasil fez apelo internacional e, segundo ele, 25 venezuelanos foram mortos neste final de semana pelas forças de Maduro.
Enquanto isso, a ONU não se manifesta, quando já deveria ter criado um ‘corredor humanitário’ para que a ajuda internacional chegue à população desesperada. Onde vamos chegar?
É triste saber que os partidos que se dizem de ‘esquerda’ no Brasil apóiam os atos do ditador Maduro. Lembrando que Roraima, estado brasileiro que faz divisa com a Venezuela está com seus hospitais lotados de venezuelanos. Ninguém sabe onde esta crise vai dar.
Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, se auto-proclamou presidente em exercício do país vizinho.
Nesta segunda, o ‘grupo de Lima’ reúne-se em Bogotá, na Colômbia para tomar posição na situação. O Brasil, felizmente, defende a não intervenção armada. Vamos aguardar a marcha dos acontecimentos, mas de já, registramos nossa estupefação quanto à grave crise que aflige nossos irmãos venezuelanos.

sábado, 23 de fevereiro de 2019

JEREMIAS MACÁRIO - CRÔNICA


UM PAÍS ENLOUQUECIDO
Jeremias Macário  
 O que leva um vigilante de um supermercado deitar em cima de um rapaz numa ação de estrangulamento e sufocá-lo até a morte, enquanto pessoas, praticamente passivas, tiram fotos? Em outra imagem, o governador do Rio de Janeiro, de nome difícil, ao lado de um oficial da polícia, elogia a corporação, cujos soldados, pelo que ficou evidenciado através de testemunhas, praticaram uma execução sumária de um grupo de bandidos ou traficantes já rendidos numa casa.
Estamos diante de um país enlouquecido que banalizou a violência e vivencia o retrocesso primitivo, numa guerra de fuzis, metralhadoras e de ódio contra o pensamento contrário do outro. As tragédias com centenas e milhares de mortes se sucedem e depois o silêncio sepulta a impunidade. O quê leva tanta gente intolerante fanática religiosa atacar outra igreja e até espancar quem confessa outra crença? As igrejas conservadoras e reacionárias hoje estão nas periferias explorando os mais pobres e incultos.
Estamos sim, num país enlouquecido que perdeu sua identidade cultural, ou nunca teve, que vota com raiva, com interesses e para se vingar de outros seguidores opostos, mesmo que seja um candidato ignóbil, despreparado, do atraso e até nos mesmos corruptos de sempre.Diante de tantas loucuras e paradoxos, de baixos índices na educação, de corredores das mortes nos hospitais, de tantas misérias e profundas desigualdades sociais, lá se foi o futuro do distante infinito perdido do horizonte.
O quê leva um bando saquear uma carga de mercadorias, enquanto uma criatura se debate morrendo numa cabine de um caminhão, vítima de um acidente de trânsito, e ninguém aparece para socorrê-lo? Um homem desce porrada numa mulher numa volúpia animalesca até deixa-la sangrando e com o rosto e seus corpo desfigurados, quando não a mata com pauladas, tiros ou várias facadas.
É um país enlouquecido na República dos Generais, do porta voz ao estilo do maluco Trump, onde um ministro demitido bate-boca em público pelas redes sociais com o presidente, tratando-o o tempo todo como capitão. O vice, general Mourão, que amansou a fala (está mais para Morão de amarrar burros), queria lotear funcionários só para classificar documentos secretos e ultrassecretos. Da transparência para a censura e o sigilo.
Enlouquecido por uma reformada Previdência Social que ninguém entende seu intrincado labirinto de alíquotas, pedágios, pontos, transições, tetos e tantos outros cálculos novelescos nas narrativas cansativas e enfadonhas das emissoras de televisão, jornais e revistas, a não ser na simplificação entre as diferenças de idade mínima da mulher e do homem que sempre morre primeiro, mas tem que esperar mais tempo para receber o minguado benefício que não dá para comprar um pacote de remédio.
No pacote fatiado do anticrime que dá licença para o soldado matar, baseada na subjetividade da legítima defesa (já existe a falsificação de provas), a Câmara dos Deputados quer deletar o bandido do“Caixa 2” no rol da corrupção. O ministro da “Justiça” que criminalizava e condenava a prática, agora enlouqueceu, desdizendoo que pregava antes como corrupto quem usava deste artifício maligno de roubo do dinheiro público.
Estamos no país enlouquecido das meninas que vestem rosa e dos meninos que vestem azul. No país que não serve para criar meninas e que seus pais devem fugir desta “pátria amada” onde seus filhos não devem estudar fora de suas famílias. Não é mesmo um país enlouquecido? O nome do partido nazista era Nacional Socialismo, porque havia uma ameaça comunista. As lutas deviam ser contra as indústrias do ódio, do medo e das mentiras.
 Deu a louca no Planalto militarizado com tanto general batendo cabeça, ou continência, para o capitão-presidente que fez um pacto secreto, ou de sangue, com o exército. Nas trapalhadas com sinais de retrocesso e ameaça à democracia, lá vem um agrado mimoso à imprensa sempre vista como inimiga entre quatro paredes. A democracia tão maltratada, nunca foi tão bajulada ou falseada.
Estamos no país enlouquecido pelo carnaval desigual dos súditos apanhando em filas para montar uma barraca nos asfaltos “dos pipocas” e aplaudir os reis e rainhas nos camarotes e trios luxuosos enchendo seus sacos de dinheiro. País enlouquecido das multidões nas passeatas e desfiles dos sambas, dos evangélicos e dos LGBTs, e vazio nos protestos contra as injustiças da “Justiça” e as violações dos direitos humanos.
  Os contra os privilégios de ontem, hoje se agarram a eles pelo foro privilegiado para se esconderem em seus malfeitos e até suspender as investigações. O capitão diz que seu governo será desprovido de ideologia, mas condena a esquerda comunistas, e até oferece ajuda humanitária ao país vizinho estraçalhado pelo capitalismo imperialista. Os generais falampelo seu porta voz engravatado, com sua pose de humanitário e bom moço.  Como não existe ideologia? Barbaridade é o que estamos vendo e vivendo, pois o Brasil é quem precisa de ajuda humanaurgente aos seus milhões de famintos.
O que é trágico neste momento do país é que as fábricas do ódio, do medo e da mentira estão se transformando nas políticas públicas de educação, assim afirma o sociólogo Boaventura de Sousa Santos. Para ele, uma escola sem partido é uma escola de um partido único, da ideia de que só há um pensamento válido por aqueles que estão no poder. O sociólogo diz ainda que se a escola sem partido tiver futuro, o Brasil não tem futuro, isto é, vai se fechar num mundo anacrônico. É um atentado à democracia, da qual eles fazem questão de propalar de que ela é vital.

