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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

JEREMIAS MACÁRIO - CRÔNICA

A MENTIRA DO SALÁRIO MÍNIMO NO
                 BRASIL DO TRABALHADOR ESCRAVO
Jeremias Macário 
Como tantas outras no Brasil, a lei do salário mínimo padrão obrigatório, como parâmetro para que todo trabalhador tenha esse mísero ganho no final de cada mês, é uma deslavada mentira. A mídia anuncia que aumentou o número de carteiras assinadas no pais, mas não diz que milhares e milhares de empresas burlam o decreto e não pagam o valor real. É o conto do vigário da carteira que foi institucionalizado.
  Aqui mesmo em Vitória da Conquista, principalmente médias e pequenas empresas, conheço várias que assinam a carteira, mas por fora só pagam a metade do mínimo, quando muito, 700 reais. É só fiscalizar, mas isso não existe porque a reforma trabalhista escravizou o pobre trabalhador, e ainda veio o capitão-presidente e acabou com o Ministério do Trabalho.
A CHAMADA “RACHADINHA”
  A prática de assinar a carteira (não recolhem o FGTS e outros benefícios) e combinar com o empregado pagar outro valor bem abaixo do fixado está ficando comum. Diante da necessidade, e sabendo que uma enorme fila lá fora aceita estas mesmas condições humilhantes, o candidato não tem outra saída. É a chamada “rachadinha” trabalhista.Não adiante ter capacidade e preparo.
  Isso ocorre em todas as profissões, inclusive de professores. A maioria das escolinhas particulares de Conquista assina a carteira do professor, mas avisa logo que só paga 500 ou 700 reaismensais por três ou quatro turnos de aulas por semana. Para ostentar e intimidar o pretendente a aceitar a oferta, o diretor, ou diretora, exibe um monte de currículos em sua mesa.
É muito vergonhoso e triste um professor no Brasil ter que se sujeitar a esse tipo de exploração desprezível, mas outras categorias também estão incluídas nesse pacote de escravidão. As empresas fazem isso porque sabem que não são incomodadas por fiscais do governo. Por outro lado, a mídia só faz mostrar a estatística do IBGE, mas não investiga o outro lado da verdade. Não divulga o outro lado macabro da moeda.
CONTO DO VIGÁRIO
  É praticamente trabalhar de graça quem recebe 500 ou 700 reais por mês. Depois que a pessoa tira o dinheiro do transporte (a empresa não paga), no caso de Conquista, se for só um ônibus por dia, o funcionário fica com cerca de 400 a 600 reais, isso se não fizer um lanche na rua. Muitos trabalham com fome para ganhar uns trocados no final do mês.
  Nenhum órgão, sindicato ou entidade do trabalhador investiga, fiscaliza e denuncia esta tremenda irregularidade do mercado. Fazem vistas grossas. Todos preferem acreditar na mentira e no conto do vigário do salário mínimo.  Aliás, o brasileiro está sendo massacrado pelas fake news e pelas mentiras publicitárias, sem reagir e sem se indignar. Uma claque de lunáticos e fanáticos invadiu nosso território.
   Dias desses fiquei horrorizado quando ouvi de uma psicóloga da área de recursos humanos afirmar que o empregado capaz e dedicado tem o poder de barganhar aumento salarial. Ela está totalmente por fora da atual realidade brasileira. Está sonhando! Estamos sim, num regime de escravidão, onde milhões se sujeitam a ganhar menos de um salário mínimo para não passar fome e, mesmo assim, passando.
OS TERCEIRIZADORES VIGARISTAS
 Com a reforma trabalhista e o fim do Ministério do Trabalho, o Brasil virou terra de ninguém onde os coronéis de chibata e arma na mão ditam as ordens. O operário em geral segue de cabeça baixa, recebendo as migalhas, com exceção de algumas classes mais fortes e privilegiadas, como petroleiros, químicos, metalúrgicos, bancários e outras.
Está aí para constatar os fatos a praga da terceirização. Aproveitadores e oportunistas montam firmas sem dinheiro, e até mesmo irregulares, verdadeiras arapucas, para explorar mão-de-obra barata e escrava. Ganham licitações e contratos do poder público e do setor privado na base das tramoias. Depois deitam e rolam descumprindo as “leis”. Atrasam os salários, não pagam décimo terceiro, não recolhem o FGTS e outros benefícios. Os “responsáveis”nunca são punidos.
  Muitos abrem um escritório fajuto, sem nenhuma estrutura, pegam a grana do contratante terceirizador e se mandam com o dinheiro do trabalhador. Geralmente não dá em nada, e o empregado fica a ver navios, passando fome e outras necessidades. Estamos no Brasil faroeste das vigarices e das mentiras, como a do salário mínimo da carteira assinada.
Neste país das castas, só os funcionários públicos diretos do executivo, legislativo e judiciário são os privilegiados, muitos com ganhos de até 100 mil reais mensais. Nunca falta dinheiro e não há atrasos no pagamento desses “servidores” dos três poderes, que jamais sofrem cortes de verbas. Eles continuam mamando nas tetas do povo, que come o “pão que o diabo amassou”, com a redução de recursos na educação, na saúde e nos programas sociais em geral, e ainda são vítimas da mentira do salário mínimo.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

