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quarta-feira, 24 de outubro de 2018

JEREMIAS MACÁRIO - CRÔNICA HISTÓRICA

CURIOSIDADES DO MUNDO GREGO (PARTE VIII)
Jeremias Macário
GUERRA DO PELOPONESO – O império de Atenas se chamava Confederação, mas, na verdade, o que existia mesmo era o controle comercial e político dela subjugando as outras cidades satélites. Para começar, os cidadãos da Confederação não tinham os mesmos direitos. Quando existiam conflitos onde estava envolvido um ateniense, só os magistrados de Atenas tinham competência para julgar, conforme relata o autor de “História dos Gregos”, Indro Montanelli.
Em 459 a.C. Atenas usara a frota para tentar expedição ao Egito e expulsar os persas ali instalados. A frota de Atenas que devia servir à causa comum,foi utilizada para esmagar uma revolta nos estados de Egina, Eubéia e Samos. Esparta, de origem dórica, guerreira, aristocrática e conservadora, que não era grande cidade cosmopolita, mas contava com muitos quarteis no interior do Peloponeso, encarava as repressões como sinal de fraqueza.
Diante dos conflitos entre os estados e uma aparente guerra, Péricles realizou uma conferência de cúpula, tentando trazer toda população da Ática e o exército para dentro dos muros de Atenas. Esparta, no entanto, achou que aderir seria reconhecer a supremacia de sua rival. Muitos estados fizeram o mesmo e a cúpula foi um fracasso.
O problema era saber quem tinha a força de unificar a Grécia. Atenas era um povo jônico, a democracia, a burguesia, o comércio e a indústria. Esparta, conservadora, totalitária e grosseira. Em 435, Corcira pediu para entrar na Confederação e insurgiu-se contra Corinto. Três anos depois, Potidéia, colônia de Atenas, revoltou-se e pediu ajuda a Corinto. Péricles mandou um exército contra ela, mas não conseguiu derrotá-la.
Vendo o fracasso de Atenas, Mégara rebelou-se também e aliou-se com Corinto, que chamou Esparta. Atenas impôs o bloqueio de Mégara e Esparta protestou. De um lado Atenas com seus confederados do Jônio, do Egeu e da Ásia Menor. Esparta com todo Peloponeso (Corinto, Beócia e Mégara).
Diante da situação grave, Péricles chamou seu exército para dentro dos muros de Atenas, abandonando a Ática ao inimigo. Enfraquecido, a guerra atiçou a ira de seus inimigos, como Cléon, demagogo e corajoso, que acusou Péricles de peculato e, como ele não deu conta dos fundos secretos, foi deposto e multado, exatamente quando a epidemia levou dele a irmã e seus dois filhos legítimos. Aristóteles diz que Cléon subia à tribuna e falava numa linguagem malcriada, grosseira e pitoresca. Arrependidos, logo depois os atenienses o repuseram Péricles ao poder e deram cidadania ao filho que tivera com Aspásia.
 A guerra que já durava por dez anos semeara a ruína por toda Grécia, sem solução. Ameaçada por uma revolta dos escravos, Esparta sugeriu a paz e Atenas aderiu seguindo parecer dos conservadores, como o de Nícias, cujo tratado de 421, de 50 anos, levou seu nome.
ALCIBÍADES – Aristocrata e conservador, Nícias era o homem mais rico de Atenas e tinha suas extravagancias e superstições, como a de nunca fazer nada nos dias nefastos. Para cortar o cabelo esperava a lua cheia. Quando o voo das aves indicava azar, pronunciava a fórmula da esconjuração e repetia 27 vezes. Se ouvia o coaxar de um sapo, abandonava o Senado.Organizava e pagava do seu bolso as procissões para a colheita. Cada bocado que engolia invocava o nome de um morto da sua família. Chegava a comer tendo diante de si uma tabuleta com o nome de todos seus antepassados.
Para combater este homem cheio de dinheiro, o egocêntrico Alcibíades não olhava os meios. Mais por ambição batera como herói contra os espartanos. A quem diga que devia suas proezas a Sócrates que o amava. Ele fazia parte do grupo de jovens que o mestre exercitava na arte do raciocínio. Vez por outra sumia para seguir prostitutas e moços de má fama. Sócrates se desesperava e procurava-o como a um escravo fugitivo.
Conta que um dia Alcebíades deu uns tapas em Hipônaco, um dos mais ricos e poderosos. Dia seguinte foi à casa do ofendido e despiu-se diante dele para que lhe desse boas vergastadas. No lugar, Hipônaco deu sua filha Hiparate em casamento. Um dia Hiparate fugiu de casa e citou o marido em tribunal para divórcio. Ele compareceu e diante dos juízes raptou-a. Ela teve que aceitar a condições de esposa traída.
Esse violador de leis e mulheres, sedutor de corações femininos e de massas eleitorais, era partidário da guerra, caminho para sua ambição. Detestava a paz até mesmo porque ela trazia o nome de Nícias.
