Enigma
Nando da Costa Lima
A briga
entre os Silva da Silva e os Pranchão era a vergonha da cidade, tudo por causa
de política. Eles já foram do mesmo partido, mas depois da história do banquete...
Foi aquele banquete que separou as duas famílias que se suportaram por vários
anos. Tem gente que fala que o lugar só não desenvolveu por causa da teimosia
dos dois lados. Um conseguia uma verba, o outro ia lá e derrubava, era aquela
velha politicagem de pé de moita.
O coroné Marculino
Pranchão, em passeio por Conquista, escutou pelo serviço de alto-falantes do Milagroso
que Getúlio ia passar pela região... O coroné voltou pro seu vilarejo no mesmo
dia, se o “Home” (presidente) passasse por ali, com certeza passaria por sua
casa. É aí que entra o banquete, preparado por um cozinheiro de Salvador. Só o
bode que o coroné resolveu assar inteiro no rolete, e fez questão de ele mesmo
assar. Queria caprichar, não era todo dia que aparecia um presidente. Deputado
não, estes sempre quando apareciam era só matar uma dúzia de galinhas pra
comitiva, tava tudo resolvido.
O banquete
foi preparado com capricho, só que o presidente não passou nem por Conquista.
Marculino ficou retado e mandou enterrar o bode inteiro, uma iguaria preparada
para um presidente não podia ser consumida por gente comum. Foi aí que a
oposição caiu matando: “Se enterrou o bode inteiro, é porque o bicho tava
envenenado”. Desse dia em diante os Pranchão não tiveram sossego, e o bode
virou uma lenda. Os contra falaram que nem andu nasceu onde o banquete foi
enterrado. Já outros dizem que viram um bodão de dois metros e com olhos
vermelhos... Só quem via essa aparição era os Silva da Silva e os bêbados da
cidade. Foram essas crendices que fizeram o coroné enfartar mais de uma vez,
nunca tinha passado tanta raiva na vida. Não podia botar o pé na rua, onde
entrava via gente comentando sobre o bode. O velho ficou tão encabulado com o
fato que acabou morrendo como “envenenador de banquete”, pra você ver até onde
vai a ignorância. Até hoje, ninguém aceita um convite para comer na casa de
algum Pranchão, e em tempo de “política de bate-boca”, a rivalidade supera
tudo. É só ter uma eleição que os Silva da Silva aparecem
com o couro de um bode em cima do palanque, e antes de todo comício o locutor
conta a história do bode recheado com veneno...
A família
Pranchão garante que os dois quilos de veneno pra rato que o coroné comprou na
véspera de assar o bode foram usados na chácara que rodeava a casa dele, tava empestiada
de ratos.
Na
realidade, até hoje ninguém conseguiu provar se o bode tava ou não recheado com
veneno... A dúvida cresceu ainda mais depois que um historiador descobriu e
revelou que na casa do coroné Marculino Pranchão, nunca teve chácara.
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