CÂMARA DE CONQUISTA HOMENAGEIA JOAQUIM CORREIA:

Câmara festeja Joaquim Correia e aniversário da Lei Orgânica com a exposição “Conquista Republicana”

13/02/2020 22:30:00

A vida de Joaquim Correia de Melo, último intendente conquistense durante a Monarquia (1822-1889) e o primeiro da fase republicana, proclamada em 1889, é tema da exposição “Conquista Republicana”, aberta ao público na noite desta quinta-feira (13). A iniciativa é da Câmara de Vereadores por meio do Memorial Câmara. Além de Joaquim Correia, a exposição também retrata o aniversário de 30 anos da Lei Orgânica de Vitória da Conquista, discutida e aprovada pela Câmara entre o final dos anos 80 e início dos 90, no contexto da redemocratização brasileira e promulgação da Constituição Cidadã, 1988. 
Participaram da solenidade de estreia da exposição, o presidente da Casa, Luciano Gomes (PL), o prefeito Herzem Gusmão, os vereadores Luís Carlos Dudé (PTB), Edjaime Rosa Bibia (MDB) e Rodrigo Moreira (PP), além de membros da administração municipal, ex-vereadores das legislaturas que discutiram a Lei Orgânica, parentes de Joaquim Correia, historiadores e memorialistas.  
O presidente Luciano Gomes afirmou que retomar as atividades do Memorial é uma grande oportunidade. Ele explicou que em 2019 foram feitos todos os esforços para que o espaço fosse reaberto ao público. Na época, a atividade de reestreia foi uma exposição sobre o político, jornalista e poeta Maneca Grosso. De acordo com Luciano, o saldo é positivo, pois o Memorial recebeu visitantes ao longo de todo o ano. Para o parlamentar, a exposição atual é um reconhecimento merecido a personalidades que têm grande contribuição para o desenvolvimento do município. 
Já o prefeito Herzem Gusmão destacou a ação da Câmara e a importância de muitas autoridades ao longo da história conquistense. Ele ainda apoiou a proposta de se criar uma medalha em homenagem a João Gonçalves da Costa, fundador do Arraial da Conquista, núcleo que deu origem a Vitória da Conquista. 
A coordenadora do Memorial, Fabiana Prado, ressaltou que a exposição enfatiza a importância da autonomia do município desde a proclamação da República. Ela explicou que Joaquim Correia de Melo foi presidente do Conselho Municipal naquele período e ainda se tornaria o primeiro intendente eleito a se tornar chefe do poder Executivo de Conquista naqueles primeiros anos de República. 
Homenagem – Joaquim Correia de Melo foi o primeiro intendente eleito na cidade de Conquista no período republicano. Na época, ele havia sido nomeado intendente interino, já que presidia o Colegiado Municipal, nome dado à Câmara daquele período. Sua administração aconteceu de 1891 a 1896. Intendente era uma figura da administração pública, uma espécie do que viria a ser a função de prefeito.
Muitos foram os serviços prestados por Joaquim Correia. São exemplos:
Busca pela extinção do banditismo, que assolava o município desde 1895; 
Construção de um barracão para feirantes; 
Iluminação de ruas com lampiões; 
Criação da guarda municipal;
Também sancionou as primeiras leis municipais, dentre as quais a que obrigava o registro do ferro do gado nos livros de marca de fogo.
Lei Orgânica Municipal – A Constituição Cidadã, promulgada em 1988, é um marco de um dos mais importantes momentos da História do Brasil, a redemocratização. Entre as inovações, a nova Constituição trouxe a obrigatoriedade da Lei Orgânica para os municípios (art. 29). Naquele mesmo ano, cidades de todo o país passaram a discutir as competências das câmaras e prefeituras.
Em Vitória da Conquista, duas legislaturas participaram das discussões sobre a Lei Orgânica: vereadores do período de 1985 a 1988 iniciaram os debates e a legislatura seguinte, 1989-1992, finalizou o processo. Em 1990 foi promulgada a Lei Orgânica do Município de Vitória da Conquista, Lei 528/1990. 
Os detalhes desse processo e sobre a vida de Joaquim Correia podem ser conferidos na exposição “Conquista Republicana”.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

