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sexta-feira, 20 de março de 2020

JEREMIAS MACÁRIO - CRÔNICA

A PANDEMIA JORNALÍSTICA E O MEIO
AMBIENTE NUM PLANETA DESGASTADO
O OUTRO LADO DA HISTÓRIA DE UMA DESPOLUIÇÃO FORÇADA DA NATUREZA
Jeremias Macário
  Não há dúvida de que a situação da propagação do coronavírus, o Covd-19, no planeta já desgastado por doenças e desastres da natureza, provocados pela intervenção predatória humana, é muita séria e requer cuidados. No entanto, houve, desde o início, uma pandemia no noticiário jornalístico que criou pânico e histeria na população, com informações desencontradas e muitas outras que nem foram esclarecidas.
  Na história da humanidade já ocorreram várias pandemias de vírus, pestes e doenças, como a bubônica no século XVIII e a gripe espanhola, em 1918, mas esta é devastadora e está fazendo a terra parar, como na música “No Dia Em Que a Terra Parou”, do místico compositor baiano Raul Seixas. A mídia tem o papel de fazer sua parte na divulgação, mas não sensacionalismo  exagerados, na grande maioria, matérias demasiadamente repetitivas ao longo do dia.
  As medidas de confinamentos e os decretos, muitos dos quais desastrosos, de fechamento de repartições, portos, aeroportos, rodoviárias, serviços de alimentação (bares e restaurantes), hotéis e de outras atividades batem em cadeias em nossas portas, e não se sabe aonde vamos chegar nos próximos dias. Por que não cancelaram o carnaval?Hipocrisia e falta de moral! A maioria individualista só pensa em abastecer suas dispensas. Tudo parece um apocalipse de final de mundo.
O MEIO AMBIENTE AGRADECE
 De forma desordenada e abrupta, prefeitos e governadores tomam suas posições de fechamento de suas fronteiras e criam as mais diversas barreiras. Nessa histeria de paralisações, multidões, até poucos dias como formigueiros, estão deixando de circular e, consequentemente, emitindo menos gases tóxicos poluidores no ar,causando menos impacto ao meio ambiente, o maior beneficiário nessa catástrofe.
Nesse momento tão difícil, muita gente pode até achar irônica esta reflexão, mas o meio ambiente agradece em não estar recebendo tantas sujeiras, plásticos e outros bagulhos advindos do consumismo supérfluo. O certo é que está havendo uma despoluição forçada do planeta, com milhões de pessoas fora de circulação.
 Esse é o outro lado da história, hoje focada quase que cem por cento no coronavírus, num país em desespero e sem estruturas para combater, controlar e atender às pessoas contaminadas. Sem recursos suficientes para testar e hospitalizar o contingente que cresce de infectados, os pobres, principalmente os idosos, serão as maiores vítimas dessa pandemia, como sempre acontece em ocasiões de tragédias e até mesmo através do aquecimento global. Vão confinar os idosos em campos de concentração?
Até quando a economia brasileira, já fragilizada, vai aguentar esse tranco de fechar os meios de produção e serviços? Como vai se sustentar com a abrupta queda na arrecadação, inclusive diante da necessidade premente de acudir a saúde com volumosos recursos? Não se sabe o que pode ocorrer nos próximos dias e até meses, como se comenta.
  Como cidadão comum, queria aproveitar a oportunidade para fazer algumas considerações e indagações, e também expressar minha revolta com a atitude criminosa do capitão-presidente, que virou um simples fantoche no Quartel General do Planalto. Mesmo suspeito, num gesto irresponsável, se misturou aos seus amarelinhos correligionários (convocados por ele) na frente do Planalto.
  Não dá para entender como ele foi o único a acusar negativo no teste do Covid-19 entre a comitiva infectada quando retornou dos Estados Unidos. Não se sabe muito bem os motivos dessa viagem à terra do Tio Sam (a mídia não explicou), quando o vírus já havia se alastrado na maioria dos países. Como um presidente diz ser um problema só dele em estar, ou não com o vírus? Em resposta, recebeu os panelaços da mesma classe que bateu para Dilma Russelff.
MANIPULAÇÃO CIENTÍFICA?
   Todos sabem que o coronavírus começou na China, mas até hoje não explicaram a sua verdadeira origem. Pode ter sido resultado de uma manipulação, ou experimento científico num laboratório onde alguma coisa deu errada e o “bicho” ganhou mundo através do pesquisador? Como ele surgiu? Ainda é um mistério a ser desvendado, mas a mídia não investiga esse outro lado. A verdade é que, por muito tempo, o governo chinês escondeu sua existência.
  Por que até agora nada se fala da sua possível propagação nos países africanos? Essas nações não foram atingidas? Quanto à nossa realidade de país pobre e doente, não se vê mais notícias sobre os avanços da dengue, da chicunkuhya, da zica e de outras enfermidades. Não se mostra mais a precariedade dos hospitais públicos, e se algum deles está fazendo tratamento de algum doente da Covid-19. Os ricos e poderosos estão indo para o Sírio Libanês e para os particulares.
  Todos os dias se vê, incansavelmente, as imagens televisivas (muitas distorcidas) de máscaras e o lavar de mãos com álcool e gel. Depois do lavar de mãos com todo aquele ritual,as pessoas não pegam mais em nada? Ficam imóveis? Qual a validade de tempo do produto para evitar a infecção. Vamos ter que passar o dia todo lavando as mãos? E o tempo de uso da máscara? Os governos vão ter que desinfetar, diariamente, todas as cidades brasileiras, o que é impossível.
 Álcool e gel são as palavras mais usadas nessa avalanche de reportagens, e aí os oportunistas gananciosos desgraçados (acham que nunca vão morrer) aproveitam para estocar o produto e aumentar, assustadoramente, os preços para 30 e até 50 reais, inclusive numa máscara que custava cerca de cinco reais por unidade nas farmácias.
  Infelizmente, a pandemia também serve para mostrar o lado cultural do colonizador nos termos estrangeirados, quando se podia muito bem se expressar em português, como o tal trabalho em casa, ao invés do “home office”, como se fosse mais elegante. Renegamos a nossa cultura para incorporar a do colonizador, e tome termos inglesados.

