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sábado, 17 de novembro de 2018

NANDO DA COSTA LIMA - CRÔNICA


O Rei do Bode
Nando da Costa Lima
        Da Choça até o Furado da Roseira, não tinha um criador que tivesse mais bode que Elpídio. Era o rei do bode, o solteirão mais cobiçado da caatinga! Elpidão arrasava, além de só andar bem vestido, tinha uma vistinha de ouro na dentadura, que acabava de matar a mulherada de paixão. Muitos tentavam imitá-lo, mas não chegavam nem aos pés, só ele com aquele palito no canto da boca e o dente de ouro à vista conseguia botar as meninas pra suspirar. Ter um caso com aquele “pão” (na época “pão” era o gato de hoje, e gato era sinônimo de ladrão) era o sonho da mulherada. Até mulher casada perdia as estribeiras quando ele passava no Corcel cor de abóbora com a jante roxa e luz interna de boate além dos pneus faixa branca e a frase escrita no para-choque traseiro: “100% macho”. O rei do bode tinha bom gosto, só comia filé a finas ervas acompanhadas do melhor vinho composto do mundo. E era um violeiro razoável, fazia questão de falar que aprendeu a tocar na beira do rio Gavião. Seu fraco eram as meninas de “Sompaulo”, tinham tudo com ele. Levava logo pro restaurante dormitório de Nilson. E a rotina de Elpídio era a mesma, quando não estava contando os bodes ou namorando, tava diante do espelho admirando a “lindreza” e falando pra mãe que se fosse mais novo ia tentar ser modelo em Conquista, modelo macho, daqueles que só faz propaganda de cigarro e bebidas fortes!
       Mas nem tudo é pra sempre, principalmente beleza! O Rei do Bode de um dia pra outro começou a amarelar e perder peso. Os entendidos foram em cima: deve ser próstata. Desse dia em diante a vida dele virou um inferno. Já tinha batido em meia dúzia! Era só ouvir falar em toque retal que o homem endoidava. Médico ele não queria nem ver a cara, pra ele Dr. que forma pra ficar futucando o rabo dos outros só pode ser um degenerado! Já tinha falado pra família que no dele só ele pegava. Já imaginou, ele, o maior namorador do trecho, deitar a bunda pra cima pra um “dotozim” qualquer cutucar! Pudessem esquecer... A família não desistia, todo dia levava um amigo que já tinha feito o exame de toque, explicaram que não precisava ficar de bunda pra cima, chegaram até a levar Dr. Walmick que foi colocado pra fora assim que Elpídio conferiu o tamanho dos dedos do Dr! Aqui não! No meu nem o Papa mete o dedo! A família já estava pra desistir, foi aí que Bilau teve uma ideia brilhante: vamos encher o sacana de pinga que aí ele nem nota a dedada. E não deu outra, estava tão bêbado que quase dormiu na sala de exame, voltou pra casa que nem viu. Só fizeram jogar na cama.O médico explicou que ele não tinha nada na próstata, era só uma “virose”.
No outro dia cedo Elpídio pulou da cama e gritou pra mãe – Hoje eu faço o tal do exame sem beber nada, liga pro doutor -. A velha explicou pacientemente tudo que ocorreu, que o exame já tinha sido feito. Mas Elpídio insistiu, liga pro doutor! Ligar pra quê meu filho? – Fala pra ele que o Rei do Bode tá perguntando quanto ele cobra por um tratamento intensivo em casa, não precisa falar pra ninguém que se trata de um retoque, é só entre nós dois! A mãe de Elpídio quase desmaia de desgosto, balançou a cabeça com ar de reprovação e resmungou pra comadre – Bem que o povo fala que filho de cachaceiro não pode beber nem água em copo de vidro! O pai desse menino nunca me enganou, quando não tava pescando tava caçando onça com João Rasga Fronha. Também um doutor com a mão daquele tamanho deveria procurar outro ramo da medicina. Pra mim esses “dotô” que mexe com o cú alheio tinha que ser mais “franzino”, não podia pesar mais de 50 kg! Mas como toda mãe de solteirão, acabou cedendo,  e olhando de cara feia pro filho pegou o telefone e não se fez de rogada: “Dr., aqui é a mãe da Rainha do Bode...”

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