JEREMIAS MACÁRIO - CRÔNICA

EU NÃO AMO E AMO ESTE PAÍS
Jeremias Macário  
É muito doído ver meus compatriotas sendo deportados dos Estados Unidos dentro de um avião como se fossem bandidos acorrentados e algemados, e aqui despejados como se fossem sacos de lixo e objetos. O chefe da nossa nação, simplesmente, não contestou o tratamento humilhante, e justificou que cada país tem suas leis, apenas para bajular o Tio Sam (Donald Trump).
 Sabemos, no entanto, que muitos ianques aqui vivem de forma irregular, mas não são importunados pela nossa Polícia Federal. Ao contrário, são tratados como príncipes e superiores, com direitos a empregos e outras regalias. É triste ainda sentir que, em pleno século XXI, ainda carregamos dentro de nós o vírus do complexo de vira-lata, de Nelson Rodrigues.Falta-nos a autoestima, e sobra o endeusamento aos gringos estrangeiros.
 Aos norte-americanos foi dispensado o visto de entrada no Brasil, enquanto os brasileiros, como ainda nos tempos coloniais, têm que se ajoelhar e passarem por uma rigorosa sabatina e investigação se quiserem conhecer os deslumbramentos das avenidas capitalistas de Nova Iorque; olhar a Casa Branca de Washington; ou os parques temáticos de Orlando, na Flórida.
NÃO AMO
  Perdoem-me a franqueza, mas confesso que não amo este país onde um governante nos faz baixar a cabeça, e não responde à altura com a mesma moeda, diante do menosprezo que os países desenvolvidos do norte expressam em relação ao nosso povo. Abrimos as portas e, como pagamento, eles nos fecham com suas muralhas de cimento e ferro.
  Não amo este país onde milhares estão sendo obrigados a furar fronteiras de arames farpados e pular muros com “coiotes”, arriscando suas vidas, porque aqui a sua pátria não cuida de seus filhos e não oferece a oportunidade de um futuro melhor e promissor. Em Portugal e na Europa nossos brasileiros são vistos como candangos.
Não amo este país das injustiças sociais onde todos os dias as pessoas clamam e choram diante dos televisores pedindo por justiça porque foram vítimas da violência brutal de policiais ou bandidos. Não amo este país de tantos excluídos de pés no chão convivendo nas imundices dos esgotos por falta de saneamento básico. 