NANDO DA COSTA LIMA - CONTO

Era uma vez no Nordeste
 Nando da Costa Lima
Zeca Açougueiro viajou pro Rio de Janeiro à procura de uma mulher à sua altura. Todo mundo foi contra a ideia, tanta mulher bonita dando sopa aqui na Bahia. Mas, como era riquíssimo , ninguém ia contra. Tinha Maristela de Seu Leôncio, uma moça linda e prendada. Tá certo que tinha aquele problema com os dentes (era banguela), mas com o dinheiro que ele tinha, aquilo podia ser corrigido. Naquele tempo, ou o cidadão era banguelo ou usava chapa quando era mais remediado. Dentista formado era coisa rara. Dor de dente era um problemão, quando aparecia, só fazendo a extração… A meninada morria de medo, mas se você examinar as ferramentas de trabalho de um dentista no início do século XX, vai pensar que eram instrumentos de tortura da Idade Média. Apesar de que tinha gente com os dentes perfeitos e mandava arrancar tudo só pra usar chapa, era quase que uma moda. Um sorriso “portátil” era o sonho de muitos. Naquele tempo era difícil ter uma cabeceira que não tinha um copo d'água pra colocar a dentadura. O casal quando era romântico usava um copo pra guardar as duas. E eles achavam aquilo lindo. Noca da Farmácia deixou Mariana apaixonada depois que a convidou pra botar as dentaduras pra dormirem juntas. Foi a cantada mais fatal de que se tem notícia, a menina “gamou”!
Mas Zeca Açougueiro queria uma mulher moderna, por isso foi procurar no Rio de Janeiro, de preferência uma carioca legítima. Foram dias de viagem, naquele tempo nem a Rio Bahia estava toda asfaltada! Zeca era um homem com seus 50 anos, viúvo e tinha dois filhos já adultos. Só sabiam dirigir e comer, os gêmeos já estavam com quase trinta anos e agiam como adolescentes “passados”. E foram os três que fizeram a viagem pro Rio num Jipão. Só um dirigindo cansava muito e ele queria que a escolhida conhecesse a família logo, queria tudo às claras, não queria problemas futuros. Naquele tempo não tinha esse negócio de malhação, o máximo eram as aulas de ginástica duas vezes por semana no ginásio, eram as famosas aulas de educação física. “Malhação” era palavrão!
Lindonésia já tava beirando os cinquenta e cinco! Mas se cuidava, e ele já tinha explicado para os filhos que queria uma mulher madura mas consistente, como a Jurubeba Leão do Norte: boa em qualquer quarto de Lua. Zeca ficou pouco tempo no Rio de Janeiro. Estava com pressa, pois a fazenda tinha ficado na mão do vaqueiro. Não passou três dias, ele bateu os olhos na mulher ideal: era madura, elegante e com certeza era muito popular. Zeca a notou da janela do quarto do hotel Paris, ela não saía da esquina que ficava o semáforo, e ele ficou intrigado sem saber por que ela nunca atravessava. O sinal abria, fechava, e ela lá. Só quando alguém oferecia carona que ela não perdia tempo. Lindonésia era persistente, enquanto um carro não parava, ela não arredava o pé da “sinaleira”.
Da varanda do hotel, Zeca ficava encarando Lindonésia e fazendo planos para o futuro. Os filhos já estavam ficando retados com a prosa ruim daquele velho chato apaixonado. Ela já tinha cadeira cativa no coração do viúvo. Um dia, já doido de paixão, Zeca fez um bilhete de três páginas convidando-a para um jantar íntimo no hotel. Quando os rapazes chegaram acenando o bilhete, Lindonésia foi logo alertando: “Pra ficar com os dois é mais caro”. Eles não entenderam nada. Apesar de adultos, foram criados naquele fim de mundo. Só entregaram o bilhete à piranha. Ela começou a ler e perguntou se era alguma brincadeirinha. Quando leu direito o bilhete e percebeu que se tratava de um pedido de casamento e viu que os dois rapazes estavam esperando a resposta, concordou com tudo que foi posto e aceitou o convite para jantar. Chegou a ficar emocionada, já tinha descartado essa história de casamento. Mas agora era coisa séria, ela não podia perder aquele pretendente. Já tava ficando coroa, e pela foto enviada junto ao bilhete, ele não era de se jogar fora.
