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quarta-feira, 2 de outubro de 2019

RICARDO DE BENEDICTIS - CRÔNICA

“ELE NÃO TEM CARÁTER”
Ricardo De Benedictis
Lembro-me de um dos programas ‘RODA VIVA’, da TV CULTURA/SP, quando o entrevistado foi o grande escritor baiano, João Ubaldo Ribeiro, em uma das suas últimas aparições públicas, antes de falecer.
Na oportunidade, perguntado o que ele achava do caráter de Lula, ele disse sem pestanejar: “Ele não é bom nem mal caráter, uma vez que ele não tem caráter”.

Há poucos dias, perguntando a um amigo o porque de outro amigo de papos não estar mais aparecendo para trocar idéias, ele disse-me que o amigo sumido lhe explicara que não iria mais aos nossos bate-papos, uma vez que “eu era muito certo de estar com a razão em tudo”. E que ele não aceitava a minha posição.

No primeiro instante deixei passar. Depois fui pensar sobre o assunto e concluí que não sou radical, mas ele sim. Verificando seu rol de amizades, é fácil compreender. Um dos poucos amigos do grupo que não vota em Partido, sou eu. No meu rol de amizades, convivo com pessoas que pensam diferente, oferecem suas opiniões e mesmo que haja conflitos, nunca, nos meus quase oitenta anos de idade, nunca deixei de ser amigo de alguém, apenas porque pensa diferente de mim. Cheguei à conclusão de que o amigo em tela, é ‘o esquerdopata’ de que tanto se fala e que eu tinha dificuldades de identificar.

Gostaria de encerrar essa reflexão garantindo de que os radicais de direita e de esquerda sempre se distanciaram de mim. Minhas opiniões são claras, não me julgo melhor nem pior, mas acho que há uma regra que deve ser imutável na Democracia. Uma delas é a ‘convivência dos pensamentos contrários’. Imaginem, amigos, que para manter uma amizade teríamos que abrir mão da única virtude que nos levará ao túmulo: A CONSCIÊNCIA. Pois bem. Sinto-me triste, mas não mais me abalam tais comportamentos. Se um dia ele reaparecer, e acho que isso pode acontecer, o receberei de braços abertos, sem perguntar nada ou repreendê-lo. Às vezes, necessitamos de uma espécie de ‘retiro’ para por as coisas na ordem. Amigos de muitos anos não devem se deixar levar por paixões meramente ideológicas para se afastarem.

Já perdi alguns amigos por falhas em compromissos, grandes prejuízos, traições, etc. Perder amigo apenas por pensar diferente, é a primeira vez.

La prima volta, como diria o italiano, meu pai.

Não sei se o amigo vai voltar. Espero que sim. Mas, de antemão, garanto que não vou mudar meu pensamento sobre o que penso, a não ser que seja convencido, no plano das idéias. No mais, peço a Deus que lhe dê tirocínio, já que trata-se de uma pessoa culta e de certa inteligência, e que possa voltar para nosso reencontro. Caso contrário, paciência. Não o ofendemos pessoalmente, apenas temos pensamentos diversos sobre comportamentos radicais da direita e da esquerda. Para mim, ambas são ridículas e eu não consigo adotá-las.
Até a próxima.

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