terça-feira, 10 de março de 2020

RICARDO DE BENEDICTIS - CONTO

SÉRIE FIGURAS DA BAHIA
NONÔ DE VARZEDO
Ricardo De Benedictis
No início dos anos 1990, andando pelos lados de Santo Antonio de Jesus, fui informado de que o prefeito da recém emancipada cidade de Varzedo tinha um prefeito, um senhor com certa idade, com seus setenta e tantos anos, que havia sido vereador de S.Antonio e tornou-se o primeiro prefeito do então distrito de Varzedo que conseguira o foro de cidade. Qe este homem passara grande parte da vida como boticário, aqui na Bahia, termo pouco usado, mas que significa farmacêutico prático, no qual a população local e da região rural se socorria em suas agruras do dia-a-dia, uma vez que não havia médico residente que a atendesse. Nonô estava sempre de prontidão, para os picados de cobras, doenças de todas as origens e tipos, com sua maneiira amiga de consolar os doentes e serenar os ânimos das suas famílias. Havia sido vereador por diversos mandatos e candidato único a prefeito, tal o grau de confiança que o povo nele depositava. Por ocasião da escolha, a voz corrente era: “Nonô e mais ninguém”! E assim, nosso personagem tornou-se prefeito e fez uma gestão exuberante. Escolas, postos de saúde, ambulância, além do cuidado com as estradas vicinais, calçamento de ruas, início do saneamento. Foi um sucesso.
Até então desconhecido na Bahia, Varzeo passou a fazer parte do rol de municípios com melhoria no IDH (índice de desenvolvimento humano) da população, entre outras medidas que Nonô implantava sob aplausos.
Ele era um homem simples. Atendia pela manhã na Prefeitura e após o expediente, ao meio-dia, convidava para que os visitantes o acompanhassem até sua casa “para comer um feijão”, como costumava dizer.
Como a cidade não dispunha de restaurante, era assim que Nonô minimizava a situação. Levando os visitantes para sua própria casa. Ele era viúvo e mantinha uma senhora que era sua cozinheira, a qual não cansava de elogiar. Ela sempre alegre com um sorriso nos lábios, simpática, com cerca de 60 anos de idade, quem sabe, um pouco menos...
Veio o instituto da reeleição e Nonô foi reeleito, contra outro candidato.
Apresentava um rapaz bem apessoado que chamava de filho e que depois soubemos que era seu filho adotivo. Pois bem. Terminada a segunda gestão, ele preparara o rapaz para ser seu substituto. E conseguiu com certa facilidade.
Não se sabe bem porquê,  o certo é que, certo dia estourou a péssima notícia do assassinato a tiros daquele cidadão, que veio ao mundo para fazer o bem, trabalhou a vida inteira, era um gentleman. Mas porque alguém o mataria? Na cidade, as conjecturas eram muitas. Até o filho adotivo constava entre os suspeitos, quem sabe por força da herança, inimigos políticos que desejavam o poder a todo custo, enfim, nada disso foi devidamente esclarecido. Os assassinos foram presos e colocaram uma pedra sobre a catástrofe que manchou para sempre a vida da até então pacata cidade de Varzedo, localizada entre S. A. de Jesus e São Miguel das Matas.
Perdemos o nosso querido amigo Nonô e sua memora é de um político à antiga, que tratava os cidadãos como irmãos, mas que foi vítima da sua simplicidade. Foi morto em casa, no início da noite, quando se preparava para jantar. E esta nódoa tornar-se-á indelével, indo parar nas páginas de algum livro que virá, certamente a abordar a vida de um exemplo de brasileiro. Esteja com Deus, Caro e saudoso Nonô do Varzedo. E aqueles que tramaram sua morte, que queimem para sempre na fornalha de satã e que as brasas lhes sejam boa companhia!

