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sábado, 8 de dezembro de 2018

NANDO DA COSTA LIMA - CRÔNICA

O DOMADOR
Nando da Costa Lima
Aconteceu num revéillon...
   Corinto Pranchão queria receber seus convidados do mesmo jeito que os "quatrocentões" paulistas recebiam antigamente. Ele passou a vida perseguindo a fortuna, só conseguiu aos 45 anos ao se casar com Marineide, vinte anos mais velha. Estavam aproveitando o fim de ano pra comemorar o primeiro ano de casamento, tudo tinha de ser de primeira. Até o peru veio dos States! O caviar russo e o champanhe francês faziam o maior contraste ao mau gosto da decoração da casa. Gerôncio foi o pri­meiro a chegar na recepção, encostou na mesa de comidas e man­dou ver. Aproveitou que não tinha ninguém olhando e comeu co­mo se estivesse em casa, lembrava um porco em cima de um cocho de ração. Só saiu dali quando a casa estava cheia, de longe ele en­xergou Lina, tinha mais de um ano que tentava se aproximar da­quela princesa. Até flores ele mandou, mesmo os amigos falando que aquilo não era coisa de homem, ele só estava ali porque sabia que ela viria. Tinha até decorado a prosa, como Lina era inteligente, ia falar de ecologia, política, música. Naquela noite querendo ou não ela ia ter que escutar seu papo de enciclopédia.
Na festa tudo corria bem, o dono da casa já tinha dado o pre­ço de tudo que tinha na mesa, e um grupo de "puxa saco” já apontava seu nome como candidato a deputado na próxima. Sua mulher, que usava um longo rosa com um laço verde-cana na cin­tura, se desdobrava pra atender os convidados. Era uma mancada após outra, a mulher do prefeito perguntou onde era o toillet, ela levou para a mesa de frios e disse que toillet não tinha, mas ca­viar, pernil e peru tinha que dava pra encher o bucho. Um deputado falou, demagogicamente, que quando via tanta comida se lembrava dos morimbundos, ela rebateu dizendo que os "maribondo" que tinha lá o marido já tinha colocado inseticida. Apesar dessas e outras, tudo ia bem na festa dos Pranchão. Tinha ate música ao vivo. Gerôncio se entusiasmou com a valsa to­cada a pedidos do dono da casa e caminhou pra cima de Lina já valsando, não podia perder aquela chance de tê-la nos braços. Quando estava perto dela deu aquela dor de barriga que a gente logo entende que o único remédio é um vaso sanitário. Gerôncio se entortou todo e correu pro banheiro ficou mais de meia hora fa­zendo força, e nesse tempo nem ele pôde entender como aquilo saiu de dentro dele, devia ter sido aquelas comidas de ricos! Deu mais de vinte descargas e o rebelde permanecia no lugar, nem me­xia! O jeito era deixar aquilo lá, ninguém ia saber que tinha sido ele. Quando começou a abrir a porta do banheiro escutou a voz de Lina, era ela que tava na fila há mais de 10 minutos! Gerôncio quase entra em desespero, bateu a porta e começou a imaginar um meio de se livrar daquele inconveniente. Descarga não adiantava, pen­sou em pegar e enrolar num papel higiênico e jogar no cesto. Não deu! Além de o papel ter terminado, aquilo não ia caber no cesto. Nesse meio tempo Lina começou a bater na porta, tava apertada. Aí o homem endoidou, numa atitude desesperada abriu o armário do banheiro na tentativa de achar alguma coisa pra lhe ajudar a se li­vrar daquele troço (ou trôço, como queira). Só tinha duas escovas de dente escritas no cabo "Amorzinho" e "Amorzão", não deu outra! Pegou as duas, ficou de joelho em frente ao vaso e triturou o rebelde até este ficar em condições de descer com uma simples descarga. Não foi maldade, foi a única maneira que ele encontrou para sair daquela. Não fez por perversidade, tanto é que depois que usou as escovas como triturador, lavou-as,enxugou  e colocou no mesmo lugar. Ninguém notou nada, e Lina passou a noite nos braços do "Domador”. Apelido dado a Gerôncio depois que o fato veio à tona. Portanto, se você pretende algum dia receber em alto estilo, cuidado! Há sempre um domador pronto pra atacar. Guarde as escovas de dente num lugar mais difícil...

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