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sábado, 31 de agosto de 2019

NANDO DA COSTA LIMA - CONTO

O caso do bigode de mel (Ficção)

Nando da Costa Lima
A menina de dona Santa levava sua pacata existência como a maioria das moças da cidade, a única coisa fora do comum que aconteceu em sua vida durante todo esse tempo do colégio foi a chegada de João Merlo, o repórter. Ele mudou por completo a cabeça da “menina do capitão”! A carteira de jornalista o deixava mais metido que puxa saco quando é cumprimentado em público por algum político influente. E pra completar o sacana ainda trouxe aquela lambretona invocada pra azucrinar ainda mais a cabeça das meninas, ele era o assunto da cidade quando passava em marcha lenta penteando aquele bigodão, as moças ficavam tão entusiasmadas que nem notavam o tamanho da cabeça de João (nunca encontrou um capacete que coubesse no cocão). Até “dona” Alzira que já estava amarrando o facão quis dar uma voltinha na famosa lambreta…, ele mandou dizer pra ela que quem gostava de couro velho era Moreno Sapateiro.
João, que não era besta, cresceu o olho foi pra Clarice do capitão, ali estava seu futuro. Era bonita, educada e filha do maior criador de boi da região, era ali que tinha que se arrumar pro resto da vida. Ele agora passava todo o seu tempo cortejando Clarice, era só ela passar pro colégio que ele acompanhava na lambreta. A conversa era sempre a mesma, parecia disco arranhado: “E aí gata, vamos dar uma voltinha na mimosa (apelido da lambreta), você não vai resistir a esse meu bigode de mel”. Repetia essa frase quantas vezes a encontrasse. Ela baixava a cabeça, resmungava, fazia biquinho… mas no fundo estava adorando, até sonhos eróticos ela tinha com o “bigode de mel”. Dona Santinha foi quem primeiro notou as olheiras da filha, mas achou que era de tanto estudar.
Falta de aviso não foi! Todo mundo que conhecia o capitão alertou João Merio, ele é que não botou fé nos conselhos e continuou perseguindo a menina, já tinha feito até aposta com o dono do buteco: apostou 2 caixas de Jurubeba Leão do Norte como até o fim do mês ele passava aquele anjo “no papo”. E de tanto o pessoal comentar, a conversa acabou caindo no ouvido do capitão. Este não perdeu tempo, mandou um cabra investigar o que estava se passando. Quando o enviado voltou da cidade e contou para o patrão que tinha um sujeito que não podia ver dona Claricinha que pedia pra ela dar um chupão no bigode dele, o homem ficou da cor de um tomate maduro! Só ficou mais calmo quando despachou 3 cabras de confiança pra dar uns “conselhos” ao tal “reporti” safado, só faltava essa… Bigode de Mel!
No outro dia a cidade toda estava comentando a vingança do capitão, ele mandou os cabras arrancarem o bigode do conquistador com um alicate. Todo mundo escutou os gritos de João, o repórter. Esta atitude do capitão revoltou a filha mimada e criada com tanto gosto, ela acabou revelando seu amor por João e enfrentando o pai. Desaforadamente ela disse tentando agredir o capitão: ”Papai, o bigode de João Merlo vai crescer de novo, e eu irei saciar-me naqueles fios de mel para sempre. CABELO CRESCE DE NOVO MEU PAI! O senhor não sabia disso?! Hoje mesmo vou embora deste fim de mundo, na garupa da lambreta de João. Há males que vêm para o bem! Esta sua atitude bárbara só fez acelerar minha liberdade, o bigode dele vai ficar grande e belo como era antes. Cabelo cresce meu pai!”. O capitão ficou de pé e depois de engolir uma talagada de pinga, dirigiu-se pra virgem apaixonada e falou sem alterar o tom de voz: “É filha, cabelo eu sei que cresce, mas ‘saco’ eu nunca tive notícia que crescesse de novo, e olha que eu ‘capo’ boi há mais de 40 anos…”.