Zeca chorou quando os filhos falaram que ela ficou emocionada quando viu o retrato que ele enviou junto com o bilhete, quase desmaiou… No dia marcado, ele já foi encontrá-la na porta do hotel com um anel de noivado, um diamante enorme. Isso deixou Lindonésia ainda mais interessada, e ele entendeu que aquilo era amor à primeira vista. Na hora que foram para o restaurante, eles já estavam noivos. Ela até se fez de difícil, perguntou se os filhos dele não iriam achar ruim. Os rapazes se prontificaram a acalmá-la. E tudo correu “como nos conforme”, Lindonésia já saiu do hotel com o casamento marcado. Zeca tinha pressa, tinha encontrado o que procurava. Ela era o máximo! Não podia escutar tango que chorava, era muito sentimental. Não voltou ao velho ponto de guerra nem pra se despedir. Já tinha tomado raiva daquela sinaleira, a idade não a estava deixando trabalhar direito, a juventude da concorrência já tinha espantado os clientes. Estava ficando difícil, aquele viúvo rico tinha caído do céu! Quanto aos filhos, estes não iriam causar problema. No quinto dia dele no Rio, o casamento já estava marcado. Casou-se no cartório e deixou a cerimônia na igreja pra fazer em sua terra, e a noiva concordou prontamente. Ele voltou pra roça com os filhos e ela ficou no Rio arrumando o enxoval, tinha menos de um mês pra arrumar tudo, até o vestido de noiva, uma das exigências do marido. Ele ia matar muita gente de inveja quando aquela “loirona” entrasse na igreja toda de branco.
Quando ele deu a notícia na venda cheia de gente, já foi de propósito, queria esnobar, e pra fazer inveja pro pessoal, mostrou uma foto de Lindonésia só de maiô. O viajante Zé “Bico Doce” bateu o olho e foi logo falando: “Essa aí eu pego toda vez que vou pro Rio. Ela faz ponto debaixo da sinaleira do Hotel Paris, teve até uma vez que ela me empestiou de chato…”. Mal ele acabou de falar, Zeca Açougueiro passou a mão na “canela seca” pra tirar satisfação, aquilo era um absurdo! Bico Doce foi mais rápido e acertou Açougueiro. Quando os gêmeos escutaram o estampido, entraram correndo. Zé se sentiu intimidado e atirou nos dois. Foram três tiros fatais, uma tragédia. Bico Doce sumiu caatinga adentro. Era neto de cangaceiros, conhecia a terra na palma da mão e vivia na sombra da valentia do avô cangaceiro. Nem o cabo Josimar “Cabeleira” tinha coragem de ir atrás. Mas a coisa ficou mais triste quando Lindonésia chegou poucas horas depois da tragédia. Chegou pra enterrar o marido e os enteados. E na hora da missa de corpo presente, jurou que nunca mais tiraria o luto fechado. A viúva Lindonésia passou a ser um sinônimo de fidelidade e sinceridade nos quatro cantos da caatinga, teve um cantador de feira que fez uma embolada falando do amor interrompido. Usou o luto fechado até sua morte, como prometido… Mas só andava “à paisana” pra não perder tempo.
Viveu 86 anos e era famosa por ser a única fazendeira que tinha 9 vaqueiros, 6 jardineiros e 4 jagunços pra proteger o patrimônio e tocar o latifúndio pra frente. Uma mulher forte, não se sabe porque não entrou pra política. Talvez porque tinha aquela suspeita de que foi ela que contratou Zé Bico Doce pra dar um sumiço no marido…

