CURIOSIDADES DO MUNDO GREGO (PARTE VIII)
Jeremias Macário

Em 459 a.C. Atenas usara
a frota para tentar expedição ao Egito e expulsar os persas ali instalados. A
frota de Atenas que devia servir à causa comum,foi utilizada para esmagar uma
revolta nos estados de Egina, Eubéia e Samos. Esparta, de origem dórica,
guerreira, aristocrática e conservadora, que não era grande cidade cosmopolita,
mas contava com muitos quarteis no interior do Peloponeso, encarava as
repressões como sinal de fraqueza.
Diante dos conflitos
entre os estados e uma aparente guerra, Péricles realizou uma conferência de
cúpula, tentando trazer toda população da Ática e o exército para dentro dos
muros de Atenas. Esparta, no entanto, achou que aderir seria reconhecer a
supremacia de sua rival. Muitos estados fizeram o mesmo e a cúpula foi um
fracasso.
O problema era saber
quem tinha a força de unificar a Grécia. Atenas era um povo jônico, a
democracia, a burguesia, o comércio e a indústria. Esparta, conservadora,
totalitária e grosseira. Em 435, Corcira pediu para entrar na Confederação e insurgiu-se
contra Corinto. Três anos depois, Potidéia, colônia de Atenas, revoltou-se e
pediu ajuda a Corinto. Péricles mandou um exército contra ela, mas não
conseguiu derrotá-la.
Vendo o fracasso de
Atenas, Mégara rebelou-se também e aliou-se com Corinto, que chamou Esparta.
Atenas impôs o bloqueio de Mégara e Esparta protestou. De um lado Atenas com
seus confederados do Jônio, do Egeu e da Ásia Menor. Esparta com todo
Peloponeso (Corinto, Beócia e Mégara).
Diante da situação
grave, Péricles chamou seu exército para dentro dos muros de Atenas,
abandonando a Ática ao inimigo. Enfraquecido, a guerra atiçou a ira de seus
inimigos, como Cléon, demagogo e corajoso, que acusou Péricles de peculato e,
como ele não deu conta dos fundos secretos, foi deposto e multado, exatamente
quando a epidemia levou dele a irmã e seus dois filhos legítimos. Aristóteles
diz que Cléon subia à tribuna e falava numa linguagem malcriada, grosseira e
pitoresca. Arrependidos, logo depois os atenienses o repuseram Péricles ao
poder e deram cidadania ao filho que tivera com Aspásia.
A guerra que já durava por dez anos semeara a
ruína por toda Grécia, sem solução. Ameaçada por uma revolta dos escravos,
Esparta sugeriu a paz e Atenas aderiu seguindo parecer dos conservadores, como
o de Nícias, cujo tratado de 421, de 50 anos, levou seu nome.
ALCIBÍADES –
Aristocrata e conservador, Nícias era o homem mais rico de Atenas e tinha suas
extravagancias e superstições, como a de nunca fazer nada nos dias nefastos.
Para cortar o cabelo esperava a lua cheia. Quando o voo das aves indicava azar,
pronunciava a fórmula da esconjuração e repetia 27 vezes. Se ouvia o coaxar de
um sapo, abandonava o Senado.Organizava e pagava do seu bolso as procissões
para a colheita. Cada bocado que engolia invocava o nome de um morto da sua
família. Chegava a comer tendo diante de si uma tabuleta com o nome de todos
seus antepassados.
Para combater este
homem cheio de dinheiro, o egocêntrico Alcibíades não olhava os meios. Mais por
ambição batera como herói contra os espartanos. A quem diga que devia suas
proezas a Sócrates que o amava. Ele fazia parte do grupo de jovens que o mestre
exercitava na arte do raciocínio. Vez por outra sumia para seguir prostitutas e
moços de má fama. Sócrates se desesperava e procurava-o como a um escravo
fugitivo.
Conta que um dia
Alcebíades deu uns tapas em Hipônaco, um dos mais ricos e poderosos. Dia
seguinte foi à casa do ofendido e despiu-se diante dele para que lhe desse boas
vergastadas. No lugar, Hipônaco deu sua filha Hiparate em casamento. Um dia
Hiparate fugiu de casa e citou o marido em tribunal para divórcio. Ele
compareceu e diante dos juízes raptou-a. Ela teve que aceitar a condições de
esposa traída.
Esse violador de leis e
mulheres, sedutor de corações femininos e de massas eleitorais, era partidário
da guerra, caminho para sua ambição. Detestava a paz até mesmo porque ela
trazia o nome de Nícias.
A GRANDE TARIÇÃO - Para
escapar ao processo de seus malfeitos, Alcibíades desertara e se colocou a
serviço de Esparta, onde se refugiara. Ele que vivia no luxo, jogou fora os
sapatos e andava descalço, com uma rude túnica nos ombros. Nutria-se de
cebolas. O rancor por Atenas era tanto que nenhum sacrifício lhe parecia
demasiado para a vingança. Acabou se enamorando da rainha.
