DELIRIUM TREMENS
Nando da
Costa Lima

Depois de anos
convivendo com aquela agonia noturna, Marinalva decidiu dar um ultimato pro
marido, tinha cansado de carregar aquela “mala”. Daquele dia em diante, ou ele
parava de beber, ou ela ia embora. Deu o prazo de 48 horas pra ele se decidir,
já estava de saco cheio daquela cobra. Ficaria na casa da mãe até ele resolver.
Caso ele se decidisse pela birita, ela mandaria buscar os filhos. Damião nesse
dia tomou todas, tava tão carente que pediu ao filho mais velho aos prantos que
dormisse ao seu lado para aliviá-lo dos delírios noturnos. E foi graças ao
rapaz que o casamento de Damião foi salvo... É que nessa noite, seu filho matou
uma cascavel enorme que passeava por cima da cama do pai. Marinalva quase
endoidou quando soube, conviveu tanto tempo com aquela cobra pensando que não
passava de alucinação de bêbado. Damião ficou tão alegre que triplicou a
cachaça e Marinalva tomou gosto pela pinga depois do problema resolvido. Foi
nas ondas do marido e largou até o emprego de professora pra dedicar tempo
integral ao copo, bebia de igual pra igual com o maridão.
Hoje, três anos
depois do ocorrido, nós estamos aqui no velório de Marinalva (que morreu de
cirrose hepática) escutando Damião contestar o atestado de óbito e jurar de pé
junto que quem matou sua mulher foi uma sucuri com mais de 20 metros, que
ultimamente vinha saindo de dentro do guarda-roupa, ele tinha certeza que
Marinalva morreu foi de susto, a bicha parecia um dragão, só não tinha asa.
Desta vez resolveram chamar um neurologista pra examinar Damião, mas doutor
Tolentino se recusou, argumentando que aquilo era problema do IBAMA. Este órgão
por sua vez mandou um memorando explicando que não tinha armadilha pra pegar
alucinação. E o interessante é que de cada dez amigos de copo presentes no
velório, nove já tinham visto a sucuri descrita pelo viúvo...
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