sábado, 16 de fevereiro de 2019

NANDO DA COSTA LIMA - CONTO

Discrição e Luxo
 Nando da Costa Lima
Seu Praxedes da Kombi, como ficou conhecido, foi em São Paulo comprar uma kombi novinha. Achou uma no jeito, da cor que ele queria! Azul e branco, era uma lindeza! Lá mesmo ele mandou modificar o automóvel todo, queria dar um toque bem pessoal. Como ele gostava de discrição, a primeira providência foi mandar colocar cortina azul em todas as janelas do carro. Quando trouxe a kombi de “Sompaulo” pra sua terra, o povo fazia roda em toda cidade que passava pra apreciar o veículo. Ficou “luxo puro”. Foi o primeiro automóvel escritório familiar que muita gente viu: ele tirou os bancos traseiros e parafusou duas poltronas, uma de frente pra outra, e ainda montou uma mesinha de centro cheia de gavetas. O próprio Praxedes mandou colocar uma divisão de vidro que separava o motorista do passageiro, só abria a janelinha se o passageiro quisesse passar algum recado pro motorista. Só na viagem ele achou mais de vinte propostas de compra, sem falar nas mulheres: todas faziam questão de dar uma volta no escritório ambulante. Mas tudo no maior respeito! Como já foi dito, a kombi era um escritório familiar. Era o carro indicado para qualquer profissional que gostasse de discrição: médico, advogado, pai de santo, artista… Podia ser usado no trabalho e no lazer. Aquelas cortinas isolavam o cliente do mundo exterior, tinha cliente que só abria a cortina em cidade do porte de Jequié pra cima. Tinha muita gente metida a besta! Naquele tempo, então… Praxedes era sabido, não se esqueceu de comprar aquela mãozinha que dá adeus quando o carro está em movimento, era um sucesso.
Era solteiro, mas apesar de ser feio feito a porra, toda hora achava uma proposta. Mas sempre saiu de baixo. Para ele, o homem só podia casar depois que ficasse rico, e naquele momento ele estava focado na sua revolucionária kombi escritório. Era um sucesso, já tinha até gente querendo imitar. Mas igual à dele, ficava difícil naquele tempo em que conseguir uma ligação telefônica interurbana ou interestadual era problema. Praxedes tava ganhando tanto dinheiro que pensava até em aumentar a frota… Mas isto era plano pro futuro. Teve um cliente que ficou tão satisfeito que mandou um pintor escrever no parachoque da kombi, em dourado: “Luxo total e respeito”.
Só teve uma época que o sucesso do carro ficou um pouco abalado. Foi depois que as irmãs Rosemar e Rosicler, cartomantes da Zona da Mata, fretaram a kombi de Praxedes para uma viagem longa. Fecharam as cortinas assim que entraram e só abriram no final da viagem, nem desceram no Guigó. Aí os fuxiquentos das cidade que Seu Praxedes passou com as irmãs sentaram a língua… Os tarados falaram que ele tava pegando as duas. Outros rebatiam falando que Praxedes nem gostava da matéria. Mas que tava deixando um despacho em toda encruzilhada que passava, isto contribuiu para deixar o escritório em baixa. A “Luxo Total” ficou mais de um mês na garagem.... Mas logo o pessoal mais entendido viu que aquilo era conversa pra acabar com o negócio de Praxedes. Tava na cara: cartomante não coloca despacho, e o dono do carro não é nenhum Casanova, era feio pra porra e muito tímido. Mas o que importa é que o escritório cortinado voltou a ser utilizado. Agora só quem alugava era “dotô”, a urucubaca saiu de vez. Teve até uma dupla de “adevogados” que contrataram os serviços por tempo indeterminado. Foi a época em que Praxedes mais rodou, virou a Bahia e Minas de pernas pro ar. Conheceu a Lapa toda, só não foi nas capitais. Os “dotô” deviam ser famosos, eram chamados em todo canto. E eles não mediam esforços, era entrar em contato que rumavam para o lugar, não importava se era domingo ou feriado. Depois de um bom tempo, os dois “adevogados” pagaram Praxedes (muito bem, por sinal) e sumiram. Os clientes foram pra um lado e ele para outro, nunca mais se viram. Praxedes, que desde cedo mostrou ser um grande empreendedor, ficou rico no ramo de transporte de luxo em Brasília.
E foi na capital federal que aconteceu um desses casos raros de reencontro, uma grande coincidência. Depois de trinta e cinco anos, ele reconheceu os antigos clientes por acidente. É que Seu Praxedes, já casado e pai de vários filhos, resolveu visitar a igreja que a família frequentava. Por terem chegado tarde, ficaram nos últimos lugares, mas ele reconheceu a voz dos antigos clientes dando um testemunho. Eles agora já eram pastores há muito tempo, estavam dando aquele testemunho em comemoração aos 35 anos do dia em que Jesus os chamou para o lado Dele (segundo os pastores). Estavam contando justamente a história de quando fretaram uma kombi cortinada e ficaram mais de dois anos matando gente no eixo Bahia-Minas, ganharam muito dinheiro! Era só passar fogo na encomenda e entrar na kombi com as cortinas já fechadas. Foram 18 serviços em menos de três anos. Quando Seu Praxedes confirmou que eles estavam contando a história dele há 35 anos atrás, saiu de costas pra igreja, nunca mais passou nem na porta. E fez a esposa mudar de igreja naquela mesma semana, aquela era muito “pesada”, ele não tinha gostado da conversa daqueles dois pastores safados que ficaram ricos matando gente e depois entraram pra igreja pra ficar em paz com Deus…
“Ainda bem que eu só fiquei sabendo disso agora, o Senhor é testemunha de que sou inocente”. Será?!! É que a velha consciência sempre cobrava, como é que um homem passa quase três anos dirigindo pra dois pistoleiros profissionais e nunca notou nada errado? Aquelas duas pragas de paletó e gravata não saíram de sua mente pelo resto da vida. Ele não se perdoava por não ligar as coisas: aqueles dois sacanas nunca pararam na porta de um fórum ou de um cartório, e só atendiam à noite. Não dava nem pra contar pra alguém pra aliviar a depressão, como é que ele ia explicar que começou a fortuna dirigindo pra Etevaldo “Dedo Mole” e Anacleto “Todo Ruim”? Seria um suicídio social, ele já tinha até filha casada com gente influente no governo. Se a bancada do “alto luxo” ficasse sabendo do seu passado, Praxedes se lascava. com essa política de moralização, até os primos do sogro qualquer político têm que ter ficha-limpa. Era melhor ficar quieto.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

BIG BEN - CRÔNICA

Deus é a esperança em meio a tempestade!
BIG BEN
Quando você estiver passando por um tsunami de sofrimento e dor, à beira do abismo sepulcral, faltando-lhe as forças necessárias para se quer poder mover seus pulmões, fadigados pela longa e ininterrupta peregrinação pelos auspícios fugidios do tempo, lembre-se: "Deus é a esperança em meio a tempestade."

