LAUDICÉIA
Nando da Costa LIma
Não chegava a ser
um matriarcado, mas elas foram fundamentais na nossa evolução social, política
e espiritual. Eram elas que assumiam nas horas mais graves, sempre pendendo pro
lado da razão, da paz. Evitaram várias desavenças que manchariam ainda mais a
nossa história. É claro que temos nossas manchas! Na política de “curral” dos
coroneis, tudo era motivo pra lançar mão das armas, a repetição papo amarelo
fazia parte do cenário. E foi nesse clima que elas evitaram um desfecho trágico
para uma briga que se arrastaria por décadas, ou quem sabe séculos.
Aquela briga estava
sendo esperada há muito tempo...,foi em 1919, quando os grupos políticos
denominados Peduros e Meletes decidiriam quem ficaria com o poder através das
armas, um tempo distante onde a palavra era mantida à risca! Os Meletes tinham
assumido o poder sob pressão e queriam mantê-lo a qualqer custo. Dino Correia
já estava em Conquista quando o melete Almirante sacou a pistola e deu alguns
tiros pra cima, dizendo que a situação seria resolvida a bala, ele tinha consciência
que estava dando início a uma luta que decidiria o destino da política e
principalmente do seu pai, o juiz Araújo, um dos líderes Meletes. Almirante
tinha se casado com Iazinha há poucos dias: Iazinha era pedura...
Coronel Gugé tinha se
afastado do cargo de intendente em 1916, seu genro foi nomeado em seu lugar,
depois disso a oposição começou criticar a política do sucessor através do
jornal " O CONQUSTENSE". Os Peduros levaram a melhor nos debates pela
imprensa graças ao poeta Maneca Grosso que atacava os meletes pelo jornal
"A PALAVRA". Dino Correia só entrou na briga depois que espancaram
seu ex-professor por causa de um artigo dirigido ao Juiz Araújo. Dino ficou
muito sentido com a surra que deram em Maneca Grosso e resolveu dar o troco. Maneca
era diabético e faleceu devido à violência sofrida.
Os Peduros estavam entrincheirados
em pontos estatégicos da cidade, os Meletes estavam acuados, um homem
morreu no início da luta e tudo indicava que iria acontecer uma carnificina.
Os chefes meletes Maneca Moreira e o juiz Araújo, esperavam o pior, eram
experientes e conheciam a capacidade do inimigo, os homens de Dino eram em
maior número e estavam mais bem armados, muitos jagunços dos Meletes que se
diziam valentes fugiram assim que correu o boato que o "coroné" Dino
ia sangrar todo Melete capturado, alguns deixaram até as armas antes de correr.
A morte estava rondando, era só os Peduros resolverem fechar o cerco, a cauã
tinha lançado seu canto agourento mais uma vez sobre o céu de Conquista! Mas
felizmente desta vez havia uma mulher, que por coincidência era parteira, uma
pessoa reponsável pela chegada da vida, tenha evitado tantas mortes. Dona Laudicéia
Gusmão não se intimidou com o tiroteio e atravessou a Rua Grande seguida por
Henriqueta Prates (uma das introdutoras do kardecismo em Conquista), Joana Angélica Santos e Eufrosina Freitas, como se fossem
bandeiras brancas. Ela queria por fim àquela briga entre parentes que acabaria
em tragédia caso não houvesse interferência, sua marcha foi vitoriosa! As
mulheres da cidade, incentivadas por sua coragem, acompanharam a parteira
pelas ruas em sinal de protesto pelos acontecimentos. Foi Dona Laudicéia que
conseguiu um acordo enre os dois líderes, o coronel Dino já tinha saído
vitorioso, abriu mão da violência, o que não era comum na época! E assim a
atitude de coragem de uma mulher evitou uma grande tragédia que novamente mancharia
nossa história de sangue.
Os Peduros
assumiram o poder na figura de Dino Correia. O juiz Araújo e vários outros
oposicionistas escaparam da morte e da humilhação graças à interferência de
Dona Laudicéia, A Parteira da Paz!
Como eu disse no início da história: não
chegava a ser um matriarcado. Mas só não era porque elas, sabiamente, deixavam
eles pensarem que mandavam. Ou seja: o burro era do “coroné”, mas quem
comandava a rédea era a patroa...