sábado, 24 de agosto de 2019

NANDO DA COSTA LIMA - CRÔNICA

Torre de Babel

Nando da Costa Lima
Antes só existiam dois partidos para brigar pelo poder, e os eleitores ainda acreditavam nos políticos. A briga era uma só e o motivo também: todos unidos para derrubar o partido da situação. O político tinha que xingar ao máximo para obter a simpatia do eleitorado, e houve muita gente que começou como vereador, foi xingando, xingando, até ser eleito deputado. Mas depois o filme mudou de enredo, e o xingamento caiu de moda, apesar dos personagens permanecerem os mesmos, apenas um pouco mais velhos e com um novo papel a representar. Na briga pra ver quem seria o ator principal houve todo tipo de baixaria. Todos queriam ser estrela quando viram que um filme não se faz apenas com mocinhos. Começaram se a agredir, pois além do papel principal, todos tinham seu próprio enredo. Aí então começou a briga, lembrava a Torre de Babel, todos falavam e ninguém se entendia. O jeito foi cada um construir sua torre, só que as fizeram tão frágeis que vivem mudando de mãos. Mas um dia eles descobrem que para construir algo sólido é necessário que haja união em torno de um objetivo.
Mas o que eu vou contar aconteceu no tempo em que penico tinha tampa. Foi numa cidade pequena, onde como em todo interior da época, possuía um curral eleitoral comandado por um “coroné”. Estes coronéis eram os verdadeiros donos das terras e da vontade do povo, tanto eram que, quando prometiam uma determinada quantidade de votos a um candidato, este podia se contar como eleito. Os coronéis compravam tudo apenas com a palavra, e nenhum comerciante ousava cobrar: eles pagavam quando dava vontade. Num lugar desses apareceu Dr. Anacleto, advogado recém-formado, pronto pra começar uma carreira brilhante.
O Dr. estabeleceu-se nas terras do “coroné” Iôzinho e, por coincidência, no primeiro serviço que pegou o “coroné” estava envolvido. É que um comerciante local tava apertado, precisando de dinheiro e a única forma de conseguir seria cobrando do coroné alguns anos de compras a crédito que ele nunca teve coragem de cobrar. Achou que seria através do Dr. a única maneira de receber seu dinheiro, e propôs ao advogado metade do dinheiro que ele conseguisse receber. O Dr. não perdeu tempo: pegou a conta e foi pra casa do coronel, e depois de muita conversa conseguiu receber. O coronel só pagou porque as eleições aproximavam-se e ele, sem candidato, olhou para o jovem advogado como um futuro afilhado político: aquele daria um bom “deputado de recados”. Sendo assim, pagou a conta e tratou o Dr. muito bem.
O Dr. ficou entusiasmado com aquilo e, não entendendo a jogada do “coroné”, quis dar uma de bom, tanto é que mandou fazer uma placa com letras enormes e mandou pregar na frente do escritório com os seguintes dizeres: ”Dr. Anacleto, especialista em cobranças, principalmente do Coronel Iôzinho”. O “coroné” achou aquilo a maior das ofensas e mandou de imediato dois capangas fazerem uma visitinha ao Dr. Quando este apareceu foi logo amarrado. Felizmente a ordem não era de matar, o coronel só queria dar uma lição no intruso. Mandou arrancar o bigode do Dr. com alicate, fio por fio, e depois de feita a operação ele tinha que sair de casa em casa do vilarejo explicando que aceitava todo tipo de serviço, desde que não mexesse com o coronel. Em seguida, tinha que dar uma declaração no serviço de autofalante elogiando o “coroné” Iôzinho, um democrata de coração. Depois dessa o Dr. foi direto pra casa arrumar as malas, ali não tinha mais clima pra construir sua tão sonhada “brilhante carreira”. Todos concordaram com ele, pois ficou horrível um Dr. com a boca toda inchada sair pedindo desculpas pelo que não fez. E o pior de tudo, segundo um dos jagunços, é que a ordem do coronel não foi dirigida apenas aos cabelos do bigode. O Dr. que o diga, pois teve que ir embora em pé mesmo tendo lugar pra sentar no ônibus.
Mas isso aconteceu no tempo em que “caçola” tinha botões nos lados. Hoje os coronéis mudaram de nome, e ordenam aos homens que se dizem políticos a voltarem atrás com suas palavras de maneira mais civilizada. Tudo se resolve sem agressões físicas, mas fere de maneira absurda o moral dos verdadeiros políticos. Os anos passam, os governos caem, os homens morrem, mas infelizmente a maneira populista usada para obter o poder apenas muda de roupa, ela veste-se de acordo à época.