Para se livrar da
morte, embarcou como oficial da marinha numa frota para a Ásia, só que um
mensageiro lhe seguia com a missão de eliminá-lo. Em Sardes encontrou-se com um
almirante persa e ofereceu, outra vez, seus serviços contra Esparta. Enquanto
isso, Atenas estava destroçada e isolada. Esparta tomou suas minas de prata e
firmou tratado com a Pérsia para aniquilar seu inimigo. Gregos pediram auxílio
de bárbaros para destruir outros gregos.
O partido conservador
organizou uma revolta, tomou o poder e entregou a um Conselho dos Quatrocentos.
Após uma revolução houve um golpe de estado e destituíram o Conselho,
substituindo por outro dos Cinco Mil. Houve uma revolta dos marinheiros que
pediram a volta do governo democrático. O porto foi fechado e o povo começou a
passar fome. A saída foi pedir ajuda a Esparta para trazer mantimentos. Esparta
pediu tempo e a população revoltou-se e ai os democratas voltaram ao poder.
Depois de várias
traições e intrigas, Alcebíades voltou à pátria em 410 a.C. Chefiou a frota e ,
durante três anos, infligiu uma série de derrotas contra Esparta. Mais adiante,
cometeu outro erro ao entregar a frota para Antíaco que foi trucidado pelos
espartanos. Fugiu de novo para Bitínia.
Sob o comando de
Lisandro, Esparta impôs severa derrota a Atenas, deixando o povo com fome. Para
poupar os sobreviventes exigiu de Atenas derrubar os muros, repor no poder os
conservadores e auxiliar Esparta em qualquer guerra futura. Era o ano de 404
a.C. Foi instituído o Conselho dos Trinta na base da opressão. Além dos mortos,
cinco mil democratas foram mandados para o exílio. Revogaram-se todas as
liberdades e Sócrates foi proibido de ensinar.
A CONDENAÇÃO DE
SÓCRATES -Seus adversários o incriminaram no plano moral e religioso. A
acusação inventada contra ele, em 399 a.C. era de impiedade pública em relação
aos deuses e corrupção da juventude. O corpo de jurados era composto de 1.500
cidadãos. Na bancada estavam Platão e Xenofante.
Dos três que levantaram
acusação contra ele, o Anito tinha motivos pessoais de rancor contra Sócrates.
Quando ele teve que ir para o exílio por causa de suas ideias, seu filho
preferiu ficar em Atenas com o mestre.Uma das críticas contra ele foi de ter
tido Alcibíades como um de seus discípulos.
Mesmo aristocrático, no
sentido intelectual, Sócrates era pobre, vestia-se como mendigo e ninguém podia
apontar a mínima deslealdade contra o Estado. Fora excelente soldado. Para ele,
as leis tinham de estar de acordo com a justiça.
Para Sócrates, o
cidadão exemplar era o que obedecia as ordens da autoridade, mas, antes de as
receber e depois de as cumprir, devia examinarse a ordem era boa e se a autoridade formulara bem. Fundara todo
seu métodoem perguntas, “Ti Esti?” (Que é isto). Seu objetivo era preparar uma
classe política iluminada que governasse de acordo com a justiça. Tinha na
mente uma Noocracia, ou governo de sábios, que excluísse a ignorância e a
superstição.
A plebe, que não sabia
nada disso, odiava Sócrates e seu modo de pensar. Aristófanes, com sua rude
maneira inculta de ver as coisas, foi o intérprete deste protesto, por inveja.
O próprio Sócrates contribuiu para sua condenação, quando fez apologia de si
mesmo, dizendo que os deuses lhe haviam confiado a missão de revelar a verdade.
Mileto, um de seus acusadores, propôs sua morte. O mestre respondeu pedindo
para ser hospedado no Pritaneu, grande palácio daquela época. Indispôs público,
juízes e jurados.
Na votação, 708 votaram
a favor e 720 contra a pena de morte. Com a insistência de Platão, o acusado
declarou-se disposto a pagar uma multa de trinta minas, que os amigos dariam em
seu lugar. Os jurados voltaram a se reunir e os condenatórios tinham aumentado
mais 80. Sócrates foi posto no cárcere.
A Críton que lhe disse:
Morres sem o merecer, o mestre respondeu: Mas, se não o fizesse, eu o
mereceria. A Fédon: Tenho pena dos teus cachos de cabelo. Amanhã terás que
cortá-los em sinal de luto. Chegando o momento, tomou o veneno com mão firme. Aos
seus discípulos que choravam, ele os consolou: Por que se desesperam? Não
sabiam que desde o dia em que nasci, a natureza me condenou à morte? É melhor
morrer a tempo, com o corpo sadio, para evitar a decadência...
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