Nando da Costa Lima
Eu acredito em milagre...
Quando aconteceu faltava
um ano pra virada do século, foi na "fome de 99", a estiagem havia torrado
o sertão baiano. A miséria era geral, o gado morria por falta de pasto e água,
as plantações foram todas queimadas pelo sol. O povo estava em desespero.
Aqui em Conquista a
coisa estava feia, só não tava pior graças ao velho Poço Escuro que nunca
secou. Os alimentos remetidos pela vizinhança menos sofrida com a estiagem
nunca davam pra suprir as necessidades da população carente de tudo. A fome
estava presente em todas as casas humildes. Só os ricos faziam três refeições
diárias (mais ou menos como hoje). A população estava assustada, com mais um
mês de seca nem o Governo do Estado podia contornar a situação. Quem morava nos
interiores mais afastados da Capital ficava encurralado. Em 1899 as cargas
eram transportadas em lombo de burro, as tropas só estavam viajando à noite
para evitar o castigo do sol que arrasava o sertão, e esperar ajuda da Capital
era sonho. O Conquistense teve que se virar com o pouco que restava. A estiagem
acabou com tudo, nem a mandioca resistiu, isto tirou a alimentação básica da
região. Sobreviver tava tão difícil que uma semana de trabalho de um homem era
pago com três litros de farinha. As crianças eram quem mais sofriam, a
desidratação e a inanição matavam diariamente. Foi nesse tempo de miséria e
miseráveis que aconteceu o Milagre das Pombas.
Quem primeiro viu foi
Chicão, ele vinha de uma fazenda da redondeza trazendo um frango magro pra
vender em Conquista a preço de ouro, sabia que comida tava custando os olhos da
cara. Foi no Capão Grande que ele avistou o primeiro bando de pombas, eram
milhares delas, ficou curioso e entrou caminho adentro tentando descobrir o
motivo daquelas aves estarem naquele lugar tão castigado pela seca, pensou até
que podia ter uma nascente desconhecida. Só depois de algum tempo que ele veio
notar a quantidade de ninhos espalhados pelos garranchos secos, tinha ovo em
tudo que é canto, até no chão! Chicão encheu a algibeira e o chapéu. Aí ele
ajoelhou-se, fez o nome do Pai, sabia que aquilo era coisa de Deus, rezou uma
Ave-Maria era um presente do Senhor! Disso ele não tinha
dúvida.
Quando a notícia se
espalhou, toda população quis certificar-se. E no local indicado por Chicão
eles encontraram milhares de ovos espalhados pelo pasto seco, o povo enchia os
cestos. A fome foi amenizada acentuadamente com a ajuda das aves. Em
reconhecimento, o Intendente Municipal José Antônio de Lima Guerra proibiu que
as pombas fossem caçadas enquanto permanecessem por aqui, elas salvaram muitas
vidas. O povo estava agradecido, e as pombas só partiram quando a chuva voltou
a molhar o sertão baiano. Sim, eu acredito em milagre...
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