Quando o peso de sua existência for um fardo muito grande para você carregar, como o fardo de Atlas, o titã que sustenta o mundo nos ombros, e a labuta costumeira dos pobres mortais lhe parecer difícil demais, uma tarefa digna dos doze trabalhos de Hércules, lembre-se:
"O amor de Deus é um rio de vida para o mundo árido em que vivemos."

Quando as ilusões pueris do mundo atacar e contaminar o seu coração, deixando-o fraco e doente, maculado pelas fraquezas da natureza humana, como se um vírus o estivesse deformado, impregnando-o de ódio, rancor e ressentimento, lembre-se: "A misericórdia é o caminho para o coração do Senhor."

Quando a sua luz divina estiver se apagando e você se sentir cansado de vagar sem rumo, completamente nocauteado pelas intempéries da jornada, esperando apenas o apito final, as cortinas se fecharem, e o anjo da morte bater à sua porta e sacramentar o seu retorno à eternidade do amor, lembre-se: "O Espírito Santo é o sopro da boca do Pai que nos dá a vida."

Quando você se der conta de que tudo está dando errado na sua vida, que o mundo inteiro está trabalhando em favor de sua infelicidade, que até o seu amado cahorro Bob, o seu fiel companheiro de todas as horas, já não é mais o seu "amigo do peito", que sua rotina diária tornou-se no seu pior pesadelo, que tudo conspira contra. Alguma coisa está errada! Talvez você esteja rezando para o Deus errado? Lembre-se: "Deus não está no inferno, e sim nos ares sublimes do paraíso."

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

JEREMIAS MACÁRIO - CRÔNICA

E AS TRAGÉDIAS CONTINUAM CEIFANDO
                   VIDAS NO EMBALO DA IMPUNIDADE
Jeremias Macário
 Imagine mais de 300 vítimas agonizando num vale de lamas de minérios! Imagine jovens adolescentes sufocados pelo fogo e por uma nuvem de fumaça tóxica, numa luta de segundos, tentando salvar suas vidas!  Instantaneamente, as notícias de terror cobrem todo país deixando milhões em estado de choque. Em total desespero, os familiares choram seus mortos. Muitos desmaiam e um vazio se abate na alma que se dilacera em dordas mais profundas.
Em tempo simultâneo, imagine a mídia lhe entupindo de informações e explicações as mais diversas durante semanas! Depois vem o silêncio e outra tragédia anunciada lhe acorda repetindo a mesma agonia e sofrimento. Agora imagine o mais decepcionante, frustrante e revoltante de tudo isso! Imagine que os evidentes responsáveis de todas elas (as tragédias) nunca foram verdadeiramente punidos! Só multas que quase sempre não são pagas.
Se este país fosse sério, o presidente do Flamengo, Rodolfo Londim e sua diretoria já estariam na cadeia, a começar pelo seu desprezo ao se retirar dos “depoimentos” fajutos quando os jornalistas se propõem argui-lo com perguntas sobre as irregularidades no barracão do clube. O prefeito e seus fiscais deveriam também ser severamente punidos porque não interditaram o centro de treinamento e o “alojamento” improvisado de uma porta.
  A lei é só usada para interditar bares, restaurantes pequenos, lojinhas, barracas e escorraçar ambulantes nas ruas. Não é para os grandes, quanto mais para um time que tem a maior torcida do Brasil. Como amar uma pátria tão desigual que maltrata e assassina em massa seus filhos? Como ter orgulho de uma nação onde as tragédias ceifam vidas e terminam em arquivos mortos, sem a prisão dos culpados?
Pouco antes de ser vítima de um desastre no ar, o jornalista Ricardo Boechat comentava que esta rede de tragédias tem seu respaldo na impunidade. Não falou nada de inédito que ninguém não já tenha consciência disso, mas sua voz tem peso. Só não foi ouvida pelos torcedores e as famílias dos jovens que não protestaram como fazem no futebol quando os resultados são negativos. Quando isso ocorre, brigam e até se matam nos estádios e nas ruas.
  Estão agora preocupados com o Fla x Flu de quinta-feira. Ai, todos se posicionam em silêncio hipócrita e falso para homenagear os mortos e fazer suas condolências. Sobre o acontecimento que poderia ter sido evitado, ouvi nesta semana um torcedor simplesmente dizer que essas coisas ocorrem. É por isso que as tragédias não param.
 O mesmo pode ser aplicado com relação ao rompimento da Barragem do Feijão, em Brumadinho. Você passa o tempo escutando o barulho de uma lama de explicações e nada de punição. Nos primeiros dias, fazem vistorias, fiscalizações e prometem rigor no acompanhamento. Muitos já se esqueceram da Boate Kiss e nem se fala mais em inspeções e fechamento de boates por estarem funcionando de forma irregular.

