CARNAVAL COM CINDERELA
Parte do que vou contar aqui eu presenciei, parte me foi relatado pelo amigo que protagonizou e foi vítima de uma brincadeira de mau gosto em pleno Carnaval, na Praça Castro Alves, em Salvador, no ano de 1973. E lá se vão cinquenta anos!
Como ele já me disse várias vezes que não queria seu nome na história, vou respeitar seu pedido. Vou designá-lo de Sabino.
Todos os anos, desde 1969 nós marcávamos encontro com os amigos em frente ao Cine Guarany, hoje Glauber Rocha. Ali existia O CACIQUE, famoso bar noturno que ficava aberto durante o dia no Carnaval para vender cerveja e tira-gostos à sua clientela. Depois disso, nos anos seguintes, passamos a frequentar a barraca de “Juvená”, que era nosso amigo de Brotas e que mantinha uma barraca muito famosa no Farol de Itapuâ. No Carnaval, ele montava seu esquema em frente ao Palácio dos Esportes, vendido recentemente e onde funcionava a ABCD – Associação Bahiana de Cronistas Desportivos, da qual eu era associado.
Voltemos ao caso de Sabino. Ele tinha uma bela namorada carioca de nome Beth e ambos estavam conosco bebericando umas geladas. No grupo estavam vários amigos, entre os quais Ernesto Marques, Horácio Neto, Carlos Uzel, eu e mais alguns amigos. Quando o Sol começou a arder de verdade, já era mais de meio-da, o Sabino e sua namorada sumiram do grupo. Os que ficaram, notaram que algo errado estava acontecendo. Pois ele saiu muito alterdo, empurrando quem aparecesse em sua frente. Sua namorada o acompanhava e tentave minimizar a situação, mas não conseguia. Eles se dirigiram à ladeira de São Bento e foram em frente. A Beth contou depois que o Sabino subiu a ladeira esmurrando quem descia a ladeira e parecia enlouquecido. Já na Av. 7 de Setembro, ele tomou o rumo da rua Paraíso e foram chegar na Av. Joana Angélica, onde havia estacionado o carro. Chegando ao local, o Sabino deitou-se no asfalto e dormiu. Alguns policiais que estavam por perto vieram ver o que acontecia e viram tratar-se de um casal de boa aparência, o carro placa do Rio de Janeiro e a namorada do Sabino explicou que eles haviam bebido umas cervejas e que, de uma hora para outra seu namorado teve um surto de cólera e passou a esmurrar e empurrar quem estivesse à sua frente. Eles perguntaram se ela queria ajuda, que poderiam levá-lo para um pronto-socorro e ela entregou-lhes as chaves do carro, sem notar que o Sabino havia acordado do desmaio.
Daqui em diante, vem o relato do Sabino: - Rapaz, a Beth entregou a chave do meu carro à Polícia e quando acordei, senti o drama. Se desse mole eles me levariam para a Delegacia e adeus Carnaval. Fingi que estva dormindo e fiquei de olho na mão do policial que segurava meu chaveiro. Quando ele se distraiu, dei o bote e tomei as chaves. Com o susto, eles ficaram paralisados e eu abri a porta do carro, mandei a Beth entrar na carona, agradeci aos dois guardas e caí fora. Ao chegar no apartamento onde estávamos hospedados foi que senti que estava com as mãos inchadas, alguns hematomas nos braços e no peito, um arranhão na perna direita e só. Tomei um banho e dormi até a noite, quando havíamos marcado encontrar a turma no Clube Costa Azul.
Mais tarde o Sabino dizia: - Quero saber quem foi o filho da puta que batizou minha cerveja. Se descobrir eu sou capaz de matar. Nenhum dos amigos se acusou ou disse ter visto algo. Ficou o feito por não feito. Nas rodas de papo, quando ele não estava, um ou outro amigo lembrava da história e pensava alto. Temos de nos cuidar. Desta feita foi com o Sabino. Da próxima, ninguém sabe...!
E não soube, mesmo!
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