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sábado, 5 de janeiro de 2019

NANDO DA COSTA LIMA - CONTO

A ASSESSORIA É A ALMA DA POLÍTICA
Nando da Costa Lima
Naquele discurso ele sabia que ia decidir a campanha, tinha que começar com uma frase de lascar o cano, a cidade toda estava comentando que sua esposa Delsinete tava pulando a cerca com o jardineiro “Zé Pé de Banco”. Se fosse numa cidade evoluída nem ia dar ouvidos para aquele “fuxico”. Corno é um estado de espírito... Mas naquele fim de mundo era diferente, ele tinha que rebater à altura senão adeus eleição.
No dia do comício ele já pegou o microfone com raiva e falou aos berros: “-Mulher é igual cueca, sujou a gente troca”. Quando o candidato a prefeito “Diltão das Moranga” disse esta frase a plenos pulmões até os partidários que se encontravam no palanque sumiram, a praça esvaziou... Se fosse um sujeito qualquer, mas um candidato tentando ocupar a vaga que pertencia a seu tio, usar um termo despudorado só por causa das provocações do povo e da oposição era praticamente fim de carreira. Perdeu logo o voto das feministas e arrumou briga com o resto da mulherada. Era capaz até de ser expulso do partido por causa de uma frase mal colocada. Só não foi porque não dava mais tempo de mudar o candidato. Até os parentes acharam um absurdo ele falar aquela idiotice em plena praça. A oposição se lavou e já se referiam ao adversário como “Dilton Cueca Suja”. E o apelido pegou na cidade! A mulherada já estava fazendo campanha até nos redutos do politico. Aquela situação tinha que ser contornada senão seria o fim de uma “grande” carreira política que estava começando. Ia manchar o nome da família que mandava na política da cidade desde o tempo de Getúlio.  Os próprios correligionários, em sua ausência, só se referiam ao candidato como “o corno da cueca suja”. O sacana complicou uma eleição já ganha só por causa de uma “suposta” pulada de cerca da mulher.
 A única solução para reverter esta situação, disse o presidente do partido, será contratando um marqueteiro retado, o melhor que tiver na região, só assim pro eleitor esquecer daquilo. Foi aí que encontraram o homem certo: “Tuta das Onça”, publicitário e caçador de onça. Especialista em tirar político do buraco. Aí o partido sentiu um certo alívio, assessorado por Tuta, Diltão tinha tudo pra chegar lá. A oposição quando soube reagiu e tratou logo de arranjar um assessor de peso “Nilsão Quero Mais” foi contatado de última hora, era o único a altura de Tuta. Depois desta investida dos adversários o marqueteiro levou aquilo ainda mais a sério, eleger aquele corno burro era um desafio à sua genialidade, ganhar aquela eleição seria uma realização pessoal. Além disso, ia ser bem pago e ainda ganharia de quebra um “Chevete” seminovo. A primeira providência do “mestre” foi transformar o jardineiro da futura primeira dama em personal trainer. Pra não perder a concentração deixou até de ir numa briga de galo que ia ter em Riachão das Raposas, pediu seu amigo “Gugu de Seu Vando” para representá-lo. A “brigada” ia ser boa, o primeiro lugar ia ganhar um terno de bode e “dois capão gordo”. Mas pra vencer aquele desafio eleitoral qualquer sacrifício valia!
 E foi no último comício que o marqueteiro deu uma prova de sua genialidade instruindo o prefeito para o discurso reparador, decisivo para a campanha! Nesse ele botou pra quebrar, chegou de braço dado com a esposa (outra grande ideia do mestre do marketing) e foi logo anulando a frase da discórdia. Pegou o microfone, olhou para a mulher com cara de apaixonado e virando-se para o publico falou pausadamente: “-Mulher é igual cueca, sujou a gente manda lavar que fica novinha em folha”. Quando todos olharam espantados ele completou com outra obra prima do publicitário: ”-É melhor ser um corno eleito do que um garanhão machista desempregado”.
 E não é que “Diltão das Moranga“ foi eleito com folga... Povo “politizado” é povo desenvolvido!


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