quinta-feira, 5 de março de 2020

JEREMIAS MACÁRIO - CRONISTA

NA AUSÊNCIA DE UM ESTADO FALIDO, O
TRAFÍCO E A RELIGIÃO OCUPAM ESPAÇO
Jeremias Macário
Assim como o tráfico e as milícias com seus crimes dominaram as favelas onde o Estado elitista burguês capitalista, até mesmo conivente, sempre esteve ausente,negando a inserção de políticas públicas sociais, também correntes religiosas conservadoras e fanáticas ocuparam seus espaços nas pobres periferias excluídas,para inocular suas doutrinas oportunistas, muitas vezes de intolerância e ódio.
  Nessa encruzilhada de bolsões de miséria e ignorância, é muito difícil saber onde está a diferença entre o mal e o bem. Para os esquecidos que não se sentem valorizados como gente, sem perspectivas de futuro, quem chega com o “bálsamo” da palavra de salvação e a proteção de vida é bem-vindo e até louvado. É um conforto. O mal, ou o mau, desaparece para se transformar em bem do bom que “sustenta” seu corpo faminto e “alimenta” a alma que se sentia vazia.
  Dessa forma entram o tráfico e a religião dos oportunistas no espaço pobre e miserável deixado pelo Estado, que criou no país uma legião de ignorantes e excluídos do seio da sociedade, servos obedientes e fanáticos desses falsos profetas da verdade e da razão. Nos últimos anos, muitos deles galgaram o poder político com os votos desses rebanhos perdidos que foram atraídos para seus covis da maldade e do fanatismo religioso.
Terreno fértil
   Não literalmente como na carta de Pero Vaz Caminha, do aqui em se plantando tudo dá, esse terreno de pobreza e de ignorância que perdura há séculos, com a falta de educação e saber, tornou-se fértil e de fácil cooptação, não somente para os políticos aventureiros e extremistas na caça dos votos, mas também para os traficantes de drogas e milicianos, bem como para o avanço do evangelismo fundamentalista.
  Ao longo dos anos, os governantes aproveitadores e egoístas criaram um campo minado, altamente perigoso e prestes a explodir. Sem mais controle, para os traficantes e milicianos (mistura com militares) que invadiram os morros onde o Estado criminalizou os moradores, usa-se a força da violência na base do fuzil e dos tanques, matando até mesmo mais inocentes que criminosos.
  Os monstros de várias cabeças dos dois lados (governo e tráfico) só fazem crescer, e quem aparece para denunciar as injustiças, realizar e cobrar programas sociais, se torna alvo das balas assassinas deles. A população fica entre a cruz e a espada. Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.
 Sem apoio político-social e opção de melhoria de vida, o tráfico encontra o campo propício para cooptar a população, principalmente os jovens, que entram numa viagem sem volta para o inferno. Por sua vez, o político bandido usa isso para lucrar, formando organizações criminosas empresariais, muitos delas se unindo aos traficantes e milicianos. Está assim montado um Estado paralelo num espaço que deveria ser responsabilidade dos governantes.
  Há quase quarenta anos, o ex-presidente João Goulart já dizia que “a maior parte do povo brasileiro é pobre, desnutrida, desprotegida, desinformada, analfabeta e sem oportunidades de estudo. Quando surge um governo voltado para a maioria dos brasileiros, fere os privilégios dessa minoria que domina a economia e escraviza nossos trabalhadores”.
Neopentecostais
  O quadro continua atual e aí sobra espaço para o tráfico e a religião, especialmente tomado pela nova onda de neopentecostais ultraconservadores que estão espalhados em cada esquina das cidades. Nas periferias estão mais concentradas as pessoas que chegam às levas dos brejões mais longínquos dos interiores abandonados em busca de sobrevivência e dias melhores.
  Acontece que esse indivíduo é mais um número nas estatísticas da pobreza desassistida. Sem infraestrutura, na maioria das vezes sem moradia própria, sem contar com programas de ação social por parte dos órgãos públicos, convivendo numa situação de precária educação e saúde e sem o reconhecimento como pessoa humana, ele não passa de mais um zé ninguém.
  Nesse ambiente de abandono e desvalorização do ser, entram as igrejas com suas doutrinas fanáticas como salvadoras de almas, que prometem alento para o desespero e dias melhores em troca de um dízimo. Um pedreiro, servente ou um encanador que nunca foram valorizados são acolhidos e passam a ter voz naquela comunidade religiosa, muitos até como novos pastores.
  O contingente desses descamisados, desvalorizados e de baixo nível de instrução, cooptados e doutrinados num processo de lavagem cerebral,com a pregação de intolerância contra as outras religiões, como o candomblé,por exemplo, só faz aumentar no Brasil.
  Muitas dessas religiões propagam e incutem em seus fiéis, a maioria frágil e de fácil manipulação, a ideia de que fora da igreja não há salvação, e que só Cristo salva. Nessa linha pentecostal extremista e conservadora, dia desses ouvimos de uma cantora gospel que os católicos não são filhos de Deus.