O escritor tava pra perder a paciência, rodou a cidade toda
atrás de alguém que traduzisse uma carta de Freud, uma raridade, presente de um
tio que foi passear na Europa. Mas só escutou besteira. O primeiro a ser
consultado foi um médico que sempre se gabava do alemão aprendido na
universidade. O homem traduziu espontaneamente, parecia que tava lendo uma
cartilha: “Caro Dr., estou lhe escrevendo para cancelar minha conferência devido
a uma blenorragia que há meses incomoda-me. Assim que me livrar dessa
inflamação no canal, entrarei em contato. Abraços do adoentado amigo Freud”.
Depois que traduziu ainda comentou: “Dr. Freud devia estar precisando de um bom
urologista como eu!”. Como o Dr. gostava de tomar uma, ele ficou desconfiado e
pediu outro especialista em alemão pra traduzir, dessa vez foi um advogado,
esse também não perdeu tempo, leu de um fôlego só: “ Minha situação jurídica
encontra-se tão conturbada que esqueci por completo de mandar o registro do
imóvel. Espero vê-lo o mais breve possível para resolvermos um processo de
estupro em que me encontro envolvido. Abraços, Freud”. Aí a desconfiança do
escritor aumentou, tava na cara que um dos dois traduziu errado, mesmo assim
ele não desistiu, procurou um intelectual amante da poesia alemã. O homem tava
numa merda, a mulher tinha fugido com a manicure, mesmo assim fez questão de
contribuir, traduziu sem precisar dos óculos: “Estou atravessando uma fase
péssima, desconfio que minha mulher anda dando bola pra Jung, assim que o
adultério for confirmado, mando lhe avisar. Pra aliviar este desconforto,
arrumei um caso com o jardineiro do vizinho. Abraços do seu conformado amigo
Freud”. Aquilo já estava parecendo brincadeira, mesmo assim ele continuou
tentando. Por último foi um dentista o tradutor. Ele era neto de alemão e
traduziu sem fazer esforço, só não entendeu direito a assinatura: “Caro amigo
odontólogo, estou com o molar inferior causando fortes dores no maxilar, mas
assim que esta nevralgia desaparecer eu lhe comunico. Do seu Freud”.
Com aquelas quatro traduções completamente contraditórias e o livro
passando da hora de ser publicado, o jeito foi pegar todo o material
(traduções) e mandar pra um jornalista que se dizia conhecedor dos
idiomas europeus. Este passou quinze dias analisando as traduções e o
texto original, o escritor se animou, pela demora parecia que ia sair
alguma coisa séria, mas quando ele leu o resultado de quinze dias de
trabalho apresentado pelo jornalista, teve uma crise nervosa: “Caro
amigo, minha blenorragia piorou depois que minha mulher fugiu com Jung e
eu enlouquecido de dor de dente perdi a cabeça e estuprei o jardineiro
do vizinho. Espero contar com sua amizade não publicando esta tragédia
em seu jornal”. Depois dessa o jeito foi publicar a carta original.
Tempos depois a carta foi realmente traduzida, não passava de um
bilhete do Dr. Freud se livrando de uma papelada enviada por um dos
inúmeros pesquisadores chatos que o incomodavam na época.
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