sábado, 17 de agosto de 2019

NANDO DA COSTA LIMA - CONTO

Morrendo de amor
Nando da Costa Lima
     O que atraía a atenção do pessoal era aquela paixão de dar inveja a Romeu e Julieta, entre namoro e noivado já tinham passado quinze anos de “ensebamento”. Estavam tão famosos que até o cego Alomar fez um ABC de Antônio e Nilsimar, todo mundo que escutava caía no choro! Vicente não podia escutar que desmaiava... Era uma verdadeira obra de arte! Mas vamos deixar o ABC de lado e entrar direto na história. O casal, apesar de lindo, era cheio de complicações. Mas não era pra menos! Uma rua inteira azarando um relacionamento não podia dar outra coisa! Nesses quinze anos foram inúmeras as vezes que eles entraram em atrito por causa de fuxico... Um dia só porque Leopoldo da Caçamba deu uma olhada mais demorada pra Nilsimar, Robertão espalhou na rua que foi ela que tava “se abrindo” pra Leopoldo por causa do “chevetão”. Antônio pensou em pegar o 38 pra tirar satisfação, mas tinha vendido a arma pra pagar uma promissória.
A partir desse dia o pessoal já sabendo que o noivo tinha o pavio curto, toda semana inventava um novo boato com o nome dos pombinhos... Só que o último fuxico foi muito pesado. Antônio chegou a duvidar do amor... É que “cumpade” João falou pra quem quisesse escutar que pegou um “lance” de Nilsimar que deu pra ver até a pereba que ficava dois dedos abaixo da banda esquerda da bunda, foi essa revelação que levou o apaixonado à duvida! Quantas vezes ele não fez carinho naquele “sinalzinho”, era tão seu!.. Agora esse assunto se tornou público. A desconfiança dele causou revolta em Nilsimar, logo ela que não dava ousadia a moleque nenhum, ser acusada de traição só porque um tarado viu na hora que o vento levantou sua saia, era pura ignorância! Isso sem falar na vergonha, a rua toda sabia da verruga. Não restou outra alternativa pra noiva humilhada, foi o jeito terminar tudo, segundo ela dessa vez era pra sempre... Tava muito envergonhada... Pensou até em fugir com Geovane Careca só pra dar o troco à altura.
Depois da separação, o poeta era oretrato da infelicidade. Até a Jurubeba Leão do Norte que antes era tomada como aperitivo passou a ser consumida às caixas, só não morreu porque o produto era muito bom, além de “disopilar” o fígado abria o apetite do apaixonado. Era pirão de bucho de bode e música de Wando o dia todo! A falta da noiva tava acabando com o homem, era o vigilante mais desligado do mundo! Toda vez que entrava em serviço dava voz de prisão pra uma escultura de Rogéria Maciel que ficava na entrada. E o pior é que quando lembrava as coisas pioravam, parecia coisa feita. A vontade de matar o safado causador daquela intriga não saía da cabeça do ex-noivo, estava decidido. Se Bilisário Pai de Santo não desse jeito de reatar seu noivado até o Natal, aquele sacana fofoqueiro causador de sua solidão iria passar o réveillon no inferno. Ele chegou na casa de Pai Bilisário todo envergonhado, só a paixão pra levar um católico praticante como ele a apelar pra magia de terreiro. Só ficou o tempo de copiar a seguinte receita: “Iôzim pega um gato preto criado por uma viúva há sete anos, mata, enrola numa cueca usada e depois de sete dias jogue na porta da casa da mulher que você quer. Se depois de sete dias ela não estiver morrendo de amor pelo senhor, ocê pode voltar aqui e acabar com a vida desse velho”.
E o poeta saiu do terreiro direto pra casa da primeira viúva que veio em mente, o primeiro gato que apareceu “dançou”, o resto foi fácil! Esperou sete dias e jogou os restos do gato (enrolado na cueca usada) na porta da casa do amor. Viajou logo em seguida, foi pra bem longe daqui, “foi pra lá do Guigó”. Só queria ver Nilsimar depois de uns vinte dias, apesar de pai Bilizário ter garantido que bastavam sete dias.
      Quando o tempo venceu (os sete dias de espera), Antônionem passou na casa da mãe, foi logo pra casa de NIlsimar, tava botando a maior fé na receita do preto velho. Entrou porta adentro como se tudo já tivesse sido resolvido, só parou com a interferência da ex-sogra que o abraçou chorando e fez aquela revelação que arrasou Antônio... Ela mudou o destino do rapaz quando disse aos prantos: “Minha menina entregou a alma ao criador há dois dia vítima de um tal de tétano, ela feriu o pé numa carniça de gato enrolada numa cueca velha, o dotô disse que se fosse vacinada nada teria acontecido... No delírio da febre ela falou muito de você, parecia até que estava morrendo de amor!”... Hoje ele passa os dias escrevendo poesia pra finada paixão que morreu de amor... Muitos moradores mudaram-se da rua só pra não ter que suportar aquela “choradeira” todo santo dia!..

