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sábado, 3 de outubro de 2020

NANDO DA COSTA LIMA - CRÔNICA

 

"Dotô Miranda”



 

       Santo não, também nem combina... “São Miranda” fica parecendo marca de conhaque barato. Mas que “Dotô Miranda” era gente finíssima, isto ninguém pode negar. Se fosse pra dar nota de zero a dez, até os inimigos dariam nove e meio.

       Miranda nasceu em Irará, em 1920, ano em que seu pai inventou a Jurubeba Leão do Norte. Mas “João Grosso do Feijão”, o menino que fazia cara feia quando sentia falta de feijão na mesa, não puxou o pai nas aptidões. Ele nasceu pra ser médico! Foi essa sua fixação pela medicina que o levou à formatura em 1947. Ele sempre foi estudioso, quando fez vestibular passou em segundo lugar. E olha que a primeira colocação foi dada ao filho do reitor! Quarenta e sete foi um ano decisivo na vida do Dr. , neste ano ele selou seu compromisso com suas duas grandes paixões... Maria e a Medicina entraram definitivamente em sua vida no mesmo dia. Depois das festas, Miranda partiu pra vida com Maria debaixo de um braço e o canudo do outro, foi pra bem longe..., foi parar em Ibicuí. Ali o Dr. passou dez anos, dez lindos anos exercendo a medicina de uma maneira quase que artesanal. Lá ele fez de tudo..., teve uma vez que um jegue arrancou com os dentes a orelha de uma moça, deu duas mastigadas e jogou fora. O Dr. não perdeu tempo, pegou a orelha, desinfetou, remendou e devolveu ao seu lugar de origem. Ele nunca entendeu como aquilo deu certo! Foi num tempo distante, na época ele viajava em lombo de burro pra atender os pacientes que moravam nas fazendas vizinhas à cidade. Um tempo em que a boa vontade do homem superava o conhecimento médico.

       O Dr. veio pra Conquista em 58, os meninos precisavam ser criados num lugar mais desenvolvido e ele e Maria ainda eram muito jovens para ficarem tão isolados. Fizeram daqui sua terra natal, apaixonaram-se pela terra do frio. E o Dr. mais uma vez cativou a cidade se tornando respeitado como médico e como homem. Aqui seus filhos cresceram e alguns até partiram... Mas o Dr. mostrou aos que ficaram que a vida sempre continua..., e Dona Maria nos fez ver que a morte é apenas um passeio mais demorado...

       Miranda e Maria já partiram para outro plano... Mas tenho certeza de que continuam juntos. Eles sempre estiveram unidos nos momentos mais difíceis. Foi este amor que deu forças pra eles, pós-graduados na arte de sobreviver, continuarem insistindo em dançar a eterna valsa da vida... Ademais, lá em casa ninguém morre, lá em casa a gente foge ou se muda de lugar.

       Santo não... Santo nem combina! Miranda e Maria são anjos...,  os anjos são bem mais poéticos...

                                                                                   Nando da Costa Lima

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