AS CURIOSIDADES DO MUNDO GREGO
COM SUAS FILOSOFIAS E SABEDORIAS (parte II)
Jeremias Macário
Como diz o próprio título, registramos as principais curiosidades do mundo grego, extraídas do livro do autor Indro Montanelli, em prosseguimento ao comentário passado. Aproveite a leitura.
Como diz o próprio título, registramos as principais curiosidades do mundo grego, extraídas do livro do autor Indro Montanelli, em prosseguimento ao comentário passado. Aproveite a leitura.
TALES – Os fundadores
de Mileto eram guerreiros da guerra de Tróia que se perderam no naufrágio,
inclusive o Ulisses. Como fugitivos usaram o método de matar todos os homens e
casar com as viúvas de sangue orientais, bastantes bonitas.
Lá pelos idos de mil a.C., Mileto já era a
cidade mais rica e evoluída do Mar Egeu. Seu governo começou com reis, passou
para a aristocracia e depois a democracia. Ali foi fundada a primeira escola
filosófica grega por Tales, nascido em 640, de uma família fenícia. Vivia
distraído imerso em seus pensamentos.
Tido como um nada, mas
conhecedor de astronomia, o rapaz pediu dinheiro ao pai e comprou todos os
lugares de azeite de oliveira da ilha. Era inverno e os preços estavam baixos,
mas previra um bom ano para a colheita. Seus cálculos deram certo e, no ano
seguinte, como monopolista, pôde impor os preços e ganhar muito dinheiro.
Em sua viagem para o
Egito colocou em prática seus conhecimentos de matemática, calculando, pela
primeira vez, a altura das pirâmides. Fez a proporção, medindo a sombra sobre a
areia no momento em que ele mesmo projetava uma sombra do tamanho do corpo.
Com seus teoremas, bem
antes de Euclides, julgou que a terra fosse um disco flutuante sobre
interminável extensão de água, personificada no Oceano. Imaginou a vida como
alma imortal, cujas partículas se encarnavam numa planta, num animal ou num
mineral. As que morriam seriam apenas momentâneas encarnações.
Ele procurava ensinar a
maneira correta de raciocinar, mas não se incomodava quando não o compreendiam
ou riam dele. Foi incluído na lista dos Sete Sábios, ao lado do legislador
Sólon.
Quando lhe perguntaram qual a coisa mais
difícil para um homem, respondeu “conhecer-se a si mesmo”. Sobre Deus: Aquilo
que não começa e que não acaba. Sobre o que consiste a justiça para um homem
virtuoso, afirmou que não fazer aos outros o que não queremos que nos seja
feito.
Deixou como discípulo
Anaximandro. Em 546, Ciro anexou a ilha ao império persa e a cultura grega
entrou em agonia. Para Tales, as culturas e os impérios são apenas formas
passageiras da alma imortal.
HERÁCLITO – Outro
centro da cultura grega no sexto século foi Éfeso, com seu templo de Artêmis e
seus poetas, com destaque para o esquisito Calino, tanto quanto o Heráclito, o
Obscuro, pertencente a uma família nobre.
Como um São Francisco
de Assis, deixou toda riqueza, ambições, posições sociais e retirou-se para uma
montanha, vivendo o resto da vida como eremita, à procura da ideia que regula
todas as coisas, em todas as ocasiões. Sustentava que a humanidade era um
animal irremediavelmente hipócrita, estúpido e cruel, ao qual não valia a pena
ensinar coisa alguma.
Defendeu o eterno
transformismo do gasoso para o líquido, deste para o sólido, e vice-versa. É a
única verdadeira realidade da vida. Nada é e tudo se torna. Existe o dia porque
existe a noite, na qual se transforma. Vida e morte, bem e mal, são as mesmas
coisas. Para ele, o alternar dos opostos (frio e calor, branco e preto, etc)
cria a vida e lhe dá significado. Como nos nossos tempos atuais, a vida, dizia
ele, é uma eterna luta de oposições entre homens, sexos, classes, nações e
ideias.
Deus não existe. Suas
estátuas são apenas pedaços de pedra com as quais é inútil entabular conversa.
Sacrificar animal é perda de tempo. O verdadeiro sábio vê no mundo uma Razão,
isto é, uma Lógica. A luta é a mãe da própria vida. Ela fez do vencedor um
patrão, e do vencido um escravo.
SAFO – Como Alceu,
mestre na poesia, Safo foi expulsa da ilha de Lesbos por incomodar o ditador
Pítaco. Os dois foram companheiros de exílio em Pirra. De família nobre,
nascida por volta de 612 a.C., suas ambições
foram mais de caráter feminino. Possuía o que hoje se chama de
sex-appeal.
De volta à sua terra, foi novamente expulsa,
e dai se estabeleceu de vez na Sicília onde casou-se com um rico industrial.