sábado, 1 de fevereiro de 2020

NANDO DA COSTA LIMA - CONTO

Lilita

Nando da Costa Lima
De vez em quando o passado conta um caso… O dotô tava elogiando a poesia de Iris Silveira pra um poeta paulistano que estava lhe visitando. Tava a família toda almoçando na sala grande. Ninguém estava prestando atenção, éramos crianças e a poesia não iria chamar a nossa curiosidade, quanto mais depois que Tia Melinha chegou anunciando que tinha conseguido com Dr. Ubaldino o Shangrilá emprestado. O sítio tinha até piscina, uma raridade na época. Tava todo mundo entusiasmado, os adultos com a poesia de Iris e o whisky Cavalo Branco, e a meninada vibrava ao saber que no próximo domingo tinha passeio no Shangrilá.
Foi quando Lilita entrou porta adentro e foi logo dando uma bronca em minha mãe: “Maria, se esses funcionários tentarem me impedir de entrar novamente eu nunca mais ponho os pés nessa casa”. Depois dirigiu-se a meu pai e continuou a bronca: “Miranda você é um médico e não um carrasco, mude seus funcionários, parece até que é Maria que manda aqui. Manda servir logo minha Jurubeba que eu não quero nem almoçar aqui. Vou pra casa de Pedro e Amélia. Pelo menos lá eu sou mais bem recebida. Até Arlindo, que gosta de tomar boca, me trata melhor que seus funcionários”. Eu também gosto muito da casa de Capitulino e Edi, mas aquela meninada… Parece uma escola! Eu fico incomodada. Meu pai começou a dar risada enquanto minha mãe sacudia a cabeça e o poeta de São Paulo que estava de passagem não entendia nada. Como aquela mulher desaforada entrou na casa de seu amigo, falou o que quis e saiu de cabeça erguida? Até a meninada respeitava e fazia silêncio quando ela falava. É claro que só a visita ficou meio perdida. Quando saímos da mesa meu pai recebeu um telefonema e teve que sair com urgência pra atender um paciente e deixou minha mãe e Dida fazendo companhia para o visitante e sua esposa. Foi quando ele meio que sem graça perguntou pra minha mãe quem era aquela senhora vestida com cobertas que entrou na hora do almoço, achou estranho a maneira dela se dirigir ao meu pai, minha mãe explicou que era muito amiga e brincalhona, apesar de sua aparência exótica e de falar como se estivesse representando. Era uma atriz, gostava de puxar pelo “r” e pelo “l”. A mulher da visita quis saber por que ela usava aquelas cobertas em forma de vestido de noiva. Foi aí que Dida contou uma história que nem eu sabia e despertou um interesse incrível na minha imaginação de criança. Segundo Dida, Lilita era uma moça que veio para Conquista ainda nova para trabalhar no comércio. Uma mulher normal com uma personalidade forte pra época, o que junto com a sua beleza física, atraía a atenção de vários rapazes, que ela dispensava educadamente. Talvez por ser uma pessoa inteligente achava que nunca conseguiria conviver com alguém que pelo menos não tivesse o mesmo nível cultural dela. Mas um dia o coração da jovem bateu mais forte ao conhecer um jovem da terra que estudava na capital e estava aqui de férias, foi amor à primeira vista. Um amor recíproco que devido à condição do jovem não pode perdurar. Ele pertencia a uma família tradicional. Para ele ficou difícil, naquele tempo a opinião dos familiares valia muito e tinha o poder de interromper um relacionamento por mais que os jovens se amassem. Ele foi mandado de volta pra concluir os estudos já sabendo que não poderia voltar a se relacionar com a jovem que tanto queria. “Parece que estão assim, todas as almas do mundo gritando dentro de mim”. E o desespero de tanta gente interferindo no seu relacionamento levou a jovem a romper a linha da razão, surtou e nunca mais voltou ao normal. Como o seu sonho de casar com seu único e verdadeiro amor foi interrompido, ela saiu pelas ruas vestida de noiva, só que o vestido era feito com cobertores, talvez pelo frio que fazia na cidade. E este passou a ser seu traje até o fim da vida. Ele também mudou, e apesar de manter uma vida normal, bebia em excesso e morreu relativamente novo. Não sei até onde vai a veracidade desta história que se perdeu no tempo, os seus protagonistas nunca comentavam o fato. Mas de Lilita eu tenho certeza de que muita gente ainda se lembra com muito carinho… A irreverente noiva com seu exótico vestido de cobertores faz parte da história da cidade. E o poeta paulista fez até um soneto inspirado em Lilita. Só não sei onde se encontra… Mas pela cara que meu pai fez quando leu, tenho certeza de que não era bom. Não estava à altura da musa.
P.S. Essa história tem outras versões.

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