sábado, 9 de fevereiro de 2019

NANDO DA COSTA LIMA - CONTO

Naquele tempo também tinha fake news

 Nando da Costa Lima 
            O sol estava lascando, não tinha nada verde… Mesmo assim Ariel do Jornal não deixou de arrear a mula naquele sol de meio dia da caatinga. Ele era um homem que fazia de tudo pra ser o primeiro a dar notícias através de seu semanário que era lido em várias cidades vizinhas. Tinha o pessoal do contra que falava que só quem lia “aquela merda” eram os parentes. Mas ele não se abalava com as críticas, não seriam aqueles analfabetos que iriam lhe deixar pra baixo. Ele exercia a profissão de jornalista a duras penas, naquele tempo tinha que ser médico ou advogado (mais ou menos como é hoje). Dessa vez ele estava até sem graça pra fazer aquela entrevista tão invasiva com um homem que ele tinha como pai. Mas como ele mesmo disse para a mãe:
— São os ossos do ofício, é melhor eu dar a notícia pro padrinho. Se deixar o pessoal da capital vai levar na brincadeira, a senhora sabe que depois que madrinha Maristele fugiu ele ficou meio variado. 
— Você devia deixar isso pra lá, meu filho. Esse negócio de jornalismo nunca te deu nada… E eu que passei cinco anos lavando roupa pensando que ia receber um dotô, é verdade!
— Peraí, mainha. Não precisa esculhambar tanto, já basta os invejosos.
            Quando o jornalista Ariel chegou na casa do seu padrinho Virginildo do Brejão, tentou logo despistar, o homem não podia notar que ele estava querendo uma entrevista.
— Como é que está Anabelina, minha prima…
— Escuta aqui, Ariel. Você está aqui como meu afilhado, filho do finado Hermoge, ou é coisa de jornalista safado querendo inventar história pra vender jornal? Todo mundo já sabe que sua prima emprenhou não se sabe de quem. Foi tanto rapaz que fugiu pra Sompaulo que nem ela sabe quem era o pai. Se é sobre isso que você quer escrever, tá perdendo seu tempo, é melhor ir embora. Fale com a senhora sua mãe que eu estou mandando esses abacates e vê se some. E tira essa doideira de jornalismo da cabeça, para com essa bobagem de querer saber tudo. Pega uma enxada e planta pelo menos uma quadra de mandioca.
— O padrinho tá me achando com cara de porteiro de xoxota? Eu tô lá querendo saber pra quem a prima deu. O senhor tá muito enganado, eu tô aqui pra propor ao senhor uma entrevista que pode até virar filme. O senhor é o cara!
— Mas eu vou virar filme por que? Eu nunca fiz nada de diferente na minha vida. Eu sou um homem de rotina.
— Ué, padrinho. E aquelas três semanas que o senhor passou na casa do rezador Pai Pedronildo Reza Braba? Parece que ele deu um jeito, o senhor ficou bonzinho. Só não sei o que o senhor tinha, eu era muito pequeno.
— E por que você vem com essa história agora? Por que não perguntou a sua mãe? Ela foi na comitiva.
— Eu tô falando isso porque aquele homem que curou o senhor tá preso.
— Por que? O homem era tido como santo, já curou tanta gente, eu sou uma prova viva. Por que foi mesmo que prenderam ele? Atropelou alguém? Ficou sem pagar pensão?
— Eu sabia que o senhor não tinha conhecimento da história do rezador. Ele tá lascado, padrinho. Tem mais de dez processos contra ele, todo mundo fazendo a mesma queixa. Era só se consultar com o rezador que ele tentava abusar.
— Abusar como, afilhado? Tá doido!
— Não, padrinho. Eu só estou aqui pro senhor me explicar como foi esse tratamento. Todo mundo que fez saiu falando que era só ficar de costas pra Pedrão Rezador que ele tentava abusar…
— Vai tomar no rabo, Ariel. Tá pensando que meu revólver não mata afilhado? Cê acha que eu ia deixar algum pirobo com a mão boba me atacar? Tá com vontade de tomar um tiro nas fuça?
— Calma, padrinho. Eu só disse isso porque mãe falou que o senhor ficou internado uma semana na roça de Pai Pedronildo. Ele já virou até piada, o pessoal da venda tá falando que ele recebe o caboclo “Pega na ré”.
— Fiquei mesmo. Meu corpo tava muito carregado e ele mandou eu lascar um caminhão de lenha pra aliviar, espírito ruim não para no ombro de trabalhador. A operação mesmo, não durou uma hora praquele santo me curar da enxaqueca crônica. Eu não senti nada na hora, mas como o próprio Pedrão falou, todo mundo que operava com ele ficava sofrendo de hemorroida, mas que o tempo curava. Sua mãe sabe de tudo, ela também se tratou.
            Aí o afilhado jornalista, que era daqueles que preferia perder o amigo a deixar a notícia passar, comentou:
— Tá bom, padrinho. Eu vou contar a sua história com o sobrenatural de uma maneira bem comovente. Todo mundo vai ficar sabendo que o senhor foi o único cliente que o rezador Pedronildo “Pega na ré” não abusou, só tentou! E que o senhor está disposto a fazer o teste da farinha pra provar…
— Pois então você pega sua mãe e leva pra fazer esse teste. Onde é que tá o respeito, seu filho duma égua?
            Aí seu Virginildo do Brejão perdeu as estribeiras. Ficou tão retado que passou a mão numa tranca da porta e deu uma surra no afilhado, só não matou porque pegava mal sujar a ficha por causa dum porra daquele. Nem doutor o sacana era. Repórter!
            Quando Ariel saiu da casa do padrinho, tava todo quebrado… Mesmo assim, não perdeu a pose. Colocou a camisa pra dentro, desamassou o chapéu e ajeitou o nó da gravata antes de montar na mula. Ele não escreveu nada contra o padrinho, fez questão de estampar na primeira página do jornal especial de domingo: Virginildo do Brejão, meu padrinho, e dona Eleutéria, minha mãe, foram os únicos pacientes que não foram abusados pelo curador Pedrão, vulgo “Pega na ré”. Coisa de jornalismo....

