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terça-feira, 13 de março de 2018

ARTIGO - JEREMIAS MACÁRIO

SARAU 'A ESTRADA' HOMENAGEIA CASTRO ALVES EM SEU MÊS DE ANIVERSÁRIO:
SARAU COMENTA POESIA DE CASTRO ALVES
Jeremias Macário
Foi uma noite muito proveitosa na troca de conhecimento sobre a poesia de Castro Alves quando o “Sarau A Estrada” e a Academia de Letras de Vitória da Conquista prestaram, no último sábado (dia 10), uma homenagem ao poeta condoreiro que defendeu a liberdade, a abolição da escravatura no Brasil e sempre se colocou ao lado das causas sociais.
  A sessão solene, antecipando a data do seu nascimento em 14 de março de 1847, foi aberta pela presidente da Academia, Nelma Suely Almeida Vieira, com a declamação do poema “Navio Negreiro”, seguida de um resumo da vida do poeta baiano pelo jornalista e escritor Jeremias Macário. Os debates prosseguiram com Benjamim Nunes e outros presentes ao encontro que também deram suas contribuições culturais sobre o tema.
  O acadêmico e confrade Italvo Cavalcante de Oliveira chamou a atenção para a importância da obra do poeta no século XIX do Brasil escravo e indagou quais questões mais ele abordaria caso vivesse nos tempos atuais num mundo tão conturbado, lembrando as levas de refugiados das guerras e das crises sociais.
  Ele transportou Castro Alves para os dias de hoje e disse que certamente iria empunhar seus versos em defesa dos refugiados e das injustiças contra a humanidade. O professor Itamar Aguiar trouxe para todos participantes da reunião uma pesquisa pouco conhecida sobre a última entrevista do poeta poucos dias antes de falecer em 6 de julho de 1871.
  Nesta entrevista, Castro Alves fez grandes revelações sobre seu pensamento quando afirmou que a poesia, antes de tudo, tem que ser libertária e sempre se posicionar em defesa das causas sociais. Contou sobre sua passagem por Recife no curso de Direito quando foi colega de Rui Barbosa e com ele fundou a Sociedade Abolicionista do Recife.
  O poeta não se furtou na sua última entrevista de falar sobre seus entreveros e discordâncias ideológicas com o escritor e intelectual sergipano Tobias Barreto. Revelou seu desejo de publicar outros livros, além do seu único “Espumas Flutuantes”, só que sua doença lhe tirou a vida aos 24 anos antes de realizar seus projetos.
  O secretário geral da Academia, Evandro Gomes Brito e sua esposa Rozânia A. Gomes Brito se confraternizaram com todos e falaram da satisfação do encontro em conjunto com a turma do “Sarau A Estrada” que neste ano está completando oitos anos de debates e discussões sobre várias questões, inclusive já abrigou em sua sede no Espaço Cultural do mesmo nome o lançamento do filme “Corpo Fechado”.
  Num clima fraternal e descontraído, o evento também contou com as presenças do ex-inspetor da PRF, Adalberto Peixoto do Couto, o conhecido Canarinho, Neide (esposa de Nunes), do grupo do “Sarau Colaborativo”, Baducha e Céu, Walter Lajes, Marta Moreno, Mano Di Souza e sua esposa Cleide, que nos brindaram com suas violas e cantorias até altas horas da madrugada, em complemento aos debates.
O fotógrafo José Carlos D´Almeida cuidou da cobertura fotográfica e a anfitriã Vandilza Gonçalves, sempre cordial e atenciosa, acolheu a todos com sua simpatia. O professor José Carlos e sua acompanhante e nosso companheiro Gildásio Amorim também se juntaram a nós nesta noite memorável onde, no bom sentido, a poesia de Castro Alves foi dissecada com debates literários de alto nível.
Como não poderia faltar num bom papo e à batida da viola, acompanharam as discussões uma boa comida, o vinho e a cerveja gelada trazidos por todos colaboradores do Sarau. Num clima harmonioso e de respeito, mas com temas calorosos e até acirrados em algumas ocasiões, outros assuntos foram tratados, além do central sobre a poesia do condoreiro indignado.
