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sábado, 19 de janeiro de 2019

NANDO DA COSTA LIMA - CRÔNICA


Deu Tudo Errado
 - Antero, cê tá ficando doido?
 - Por que doido mãe?
- Essas roupas de fazendeiro, isto deve ter custado os olhos da cara, quanto foi isso?
- Sei lá, nem tô fazendo conta, o retorno vai compensar!
- Que retorno? Você tá pensando que a televisão vai te contratar só porque você vai se fantasiar de cantor sertanejo?
- Não é nada disso, eu comprei essas roupas pra tirar o pé da lama, vou aplicar o golpe do baú, gastei meu dinheiro todo nesse traje, só ficou o que dá pra eu mandar fazer um book.
- Que diabo é isso?
- É um tipo de álbum mãe, todo artista faz.
- Mas você nunca foi artista.
- É aí que está meu plano! Semana passada eu estive em Itapetinga, e conheci uma moça cheia da grana, não é lá muito bonita, mas os bois do pai dela compensam qualquer feiura.  Só que o velho só quer saber de genro fazendeiro. Eu já falei pra ela que meu pai é dono de metade do Mato Grosso, isto antes de dividir.
- Mas como é que você foi achar seu pai? Nem eu sei quem é!
- Isto é só parte do plano, depois que eu mandar os retratos ele vai cair como um pato.
- Retrato? Eu não tô entendendo nada!
- É o seguinte, eu vou aproveitar a exposição e tirar umas fotos ao lado dos animais mais bonitos que tiver, depois é só mandar fazer um pôster do que ficar melhor e mandar pra Nalvinha, o velho vai pensar que os bois são meus. Com um pai dono de metade do Mato Grosso e criando gado daquela qualidade, ele é que vai apressar o casório.
- É meu filho, tomara que tudo saia bem, só assim eu vou ter meu sítio.
- Sítio não mãe, uma fazenda cheia de nelore, quando o velho descobrir que eu sou um duro, Nalvinha já vai estar com um neto dele no bucho. Depois é só botar o nome dele no moleque que tudo fica resolvido.
- E se ele mandar te matar?
- Mata nada, ele é muito orgulhoso pra querer um neto sem pai!
       No dia de por o plano em prática, Antero passou mais de uma hora debaixo do chuveiro, o traje já estava em cima da cama, chapéu, jaleco, camisa quadriculada, calça lee e bota cano longo. Tudo da melhor qualidade, não pegou nem ônibus, foi de táxi pra não sujar a roupa.
      Depois de rodar o parque todo e olhar boi por boi, ele escolheu o que mais lhe agradou, era um garrote imenso. E foi esse boião que atrapalhou a vida dele. Quando Antero ficou ao lado do touro pra ser fotografado, o bicho se virou e deu uma cagada que melou ele do chapéu panamá às botas cano longo, estas por sinal ficaram cheias, o boi tava com uma disenteria tão “braba” que só saiu aquela água preta, pelo cheiro parecia até que era de gente. O fotógrafo procurou arrumar as coisas pra não perder o freguês, tentou convencer Antero a tirar as fotos mesmo melado, além disso, cheiro não sai em retrato. Era até melhor pra enganar a futura noiva, ia parecer que ele tava trabalhando no curral da fazenda do pai. Ele achou que aquilo só podia ser gozação, pegou o coitado e esfregou a cara no estrume que restou no chão, a polícia passou na hora, só não prendeu os dois pra não sujar a viatura e olha que ele desejou ser preso, seria bem melhor! É que quando começou a tirar o grosso pra poder voltar pra casa, deu de cara com Nalvinha e o pai, quando ela o viu naquele estado, colocou o lenço no nariz e perguntou: - Ué Antero, eu pensei que você estava no Mato Grosso, o que você tá fazendo todo melado de estrume encostado no garrote campeão de papai??? – Ele ficou mudo de nervoso, não tinha onde enfiar a cara. Ela notou seu constrangimento e mudou a conversa, fez de conta que nada tinha acontecido e pra dar um ar de naturalidade e aliviar a tensão, chamou o pai pra mais perto e apresentou Antero: - Esse é o rapaz que eu falei pra mamãe que estava gostando- O velho franziu a testa e resmungou de cara feia: - Quando sua mãe me falou que o caça-dotes que estava dando em cima de você tava numa merda, eu pensei que era só força de expressão...

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