sábado, 10 de agosto de 2019

NANDO DA COSTA LIMA - CONTO

Destino

Nando da Costa Lima
Senta aí, “Dona Repórte”, eu vou lhe contar a história do início, isso que a senhora viu foi só um pedaço, ela ainda está acontecendo. Há dezessete anos esse bairro era mais mato que casas, foi então que apareceu Pedro e Rosário, eles tinham se juntado de novo, ela já tava pra parir. Rosário não tinha quinze anos quando o menino nasceu, Pedro tinha dezoito, e a criança escolheu o pior momento para vir ao mundo, ele tava desempregado há meses. Eu era a vizinha mais próxima e até ajudava quando podia, tinha que ser escondido dele, era tão orgulhoso que preferia passar fome que aceitar esmola de puta, era o que eu fazia na época. Quando a criança nasceu eu passei a ajudar com mais frequência, mas quando ela completou sete meses eu peguei uma “doença ruim” que me impediu de continuar fazendo vida.
Depois disso eu não pude fazer mais nada pelo menino. Pedro saía sempre em busca de emprego, mas a única coisa que conseguia era se embebedar, a cachaça era o único apoio que os amigos podiam lhe dar! Eu cheguei a dar conselho pra Rosário se prostituir, bebendo daquele jeito Pedro nem ia notar. Mas ela era tão inocente que ainda acreditava num grande futuro para os dois, era tão apaixonada pelo marido que nem passou pela cabeça aceitar a minha proposta. E a criança ia sobrevivendo aos trancos e barrancos, estava sempre chorando, e aquele choro diferente que denunciava a fome que às vezes era enganada com um pouco de farinha dissolvida em água. Um dia o desespero se apossou de Pedro, o menino tava pra estourar de tanto chorar e dessa vez nem farinha tinha pra enganar o estômago do filho. Ele saiu de casa garantindo pra Rosário que traria o leite custasse o custasse. Pedro não voltou, só chegou a notícia que mataram um ladrão no centro da cidade tentando roubar o depósito de uma loja de alimentos, segundo a polícia o gatuno estava com o roubo na mão, duas latas de leite em pó. Rosário nem pôde ver quando jogaram seu homem numa cova rasa. Logo depois ela entrou pra vida, era o único jeito de terminar de criar o filho, isto é, não deixar morrer de fome. Ela viveu mais uns seis anos até que um amante pôs fim em sua vida na frente do filho ainda criança. Eu sei, “Dona Repórter”, que a senhora deve tá sem entender porque eu lhe contei essa história, deve até estar pensando que eu não passo de uma prostituta aposentada querendo chamar sua atenção, mas não é nada disso! É que esta reportagem que a senhora tá fazendo sobre aquele rapaz de dezessete anos morto ao tentar roubar um supermercado é apenas a continuação da história que acabei de contar. Aquele rapaz que morreu é filho de Pedro e Rosário, que também tem um filho e uma mulher que a esta hora devem estar esperando pela comida prometida por ele antes de sair de casa….

