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sábado, 21 de setembro de 2019

NANDO DA COSTA LIMA - CONTO


RAZÃO
Nando da Costa Lima
  Sou puta... não me restou outra escolha, é a vida! Sou cria duma das muitas favelas desse nosso País! A única pessoa que ainda me lembro com carinho é a minha mãe..., uma mulata de rosto arredondado que parece ter vindo ao mundo para sofrer. Ela, tenho certeza, sofreu mais do que eu! E isto às vezes até me serve de consolo. Meu pesadelo começou quando eu tinha nove anos, parece mentira, mas eu só tinha esta idade quando meu padrasto me “usou” pela primeira vez... minha mãe, coitada, não pôde fazer nada. Teve que ficar com meus dois irmãos enquanto ele me comia, ainda tentou esconder o que se passava tapando os olhos dos meninos, mesmo assim meus gritos assustaram... eles choraram o tempo todo. Eu lembro que depois que acabou tudo minha mãe não sabia se me lavava ou se me abraçava,se sentia culpada por aquilo tudo. Depois desse dia minha vida, que já não era boa, virou um inferno, eu ficava imaginando quando chegava o fim de semana. Era só ele beber além da conta que acontecia tudo de novo. Um dia ele bateuem mãe só porque ela tentou me esconder no barraco da vizinha. Nunca mais me escondeu... quando ele chegava ela saía com os meninos e me deixava só... naqueles momentos o tempo parecia parar, eram horas de tortura até ele conseguir se satisfazer, eu fechava os olhos e ficava rezando e chorando até ele acabar. Teve uma vez que ele chegou acompanhando de um velho, os dois estavam bêbados. Meu padrasto cochichou no canto do barraco com minha mãe, mas deu pra eu escutar: aquele velho era o dono do buteco que meu padrasto bebia e fazia compras, ele ia pagar uma dívida com o meu corpo. Mãe saiu correndo e chorando, nem quis ficar pra ver...
Mamãe sempre me dava um remédio amargo pra beber, dizia que era pra eu não emprenhar daquele safado, mas mesmo vivendo daquele jeito ainda dava pra notar que ela gostava dele, tinha até ciúme! Eu já tava ficando moça antes do tempo e ela vivia tentando esconder minhas pernas e meus peitos que estavam começando a aparecer. Isto também levou meu padrasto a ficar diferente comigo, começou a trazer até doce de presente. Aquilo deixava minha mãe doente, e eu, menina com apenas onze anos, recebia e agradecia os doces já sabendo que mais tarde pagaria com meu corpo. Teve uma noite que mãe me chamou e falou que em pouco tempo ela ia me livrar daquele sofrimento, disse quase chorando. Imaginei que a gente ia fugir pro interior, ela sempre me contava de uma irmã que morava na roça.
       Só depois que encontrei os dois mortos é que fui entender porque ela me garantiu que ia me livrar daquela vida. Deve ter sangrado ele na hora que tava dormindo, morreu na cama. Só não entendi porque ela tirou a própria vida por causa daquele traste... a vizinha falou que foi por amor, parece brincadeira...
      Sou puta seu delegado..., e se tirei a vida da minha filha com apenas dois dias de nascida, o senhor pode ter certeza que tive ra

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