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sábado, 31 de agosto de 2019

NANDO DA COSTA LIMA - CONTO

O caso do bigode de mel (Ficção)

Nando da Costa Lima
A menina de dona Santa levava sua pacata existência como a maioria das moças da cidade, a única coisa fora do comum que aconteceu em sua vida durante todo esse tempo do colégio foi a chegada de João Merlo, o repórter. Ele mudou por completo a cabeça da “menina do capitão”! A carteira de jornalista o deixava mais metido que puxa saco quando é cumprimentado em público por algum político influente. E pra completar o sacana ainda trouxe aquela lambretona invocada pra azucrinar ainda mais a cabeça das meninas, ele era o assunto da cidade quando passava em marcha lenta penteando aquele bigodão, as moças ficavam tão entusiasmadas que nem notavam o tamanho da cabeça de João (nunca encontrou um capacete que coubesse no cocão). Até “dona” Alzira que já estava amarrando o facão quis dar uma voltinha na famosa lambreta…, ele mandou dizer pra ela que quem gostava de couro velho era Moreno Sapateiro.
João, que não era besta, cresceu o olho foi pra Clarice do capitão, ali estava seu futuro. Era bonita, educada e filha do maior criador de boi da região, era ali que tinha que se arrumar pro resto da vida. Ele agora passava todo o seu tempo cortejando Clarice, era só ela passar pro colégio que ele acompanhava na lambreta. A conversa era sempre a mesma, parecia disco arranhado: “E aí gata, vamos dar uma voltinha na mimosa (apelido da lambreta), você não vai resistir a esse meu bigode de mel”. Repetia essa frase quantas vezes a encontrasse. Ela baixava a cabeça, resmungava, fazia biquinho… mas no fundo estava adorando, até sonhos eróticos ela tinha com o “bigode de mel”. Dona Santinha foi quem primeiro notou as olheiras da filha, mas achou que era de tanto estudar.
Falta de aviso não foi! Todo mundo que conhecia o capitão alertou João Merio, ele é que não botou fé nos conselhos e continuou perseguindo a menina, já tinha feito até aposta com o dono do buteco: apostou 2 caixas de Jurubeba Leão do Norte como até o fim do mês ele passava aquele anjo “no papo”. E de tanto o pessoal comentar, a conversa acabou caindo no ouvido do capitão. Este não perdeu tempo, mandou um cabra investigar o que estava se passando. Quando o enviado voltou da cidade e contou para o patrão que tinha um sujeito que não podia ver dona Claricinha que pedia pra ela dar um chupão no bigode dele, o homem ficou da cor de um tomate maduro! Só ficou mais calmo quando despachou 3 cabras de confiança pra dar uns “conselhos” ao tal “reporti” safado, só faltava essa… Bigode de Mel!
No outro dia a cidade toda estava comentando a vingança do capitão, ele mandou os cabras arrancarem o bigode do conquistador com um alicate. Todo mundo escutou os gritos de João, o repórter. Esta atitude do capitão revoltou a filha mimada e criada com tanto gosto, ela acabou revelando seu amor por João e enfrentando o pai. Desaforadamente ela disse tentando agredir o capitão: ”Papai, o bigode de João Merlo vai crescer de novo, e eu irei saciar-me naqueles fios de mel para sempre. CABELO CRESCE DE NOVO MEU PAI! O senhor não sabia disso?! Hoje mesmo vou embora deste fim de mundo, na garupa da lambreta de João. Há males que vêm para o bem! Esta sua atitude bárbara só fez acelerar minha liberdade, o bigode dele vai ficar grande e belo como era antes. Cabelo cresce meu pai!”. O capitão ficou de pé e depois de engolir uma talagada de pinga, dirigiu-se pra virgem apaixonada e falou sem alterar o tom de voz: “É filha, cabelo eu sei que cresce, mas ‘saco’ eu nunca tive notícia que crescesse de novo, e olha que eu ‘capo’ boi há mais de 40 anos…”.

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