domingo, 4 de agosto de 2019

RICARDO DE BENEDICTIS - CRÔNICA

O EXCESSO PODE MATAR. O EQUILÍBRIO ESTÁ NO MEIO!
Ricardo De Benedictis
DEMOCRACIA
Até que haja um golpe de Estado, como acontece de tempos em tempos em nosso país, o Brasil tem o regime democrático como seu norteador constitucional.
Já cunhou o grande Winston Churchill que “A Democracia é o pior Regime, até que se crie algo melhor”. Isso quer dizer que a Democracia, mesmo com suas falhas, ainda é o melhor para a convivência de um povo.
Em 1988, criou-se uma nova Constituição para o Brasil, através da Assembléía Nacional Constituinte, cujos membros continuaram nos cargos eletivos de deputados e senadores após a Promulgação da ‘Constituição Cidadã’, como a definiu Ulisses Guimarães, presidente da ANC.
A Câmara e o Senado era, como continua sendo, ‘um balaio de gatos e ratos’. Nada mudou, então!
Grande parte do texto constitucional encontra-se em constante revisão pelas emendas que necessitam de 3/5os dos votos de deputados e senadores para sua alteração, em dois turnos de votação.
Os regimentos internos da Câmara Federal e do Senado representam um emaranhado de dispositivos que suscitam questões de ordem, judicializações e protelações absurdas. A ponto de uma minoria qualquer, ter o poder de protelar e até tornar peça de museu, um projeto de Lei ou uma MP – Medida Provisória, ou uma PEC – Emenda Constitucional, quando não atendem os interesses subalternos do Poder Econômico ou do Poder Corporativo.
O que temos e uma Constituição que foi moldada para um sistema Parlamentarista, mas que funciona (?) num presidencialismo totalmente engessado.
Deputados e senadores, ministros do Supremo e outros que tais, podem formar  um bloco carnavalesco e desfilar cantando “A sorrir eu pretendo levar a vida” E a população acuada por decisões espúrias, bem que poderia acompanhar com o verso seguinte: “Foi chorando que vi a mocidade perdida”!
Já que a Arte imita a vida!!!...
EXECUTIVO, LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO
Urge uma Reforma Política que coloque os Poderes em seus devidos lugares, impedindo ministros do Supremo de Legislar, bem como mudando a prática de indicação e permanência de ministros ad eternum.