  Com aprovação de todos, o próximo “Sarau A Estrada” ficou marcado para o dia 5 de maio, com o tema “50 Anos dos Movimentos Revolucionários de 1968 que Sacudiram a Terra” onde vamos fazer uma viagem passando pelos protestos na França, México, Estados Unidos, Alemanha, Brasil e na Tchecoslováquia, principalmente.
O VICTOR HUGO BRASILEIRO
Seus altos voos de condor grandiloquente (“Ode ao Dois de Julho”) estão inseridos na poesia do negro quando fez “A Canção do Africano” e “Vozes d´África”. Do grotesco ao sublime da sua poesia dramática, foi considerado o Victor Hugo Brasileiro. Sua obra condoreira foi voltada para a vida e para a liberdade. “Os Escravos” e “Hinos do Equador” foram suas maiores obras póstumas. 
  Contemporâneo de José de Alencar, Tobias Barreto e Machado de Assis, foi aluno de Ernesto Carneiro Ribeiro, na Bahia, e de José Bonifácio, em São Paulo. Em vida, publicou seu único livro “Espumas Flutuantes”, quando retornava de navio do Rio de Janeiro para a Bahia.
 O poeta maior Antônio Frederico de Castro Alves, para os mais íntimos, Cecéu, nasceu em 14 de março de 1847, na fazenda Cabaceiras, município de Castro Alves, na Bahia. De família coronelista e aristocrática, segundo filho de Antônio José (médico) e mãe Clélia Brasília da Silva Castro, tornou-se um subversivo revolucionário contra as injustiças sociais.
   Ainda criança, mudou-se para Salvador em 1854 onde se matriculou no Ginásio Baiano. Em 1862 foi para Recife preparar-se para entrar na Faculdade de Direito. Lá escreveu o poema “A Destruição de Jerusalém”.
  Foi nessa época que passou a colaborar com a imprensa através da produção de seus versos, os quais o poeta e crítico Manuel Bandeira os classificou de ruins. Viveu um tempo ao lado de Idalina, mas numa de suas saídas noturnas de boemia conhece Eugênia Câmara no Teatro Santa Isabel (Recife). Nesse período de 62 a 63 escreveu “Pesadelo”, “Meu Segredo”, “Cansaço”, “Noite de Amor”, “A Canção do Africano”, dentre outros poemas.
Sem televisão e outros tipos de entretenimentos, a opção era o teatro. Existiam até torcidas e brigas entre os estudantes pela preferência de peças e artistas. Numa dessas, Castro Alves rivalizou-se com Tobias Barreto na torcida entre Adelaide Amaral e Eugênia Câmara, no Recife. Foi assim que esta se tornou a maior musa do poeta. 
  Finalmente, em 1864 ingressa na Escola de Direito, mas foi reprovado. No outro ano leva a vida na flauta e foi ovacionado ao declamar o poema “O Século”. Com Eugênia aumenta sua produção poética e resolve fazer uma peça teatral, com cunho político para sua amada. Assim nasce “Gonzaga ou a Revolução de Minas” que trata da Inconfidência Mineira.
 A peça levou o poeta e Eugênia a São Paulo, mas antes, em 1867, deram uma parada em Salvador onde a temporada na capital foi marcada por escândalo e sucesso. Da Bahia foi para o Rio de Janeiro em 1868 onde conheceu José de Alencar e Machado de Assis que redigiu no “Correio Mercantil” um artigo sobre o poeta baiano. Só no final de março de 1868 chega a São Paulo onde os dois retomaram a vida boêmia dos salões e saraus.
 Apesar das brigas entre os dois, Castro Alves continuou fazendo suas poesias, declamando em comícios, sacadas e palanques, exaltando a República e condenando a escravidão. Em São Paulo, o poeta recomeça seus estudos de Direito, reencontra Rui Barbosa e tem José Bonifácio como professor. Por fim, termina seu romance com Eugênia Câmara.
  Numa caçada no arrabalde do Brás, em São Paulo, Castro Alves é atingido em seu pé por um disparo acidental da sua espingarda. Diante das complicações foi para o Rio, em maio de 1869, para se tratar. Foi preciso amputar a perna no seu terço inferior.
A saúde já debilitada pela tuberculose piorou. Retorna à Bahia e na viagem de regresso escreve “Espumas Flutuantes” ao contemplar a esteira de espumas do navio. Ora em Salvador, ora numa fazenda de parentes, o poeta continua escrevendo, mas falece em 6 de julho de 1871, precocemente aos 24 anos.

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