A GRANDE TARIÇÃO - Para escapar ao processo de seus malfeitos, Alcibíades desertara e se colocou a serviço de Esparta, onde se refugiara. Ele que vivia no luxo, jogou fora os sapatos e andava descalço, com uma rude túnica nos ombros. Nutria-se de cebolas. O rancor por Atenas era tanto que nenhum sacrifício lhe parecia demasiado para a vingança. Acabou se enamorando da rainha.
Para se livrar da morte, embarcou como oficial da marinha numa frota para a Ásia, só que um mensageiro lhe seguia com a missão de eliminá-lo. Em Sardes encontrou-se com um almirante persa e ofereceu, outra vez, seus serviços contra Esparta. Enquanto isso, Atenas estava destroçada e isolada. Esparta tomou suas minas de prata e firmou tratado com a Pérsia para aniquilar seu inimigo. Gregos pediram auxílio de bárbaros para destruir outros gregos.
O partido conservador organizou uma revolta, tomou o poder e entregou a um Conselho dos Quatrocentos. Após uma revolução houve um golpe de estado e destituíram o Conselho, substituindo por outro dos Cinco Mil. Houve uma revolta dos marinheiros que pediram a volta do governo democrático. O porto foi fechado e o povo começou a passar fome. A saída foi pedir ajuda a Esparta para trazer mantimentos. Esparta pediu tempo e a população revoltou-se e ai os democratas voltaram ao poder.
Depois de várias traições e intrigas, Alcebíades voltou à pátria em 410 a.C. Chefiou a frota e , durante três anos, infligiu uma série de derrotas contra Esparta. Mais adiante, cometeu outro erro ao entregar a frota para Antíaco que foi trucidado pelos espartanos. Fugiu de novo para Bitínia.
Sob o comando de Lisandro, Esparta impôs severa derrota a Atenas, deixando o povo com fome. Para poupar os sobreviventes exigiu de Atenas derrubar os muros, repor no poder os conservadores e auxiliar Esparta em qualquer guerra futura. Era o ano de 404 a.C. Foi instituído o Conselho dos Trinta na base da opressão. Além dos mortos, cinco mil democratas foram mandados para o exílio. Revogaram-se todas as liberdades e Sócrates foi proibido de ensinar.
A CONDENAÇÃO DE SÓCRATES -Seus adversários o incriminaram no plano moral e religioso. A acusação inventada contra ele, em 399 a.C. era de impiedade pública em relação aos deuses e corrupção da juventude. O corpo de jurados era composto de 1.500 cidadãos. Na bancada estavam Platão e Xenofante.
Dos três que levantaram acusação contra ele, o Anito tinha motivos pessoais de rancor contra Sócrates. Quando ele teve que ir para o exílio por causa de suas ideias, seu filho preferiu ficar em Atenas com o mestre.Uma das críticas contra ele foi de ter tido Alcibíades como um de seus discípulos.
Mesmo aristocrático, no sentido intelectual, Sócrates era pobre, vestia-se como mendigo e ninguém podia apontar a mínima deslealdade contra o Estado. Fora excelente soldado. Para ele, as leis tinham de estar de acordo com a justiça.
Para Sócrates, o cidadão exemplar era o que obedecia as ordens da autoridade, mas, antes de as receber e depois de as cumprir, devia examinarse a ordem era boa  e se a autoridade formulara bem. Fundara todo seu métodoem perguntas, “Ti Esti?” (Que é isto). Seu objetivo era preparar uma classe política iluminada que governasse de acordo com a justiça. Tinha na mente uma Noocracia, ou governo de sábios, que excluísse a ignorância e a superstição.
A plebe, que não sabia nada disso, odiava Sócrates e seu modo de pensar. Aristófanes, com sua rude maneira inculta de ver as coisas, foi o intérprete deste protesto, por inveja. O próprio Sócrates contribuiu para sua condenação, quando fez apologia de si mesmo, dizendo que os deuses lhe haviam confiado a missão de revelar a verdade. Mileto, um de seus acusadores, propôs sua morte. O mestre respondeu pedindo para ser hospedado no Pritaneu, grande palácio daquela época. Indispôs público, juízes e jurados.
Na votação, 708 votaram a favor e 720 contra a pena de morte. Com a insistência de Platão, o acusado declarou-se disposto a pagar uma multa de trinta minas, que os amigos dariam em seu lugar. Os jurados voltaram a se reunir e os condenatórios tinham aumentado mais 80. Sócrates foi posto no cárcere.
A Críton que lhe disse: Morres sem o merecer, o mestre respondeu: Mas, se não o fizesse, eu o mereceria. A Fédon: Tenho pena dos teus cachos de cabelo. Amanhã terás que cortá-los em sinal de luto. Chegando o momento, tomou o veneno com mão firme. Aos seus discípulos que choravam, ele os consolou: Por que se desesperam? Não sabiam que desde o dia em que nasci, a natureza me condenou à morte? É melhor morrer a tempo, com o corpo sadio, para evitar a decadência...

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