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

BIG BEN - CRÔNICA

A arte de destruir
BIG BEN
Essa criatura é tão arrogante que se auto intitula de conquistador soberano do planeta Terra. A bem da verdade e da justiça, analisando os anais da história da civilização humana, constatamos que o homem tem se comportado como um grande exterminador, cruel e traiçoeiro. Quando o assunto é destruição, nenhum outro animal faz frente a este matador profissional.

Por que o humano tem tanta necessidade de destruir?  Indiscutivelmente, essa característica, é a marca registrada da nossa espécie. Como padrão da arte de destruir, o Império Romano jamais foi suplantado. A sua estratégia derradeira era sepultar de vez o legado dos seus adversários. Uma nação sem legado não existe. A morte física é temporal. A destruição da herança cultural, social, política e religiosa de um povo, é fatal para a sua sobrevivência. A morte do pensamento é uma sentença definitiva, a partir daí, não resta mais nada, só o vazio, o "nada".

O Império Romano não morreu! A sua missão foi cumprida! A sociedade contemporânea tem a sua cara, o seu intelecto e a sua alma. Mais uma vez, a espada da intolerância deixou a sua marca.

sábado, 2 de fevereiro de 2019

NANDO DA COSTA LIMA - CONTO

DOS ALICERCES

Nando da Costa Lima
Quando digo que nossa história é sublime, é “noves fora” este fato…
O encontro seria na venda de dona Maroca, era lá que ficava se sabendo de tudo que ocorria no vilarejo há pouco fundado. Tava um frio de lascar o cano, e a maioria dos fazendeiros estavam irritados com o sumiço das criações (galinha, bode, boi etc.), isso sem falar nas roças de milho e feijão. É que os índios que sobraram do combate na batalha e que ficaram morando nas redondezas da vila, quando não achavam caça fácil, se apoderavam dos animais pra não passarem fome. Só que isso irritou os donos de terra, naquela reunião eles achariam um jeito de dar um basta naquela situação.
As pessoas de maior influência na recém fundada vila estariam presentes. A maioria queria resolver a situação na força, mas um dos fazendeiros foi mais astucioso e convenceu os demais que era melhor eles se aproximarem dos índios que restaram para fazer uma suposta “amizade”, e depois que conseguissem a confiança dos selvícolas, convidariam-os para um banquete saudando a convivência pacífica entre os dois povos. A brilhante ideia chegou a ser aplaudida. As mulheres, principalmente, acharam que seria a forma mais exata, o convívio pacífico tornaria as coisas mais fáceis e, afinal, os verdadeiros donos das terras eram os índios. Só que o fazendeiro só contou o primeiro tempo do plano. Ele esperou as senhoras se retirarem e, com ar de general, explicou para os demais que ficaram pra escutar a segunda parte.  Aristarco Armagedônio era responsável pela segurança da vila… um tipo de delegado! A única coisa que sabia fazer era atirar bem. Esse episódio foi anos depois que os índios foram mortos ou expulsos do planalto. Os invasores se acostumaram com os que insistiram em ficar, uns até se tornaram cativos… Os mais arredios viviam nas matas, eram esses que às vezes davam trabalho. Por isso Armagedônio bolou esse plano pra deixar ele bem com pessoal. Ia poder passar o resto da vida sem fazer nada. Se tornaria o guardião oficial da vila.
— É o seguinte, nós sabemos que esses índios são como bicho. Acho que nem alma têm, tanto é que quando alguém abate um se refere como “uma peça”. Esses dias mesmo compadre Zé matou 3 peças, dois machos e uma fêmea. Pegou o “filhote”, pra comadre criar, mas pelo trabalho que tá dando… Não sei não! Então, meus amigos, meu plano é fazer uma mesa bem grande no centro da praça e encher de todo tipo de comida e muita cachaça. Vamos convidar todos os índios que sobraram nas redondezas pra participar desse banquete, eles vão pensar que vamos celebrar a paz entre nós e eles.
— Mas seu Armagedônio, e se alguém comer essas coisas envenenadas?
— É por isso que eu tô avisando, vocês têm que pegar as mulheres e as crianças e mandarem pras fazendas no dia do “banquete”.
— E o senhor acha que elas vão preparar a festa e deixar de participar?
— É só falar com padre pra rezar uma missa no campo em homenagem aos índios, e que pra isso seria necessária a presença das crianças e das mulheres pra dar mais força às orações. Se alguma reclamar, o marido resolve.
— É, seu Armagedônio. Pelo visto o senhor já tá com tudo programado na cabeça. Mas tem um problema: os índios que não comerem nem beberem não vão morrer envenenados.
— Por isso que as papo amarelo devem estar carregadas. Quem sobrar, nós cercamos e sentamos fogo. Não é pra ficar um, nem pra inspirar poeta!
E foi assim que pararam de sumir as criações dos fazendeiros e a vila recomeçou a “prosperar”. Mas é assim mesmo… Toda história tem manchas. E os índios foram enterrados no local onde foram abatidos… “Não podemos julgar os homens sem ter vivido sua época”. Essa frase livra a cara de muita coisa errada… História, estória, dá no mesmo! Há quem diga que foi genocídio, mas só um historiador pra explicar. Eu só sei que sete dias depois do extermínio, o vigário rezou uma missa no local do ocorrido. Não sei pra quê! Tem até quem defende que as ossadas dos índios mortos serviram como alicerce para a igreja… Vê se pode uma coisa dessas, falta de respeito com Nossa Senhora das Vitórias.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