E O SISTEMA PENITENCIÁRIO??!!
Leitor, você sabia que o único (estou a dizer, único) país onde presos recebem ‘visitas íntimas’ é o Brasil? Dizem existir presídios que acolhem tais visitas em suítes com cama redonda!!!
Voltando ao Legislativo: Para estabelecer um mínimo de ordem na bagunça que os espertos legisladores teceram em seus regimentos internos, necessário seria que houvesse mudanças nos textos de todos eles, que obedecessem os interesses de quem paga seus salários e suas mordomias: O Contribuinte.
Algo que viesse enxugar os textos, torná-los menos protelatórios, desde a tramitação de projetos, formação de comissões especiais, tornando o voto de cada parlamentar fundamental para aprovação ou rejeição de qualquer matéria. Qualquer matéria!.
Isso valendo para o Regimento Interno do Supremo que serviria para os demais Tribunais.
Junte-se a tudo isso, a realização de Eleições de 4 em 4 anos, em todos os níveis, sem direito a reeleição em todos os órgãos da administração municipal, estadual e federal, incluindo-se o DF.
Seria muito grande a ECONOMIA DOS RECURSOS PÚBLICOS e o povo seria beneficiado.
Vereador que quisesse permanecer na Política, teria que se candidatar e deputado estadual, deputado federal e/ou prefeito ou mesmo a governador ou a senador. Dois senadores por Estado e não, 3 como é hoje. Também na Câmara o número seria de 257 e Vereadores, no máximo 11 para as capitais. Fusão entre municípios que não tivessem renda per capta estabelecida. E a representação eleitoral seria proporcional ao número de habitantes, sem esquecer que Partido que não conseguisse eleger vereadores e deputados perderiam o registro e deixariam de existir!
Quanto aos funcionários públicos, total enxugamento administrativo com a mínima burocracia.
PRIORIDADE para a Educação em tempo integral, Saúde Pública, Segurança e Mobilidade Urbana. Aumento da malha ferroviária, hidroviária e melhoria na malha rodoviária já existente. Reflorestamento e recomposição das matas ciliares, entre outras!
São apenas algumas sugestões para enxugar nossa monstruosa máquina estatal.

sábado, 3 de agosto de 2019

NANDO DA COSTA LIMA - CONTO

O Peru Sapateador




Dr. Abreu era delegado e se orgulhava da profissão, era tão fanático pela lei que dedicava seu tempo quase que integral à perseguição de bandidos. Mas num vilarejo daquele tamanho era muito difícil aparecer um marginal, sendo assim ele suspeitava de tudo e de todos, era o único jeito de mostrar serviço, muita gente boa foi em cana devido à paranoia do delegado. Mesmo contra a vontade, a comunidade tinha que admiti-lo, pois o vilarejo ficava em suas terras. Seu pai quando chegou na região (segundo as más línguas) tava matando cachorro a grito e comendo muito ensopado de capa de cangalha velha (não se sabe como, mas venceu). Graças ao seu “carisma”, tornou-se presidente da cooperativa em pouco tempo, e isto levou Abreu a torna-se um empresário de sucesso. Criou a FRIBODE, uma das empresas mais promissoras da região (o cargo de delegado era mais uma tara, gostava de ser chamado de “otoridade”). Esta circunstância deixava o delegado à vontade levando-o a cometer arbitrariedades absurdas: um dia prendeu o padre como traficante de maconha, até o vigário conseguir provar que aquele pacote era incenso foi um sufoco.
Abreu adorava os domingos, era dia de feira, nesses dias ele sempre tinha o prazer de prender um marreteiro. E aquele domingo era especial, tinha um candidato a deputado de passagem pela cidade e ele como delegado não podia deixar de marcar presença, pensou até em mandar buscar uns ladrões  nas redondezas pra ele prender na hora do comício que seria na feira, mas deixou pra lá, no último caso ele prenderia Noca Mão Leve, marginal oficial da cidade. A feira já estava em atividade há mais de duas horas, o comício perto de começar e o delegado ainda não tinha encontrado nada de errado, até Noca tinha viajado. Mas pro alívio do Dr., um camelô se instalou em frente ao palanque chamando a atenção de quem passasse, só se escutava elogio: “O homem é retado”, “Aí sim eu vi um artista”. Abreu com seu faro de investigador veterano logo sentiu que ali tinha treita, sua desconfiança aumentou quando viu do que se tratava: era um safado enganando o povo com um peru, dizia-se o único amestrador de peru do mundo, o velho colocava o peru em cima de um tabuleiro e começava a batucar o tambor, o peru só parava de sapatear quando ele suspendia a batucada. Dr. Abreu não pensou duas vezes, prendeu Seu Otamilo e o peru, aquele velho tava fazendo alguma malvadeza com a pobre ave, ninguém ia conseguir ensinar um peru a sapatear. Mesmo Otamilo sendo um homem de idade avançada, o delegado não perdoou, partiu pra ignorância, queria saber de qualquer maneira o que ele fazia para aquele bicho sapatear. Começou com uma sessão de bolo, quando sentiu que o homem era duro, mandou arrancar as unhas e deu uns choques. E nada de seu Otamilo abrir o bico, não podia revelar um segredo de família guardado a várias gerações, a fórmula era simples: bastava esquentar um tabuleiro e botar o bicho em cima, este só parava de sapatear quando a chapa esfriava. Mas não seria ele quem revelaria, seu bisavô já amestrava perus há 60 anos atrás. O delegado perdeu a paciência, além de pendurar o velho no pau-de-arara arrancou o bigode com um alicate, quando seu Otamilo tava pra desmaiar o Dr. derramou um vidro de pimenta nos olhos. Como o homem estava demorando de abrir o jogo, deu ordem para o cabo dar um chute no saco daquele sacana de dez em dez minutos e partiu pra missa das nove, de lá ele iria para o tão esperado comício. Deixou a delegacia todo risonho, os gritos do velho sendo interrogado devem ter chegado aos ouvidos do povo, até o deputado já deveria ter sentido que ele era bom de serviço, era essa sua intenção, quem sabe esse deputado um dia não virava governador e colocava-o com secretário de Segurança do Estado.
Dr. Abreu estava num lugar privilegiado do palanque quando sentiu a primeira pontada, foi o próprio deputado quem primeiro o socorreu quando ele caiu vitimado por um infarto que quase o levou pra outra. Mas não era pra menos, as primeiras palavras do deputado lhe fizeram o mesmo efeito que um tiro a queima-roupa – “Caros amigos, não pensem que nasci em berço de ouro, fui educado com o dinheiro que meu pai ganhava na feira colocando um peru pra sapatear. Por sinal, apesar de não mais precisar, hoje ele está na feirinha daqui fazendo uma demonstração”. E o candidato a deputado estadual, por saber que o homem era filho do presidente da cooperativa e dono da FRIBODE, deixou aquilo passar como engano investigativo provocado pelos “subversivos” da oposição…

