UM PAÍS ENLOUQUECIDO
Jeremias Macário
O que leva um vigilante de um supermercado
deitar em cima de um rapaz numa ação de estrangulamento e sufocá-lo até a
morte, enquanto pessoas, praticamente passivas, tiram fotos? Em outra imagem, o
governador do Rio de Janeiro, de nome difícil, ao lado de um oficial da
polícia, elogia a corporação, cujos soldados, pelo que ficou evidenciado
através de testemunhas, praticaram uma execução sumária de um grupo de bandidos
ou traficantes já rendidos numa casa.
Estamos diante de um
país enlouquecido que banalizou a violência e vivencia o retrocesso primitivo,
numa guerra de fuzis, metralhadoras e de ódio contra o pensamento contrário do
outro. As tragédias com centenas e milhares de mortes se sucedem e depois o
silêncio sepulta a impunidade. O quê leva tanta gente intolerante fanática
religiosa atacar outra igreja e até espancar quem confessa outra crença? As
igrejas conservadoras e reacionárias hoje estão nas periferias explorando os
mais pobres e incultos.
Estamos sim, num país
enlouquecido que perdeu sua identidade cultural, ou nunca teve, que vota com
raiva, com interesses e para se vingar de outros seguidores opostos, mesmo que
seja um candidato ignóbil, despreparado, do atraso e até nos mesmos corruptos
de sempre.Diante de tantas loucuras e paradoxos, de baixos índices na educação,
de corredores das mortes nos hospitais, de tantas misérias e profundas
desigualdades sociais, lá se foi o futuro do distante infinito perdido do
horizonte.
O quê leva um bando
saquear uma carga de mercadorias, enquanto uma criatura se debate morrendo numa
cabine de um caminhão, vítima de um acidente de trânsito, e ninguém aparece
para socorrê-lo? Um homem desce porrada numa mulher numa volúpia animalesca até
deixa-la sangrando e com o rosto e seus corpo desfigurados, quando não a mata
com pauladas, tiros ou várias facadas.
É um país enlouquecido
na República dos Generais, do porta voz ao estilo do maluco Trump, onde um
ministro demitido bate-boca em público pelas redes sociais com o presidente,
tratando-o o tempo todo como capitão. O vice, general Mourão, que amansou a
fala (está mais para Morão de amarrar burros), queria lotear funcionários só
para classificar documentos secretos e ultrassecretos. Da transparência para a
censura e o sigilo.
Enlouquecido por uma reformada
Previdência Social que ninguém entende seu intrincado labirinto de alíquotas,
pedágios, pontos, transições, tetos e tantos outros cálculos novelescos nas
narrativas cansativas e enfadonhas das emissoras de televisão, jornais e
revistas, a não ser na simplificação entre as diferenças de idade mínima da mulher
e do homem que sempre morre primeiro, mas tem que esperar mais tempo para
receber o minguado benefício que não dá para comprar um pacote de remédio.
No pacote fatiado do
anticrime que dá licença para o soldado matar, baseada na subjetividade da
legítima defesa (já existe a falsificação de provas), a Câmara dos Deputados
quer deletar o bandido do“Caixa 2” no rol da corrupção. O ministro da “Justiça”
que criminalizava e condenava a prática, agora enlouqueceu, desdizendoo que
pregava antes como corrupto quem usava deste artifício maligno de roubo do
dinheiro público.
Estamos no país
enlouquecido das meninas que vestem rosa e dos meninos que vestem azul. No país
que não serve para criar meninas e que seus pais devem fugir desta “pátria
amada” onde seus filhos não devem estudar fora de suas famílias. Não é mesmo um
país enlouquecido? O nome do partido nazista era Nacional Socialismo, porque
havia uma ameaça comunista. As lutas deviam ser contra as indústrias do ódio,
do medo e das mentiras.
Deu a louca no Planalto militarizado com tanto
general batendo cabeça, ou continência, para o capitão-presidente que fez um
pacto secreto, ou de sangue, com o exército. Nas trapalhadas com sinais de
retrocesso e ameaça à democracia, lá vem um agrado mimoso à imprensa sempre
vista como inimiga entre quatro paredes. A democracia tão maltratada, nunca foi
tão bajulada ou falseada.
Estamos no país
enlouquecido pelo carnaval desigual dos súditos apanhando em filas para montar
uma barraca nos asfaltos “dos pipocas” e aplaudir os reis e rainhas nos
camarotes e trios luxuosos enchendo seus sacos de dinheiro. País enlouquecido
das multidões nas passeatas e desfiles dos sambas, dos evangélicos e dos LGBTs,
e vazio nos protestos contra as injustiças da “Justiça” e as violações dos
direitos humanos.
Os contra os privilégios de ontem, hoje se
agarram a eles pelo foro privilegiado para se esconderem em seus malfeitos e
até suspender as investigações. O capitão diz que seu governo será desprovido
de ideologia, mas condena a esquerda comunistas, e até oferece ajuda
humanitária ao país vizinho estraçalhado pelo capitalismo imperialista. Os
generais falampelo seu porta voz engravatado, com sua pose de humanitário e bom
moço. Como não existe ideologia?
Barbaridade é o que estamos vendo e vivendo, pois o Brasil é quem precisa de
ajuda humanaurgente aos seus milhões de famintos.
O que é trágico neste
momento do país é que as fábricas do ódio, do medo e da mentira estão se
transformando nas políticas públicas de educação, assim afirma o sociólogo
Boaventura de Sousa Santos. Para ele, uma escola sem partido é uma escola de um
partido único, da ideia de que só há um pensamento válido por aqueles que estão
no poder. O sociólogo diz ainda que se a escola sem partido tiver futuro, o
Brasil não tem futuro, isto é, vai se fechar num mundo anacrônico. É um
atentado à democracia, da qual eles fazem questão de propalar de que ela é
vital.
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