ENTARDECÊNCIAS
Antônio Carlos Affonso dos Santos – ACAS
São Paulo (Brasil)
(colaborador do Memórias...e outras coisas)
Às
vezes, sinto-me como que existisse somente eu e a minha solidão; gosto
de falar comigo mesmo! Às vezes, concordo comigo; noutras, creio ser
coisa de doido falar sozinho! Reconheço que, como escritor, tenho minha
mente aberta e alerta; sempre! Assim, sendo, não falo comigo mesmo, mas
com a minha cabeça! E uma coisa é muito diferente da outra. Fica a
pergunta, que um amigo meu sempre me dizia: - o que seria de mim sem eu?
Faço também conjecturas de que como estariam, nos dias atuais, meus antigos amigos de infância e da adolescência! Como estarão, se vivos estiverem, o Ném, o Tu, o Manézinho, o Pila, o Ditinho do Retiro, o Chicão, o Mané Barrinha, o Ivo, o João Tinoco, o Hernani, o Noacir, o Tarcísio, e etc.?
Dentro em breve completarei 80 anos de idade; embora fisicamente esteja “rateando”, mentalmente estou com idade de mais ou menos 40 anos; ainda tenho boa cognição e raciocínio audaz. Sei que as pessoas com as quais convivi, em meu tempo de menino caipira, ou já partiram desse mundo, ou estariam, mais ou menos como eu estou.
Mas, sei também que tenho saudades daqueles tempos de menino, na área rural e de adolescente, já na vida urbana. Sei também, infelizmente, que a fazenda em que nasci e vivi até os treze anos de idade, foi paulatinamente morrendo, com a substituição dos cafezais, erradicados em função da doença “ferrugem”, por canaviais, dirigidos pelas usinas de álcool e açúcar, substituindo os colonos por grandes e modernas máquinas que plantam, limpam e colhem, em velocidade vil, afugentando os caipiras para as periferias das cidades, onde são vítimas do desnivelamento social. As outras fazendas, prósperas, que conheci na infância, ou morreram ou agonizam até os dias de hoje, em terras sem fim, desertas de pessoas. E surgem memórias, para cada recanto que lembro que vivi naqueles tempos.
Também surgem memórias dos bairros da maior cidade do hemisfério sul, os quais agora perderam o encanto, devido à violência nas ruas e à dissolvição, paulatina, da família, naquilo que é mais sagrado. À época, eu era bonito, forte, invencível e eterno: tentávamos viver dez anos em um. Lembro os bailinhos nas casas dos amigos, ou nos clubes, quando era acessível para nós, lembro também os jogos de futebol na várzea, muitas vezes o único lazer daqueles rapazes cheios de vigor e de pobreza. Quando possível, uma ou outra sessão de cinema ou show artístico. Hoje, a cidade pouco produz da alegria, em comparação com o que nos proporcionava naqueles tempos. Os bailinhos caseiros, comandados por pick-up e seus negrinhos, fazia-nos sentir felizes.
A fazenda de café, onde nasci e me criei, está deserta de pessoas; foram-se todos, cafezais, pessoas, matas e rios límpidos e piscosos.... Ficaram as saudades do meu cachorro, o Viajante, amigo inseparável, das aventuras, reinações e brincadeiras, próprias das crianças caipiras. Tantas lembranças: o Córrego do Pântano continua lá; agora assoreado de forma irreversível, devido às erosões, falta das matas ciliares e outras tantas intervenções; ele que povoou meu mundo infantil e meus sonhos de criança.
Hoje, entardecer do dia 3 de junho de 2022, sinto-me capaz ainda de fazer muitas coisas. Sinto também, que o outono nesta metrópole e na minha vida, chegou de verdade. Lá fora está frio; hoje está por volta de 13 graus Célsius, com sensação de 10 graus. Aqui dentro, a casa está aquecida. Do meu recanto, observo ao entardecer lá fora e faço a resenha dos fatos que nos rodeiam, nesses últimos tempos pandêmicos. A guerra da Rússia contra a Ucrânia, a pandemia e o custo alto dos alimentos e dos combustíveis, me entristecem. A morte de pessoas que eu amo, nesses últimos anos, me comove!