JEREMIAS MACÁRIO - ARTIGO

BAGUNÇAS NOS ENDEREÇOS, BAIRROS
                  E LOTEAMENTOS GERAM CONFUSÃO
Jeremias Macário  
Só para se ter uma ideia, na rua onde eu moro existem quatro CEPs diferentes e muitos chamam de Jardim Guanabara (não se sabe se é bairro ou loteamento), outros dizem ser Filipinas e até aparece Jatobá. A rua é nominada de “G”, mas também aparece Veríssimo Ferraz de Melo em algumas correspondências. O próprio Google e outros sites estão com suas informações desatualizadas e desencontradas.
É uma tremenda confusão quando se vai fazer um cadastro ou um contrato num órgão ou empresa e se pede o CEP e o comprovante de endereço. Não se sabe qual documento está com as indicações corretas. Problema maior ainda é com as numerações que se misturam entre pares e ímpares. Procurar uma casa é uma dor de cabeça, e tem gente que desiste. Nem o morador consegue informar quando algum desconhecido tenta procurar uma pessoa pelo “endereço”.
  Esta situação não é somente onde eu resido, mas ocorre em quase toda a cidade, principalmente nos últimos vinte anos para cá com a expansão de construções nos espaços ocupados nas zonas leste, norte e sul. Não existem demarcações e ordenamentos corretos do que é bairro e loteamento e cada um vai colocando nomes e numerações das suas ruas. Existem centenas de nomes de logradouros em Conquista que não constam nos anais da Câmara e da Prefeitura. Constatei isso há muitos anos quando fiz uma pesquisa para o meu livro “Uma Conquista Cassada”.
Para os Correios é um trabalho hercúleo encontrar um endereço para a entrega de um documento ou encomenda. Nesta semana, por exemplo, um pedido meu por pouco não foi devolvido porque a empresa remetente colocou Filipinas. Estive lá na sede no final da tarde para pegar o objeto e muitas pessoas estavam passando pelo mesmo problema. Tivemos que esperar por mais de uma hora para o carteiro chegar da rua. A resposta era a mesma de endereçamento incorreto.
 ORDENAMENTO E REVISÃO DO PLANO DIRETOR
  Vitória da Conquista cresceu nos últimos 25 anos além do previsto, de forma desordenada, sem o acompanhamento da infraestrutura no mesmo ritmo, dai as crescentes irregularidades além das existentes quando a cidade era de porte pequeno a médio. Sem um ordenamento criterioso do solo, a grande maioria das construções das casas, mais de 80%, está em estado irregular. Diante da burocracia e do alto custo, as residências não passam de terrenos e uns vão vendendo para os outros na mesma situação e o IPTU é cobrado como se fosse casa com instalação de água e luz.
  Depois de muitos anos, somente agora a Câmara de Vereadores está anunciando a discussão de uma revisão do Plano Diretor, já caduco para o tamanho da cidade, a terceira maior do estado, considerada de capital do sudoeste da Bahia. O trabalho não é fácil e exige muito esforço por parte do legislativo e de toda sociedade. Se o projeto for aprovado por esta gestão parlamentar, com certeza será de grande feito histórico em benefício de Conquista.
  Os 21 edis, que no início do império romano, lá pelos séculos VI e V a. C., eles já tinham a função de supervisionar as ruas e edifícios da cidade, precisam se concentrar nesta legislatura de mais dois anos na feitura de um novo Plano Diretor, para dar uma cara nova ao ordenamento do solo, com leis mais rígidas no âmbito da construção, preservando o meio ambiente. Conquista tem tudo para ser uma cidade ecológica, mais planejada, mais urbanizada e mais humana.
  Da forma como está, virou uma bagunça porque hoje existem estabelecimentos comerciais e de serviços em locais inadequados, como casas de eventos, de festas e boates em áreas residenciais, faculdades, prédios e até hospitais em ruas já congestionadas onde não há mais espaços para carros. Há necessidade também de proceder à facilitação de titularidades às habitações irregulares que são milhares, e impedir a edificação de outras em locais impróprios.
  Há pouco tempo fiz um comentário aqui sobre a falta de opção de lazer em Conquista nos finais de semana, sendo que existe um grande potencial a ser explorado, como a Serra do Periperi, Lagoa das Bateias (entregue aos esgotos), o Poço Escuro e o Parque de Exposição Agropecuária, subutilizado durante todo o ano.
Coincidência ou não, o fato positivo foi que a Polícia Militar, numa parceria com a Prefeitura Municipal, criou e inaugurou no último domingo o Por do Sol no Alto do Cristo de Mário Cravo onde milhares de pessoas compareceram para apreciar as belezas do local. Com segurança, é um passeio relaxante para as famílias, jovens, crianças e idosos.
  Além disso, sugeri implantar na Serra diversas trilhas passando pelo Cetras (centro de tratamento de animais silvestres), pelo Cristo, seguindo até o Poço Escuro. Em parceria com o setor privado, na base de uma PPP, falei da possibilidade de instalar um teleférico do Cristo ao centro da cidade, bem como requalificar a Lagoa das Bateias e tornar o Parque de Exposições uma área de lazer e diversão nos finais de semana.

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