Ficou viúva e retornou a Lesbos muito rica e no luxo. Criou um colégio só para
meninas. Diz-se que já com certa idade, perdeu a cabeça por um marinheiro. Como
não teve o amor correspondido, suicidou-se. Num trecho de seus poemas escreveu
que, “Irremediavelmente, como a noite estrelada segue o ocaso rosado, a morte
segue todo o ser vivo e por fim o alcança”. A Igreja condenou ao fogo sua obra,
reunida em nove volumes. Foi uma das maiores poetas do século VI a.C.
LICURGO – Legislador
espartano, não se sabe muito bem a data certa de sua existência, entre
novecentos a seiscentos a.C. Dizem que trouxe de Creta o modelo de sua famosa
Constituição. Para que todos a aceitassem, contou que fora o próprio oráculo de
Delfos quem a sugerira em nome dos deuses.
Conta a história que,
diante de suas leis severas, numa discussão, o jovem Alcandro atirou uma pedra
em seu olho. Para livrar o culpado da fúria dos presentes, Licurgo o chamou
para jantar em sua casa onde, entre uma compressa e outra no olho, explicou ao
agressor por que tencionava dar leis duras para Esparta. Alcandro tornou-se
propagandista de suas ideias.
Sua máxima era o desprezo da comodidade e do
prazer. Obrigou seus concidadãos a manter suas leis em vigor, pelo menos
enquanto estivesse em Delfos. Fechou-se num templo onde se deixou morrer de
fome. Assim, as leis nunca foram revogadas e se tornaram costume.
Entre as determinações, os reis deviam formar
dupla no trono para que um vigiasse o outro. O Senado era composto de 28
membros, todos de mais de 60 anos. Quando um morria, os candidatos a vaga
desfilavam num pátio. O mais aplaudido era eleito. Abaixo do Senado havia a
Assembleia, Câmara dos Deputados.
Destacava-se em Esparta
a disciplina militar. Nesse regime de regras onde os cidadãos eram súditos, uma
junta governativa examinava os recém-nascidos. Os aleijados eram lançados de um
pico de Taígeto. Os outros eram obrigados a dormir ao relento. Só os mais
robustos sobreviviam.
O cidadão tinha liberdade para casar com
qualquer mulher, mas se não fosse apta à reprodução, o marido pagava multa.
Esse mesmo marido era obrigado a tolerar a infidelidade se a adúltera cometia o
ato com um homem mais alto e mais forte do que ele. Para Licurgo, o ciúme era
ridículo e imoral.
O espartano vivia militarmente em tendas ou
em barracas até aos 30 anos, sem conhecer cama ou outras comodidades de casa.
Lavava-se pouco e devia prover a alimentação por si mesmo, roubando, mas sem
ser descoberto. Caso contrário, era duramente castigado.
SÓLON – Legislador
ateniense. Segundo a tradição, de volta das façanhas do Minotauro, o rei Teseu
unificou as aldeias da Ática numa só cidade, Atenas era uma mistura de aqueus e
jônicos. Com a morte do rei Codro,os atenienses aboliram a monarquia e
proclamaram a república, dando poder a um presidente (arconte) por dez anos.
Depois dividiram as atribuições entre nove arcontes, eleitos por um ano.
Na Constituição,
dominava uma aristocracia hereditária, a dos eupátridas (bem nascidos). A
população era dividida em três grupos: Os que possuíam um cavalo podiam se
alistar no exército; os que tinham uma junta de bois formavam as tropas de
carroças; os assalariados constituíam a infantaria. Só os dois primeiros eram
cidadãos. O sistema feudal restringiu a riqueza nas mãos de poucos. Drácon
procurou remediar a situação com mais severidade, mas suas leis não mudavam
nada. Todo poder ficava nas mãos do Senado.
Sólon era nobre de
sangue real e se dizia descendente do deus Posídon. Era visto como filhinho de
papai do tipo playboy mimado. Mesmo assim, se candidatou à eleição para arconte
epônimo que redigia o calendário. Viam nele um reformulador social. Depois de
eleito, aboliu a escravidão.
Sua grande revolução
foi dividir a população de acordo com o recenseamento. Todos os cidadãos eram
livres e sujeitos às mesmas leis. O privilégio era medido pelos serviços
prestados à coletividade.
Ao contrário de
Licurgo, fixou pequena multa contra quem seduzisse a mulher alheia. Negou-se a
castigar os celibatários, dizendo: Porque, somando tudo, uma mulher é um bom
aborrecimento. Quando lhe perguntaram em que consistia a ordem, respondeu: Em
os povos obedecerem aos governantes e os governantes obedecerem as leis. Foi
inscrito na lista dos Sete Sábios.
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