Estou aguardando o verão, ainda que o inverno sequer começou, mas que se aproxima rapidamente. Abraço minha companheira, de há quase meio século, e deixo duas lágrimas furtivas escaparem das janelas de meu mundo.
Faço também conjecturas de que como estariam, nos dias atuais, meus antigos amigos de infância e da adolescência! Como estarão, se vivos estiverem, o Ném, o Tu, o Manézinho, o Pila, o Ditinho do Retiro, o Chicão, o Mané Barrinha, o Ivo, o João Tinoco, o Hernani, o Noacir, o Tarcísio, e etc.?
Dentro em breve completarei 80 anos de idade; embora fisicamente esteja “rateando”, mentalmente estou com idade de mais ou menos 40 anos; ainda tenho boa cognição e raciocínio audaz. Sei que as pessoas com as quais convivi, em meu tempo de menino caipira, ou já partiram desse mundo, ou estariam, mais ou menos como eu estou.
Mas, sei também que tenho saudades daqueles tempos de menino, na área rural e de adolescente, já na vida urbana. Sei também, infelizmente, que a fazenda em que nasci e vivi até os treze anos de idade, foi paulatinamente morrendo, com a substituição dos cafezais, erradicados em função da doença “ferrugem”, por canaviais, dirigidos pelas usinas de álcool e açúcar, substituindo os colonos por grandes e modernas máquinas que plantam, limpam e colhem, em velocidade vil, afugentando os caipiras para as periferias das cidades, onde são vítimas do desnivelamento social. As outras fazendas, prósperas, que conheci na infância, ou morreram ou agonizam até os dias de hoje, em terras sem fim, desertas de pessoas. E surgem memórias, para cada recanto que lembro que vivi naqueles tempos.
Também surgem memórias dos bairros da maior cidade do hemisfério sul, os quais agora perderam o encanto, devido à violência nas ruas e à dissolvição, paulatina, da família, naquilo que é mais sagrado. À época, eu era bonito, forte, invencível e eterno: tentávamos viver dez anos em um. Lembro os bailinhos nas casas dos amigos, ou nos clubes, quando era acessível para nós, lembro também os jogos de futebol na várzea, muitas vezes o único lazer daqueles rapazes cheios de vigor e de pobreza. Quando possível, uma ou outra sessão de cinema ou show artístico. Hoje, a cidade pouco produz da alegria, em comparação com o que nos proporcionava naqueles tempos. Os bailinhos caseiros, comandados por pick-up e seus negrinhos, fazia-nos sentir felizes.
A fazenda de café, onde nasci e me criei, está deserta de pessoas; foram-se todos, cafezais, pessoas, matas e rios límpidos e piscosos.... Ficaram as saudades do meu cachorro, o Viajante, amigo inseparável, das aventuras, reinações e brincadeiras, próprias das crianças caipiras. Tantas lembranças: o Córrego do Pântano continua lá; agora assoreado de forma irreversível, devido às erosões, falta das matas ciliares e outras tantas intervenções; ele que povoou meu mundo infantil e meus sonhos de criança.
Hoje, entardecer do dia 3 de junho de 2022, sinto-me capaz ainda de fazer muitas coisas. Sinto também, que o outono nesta metrópole e na minha vida, chegou de verdade. Lá fora está frio; hoje está por volta de 13 graus Célsius, com sensação de 10 graus. Aqui dentro, a casa está aquecida. Do meu recanto, observo ao entardecer lá fora e faço a resenha dos fatos que nos rodeiam, nesses últimos tempos pandêmicos. A guerra da Rússia contra a Ucrânia, a pandemia e o custo alto dos alimentos e dos combustíveis, me entristecem. A morte de pessoas que eu amo, nesses últimos anos, me comove!
Estou aguardando o verão, ainda que o inverno sequer começou, mas que se aproxima rapidamente. Abraço minha companheira, de há quase meio século, e deixo duas lágrimas furtivas escaparem das janelas de meu mundo.
Entardece em São Paulo, Brasil!
Entardece no mundo!
Antônio Carlos Affonso dos Santos
– ACAS. É natural de Cravinhos-SP. É Físico, poeta e contista. Tem
textos publicados em 9 livros, sendo 4 “solos e entre eles, o Pequeno
Dicionário de Caipirês e o livro infantil “A Sementinha” além de cinco
outros publicados em antologias junto a outros escritores.
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