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

RICARDO DE BENEDICTIS - CONTO

SURRA EM SANTO ANTONIO

O CASAMENTO DE AURINHA 0U...
DE COMO VALE A PENA CASTIGAR O SANTO

Ricardo De Benedictis
Consigo vê-la, apesar dos anos já passados, um pouco gorda, clara, cabelos castanhos(acaju), pernas finas.

Lembro-me bem do que falavam dela: Aurínha é uma boa moça, mas não dá sorte... E assim o tempo foi passando...

Honrando o costume de família, Aurinha convidava anualmente os amigos para festejar seu aniversário. Entretanto, ao fazer 40 anos, mudou a tática: jamais chegou aos 41. Todos os anos a velinha com o número 40 tremia sob os aplausos dos tantos coroas presentes e as lágrimas alegres e tristes da aniversariante...

Como se sabe, desde épocas remotas, inventaram que o Santo Antonio é casamenteiro.. Assim, as mocinhas que ultrapassavam os 21 anos, adquiriam e veneravam o Santo Casamenteiro, com toda a fé e todo o respeito. Eis que, alguma mente sádica achou de implantar um método mais convincente, pois nem sempre o Santo Antonio resolve os problemas das solteironas. Haja vista o grande número de coroas solteiras espalhadas pelo mundo... O método consiste em dar uma surra vez por outra no Santo, método este imediatamente adotado por Aurinha.

Depois de alguns meses, sem qualquer sinal que lhe apontasse um namoro, não havia dia em que Santo Antonio não apanhasse. E Aurinba argumentava ao bater no santo, devidamente instruída pelas amigas:
- Santo safado, você tá me enganando... Santo trapaceiro... Santo... e lá vai tapa...

Numa dessas crises, o desespero tomou conta da pobre mulher que, num gesto mais insano, atirou o pobre Santo Antonio pela janela do sobrado onde morava.

Nesse exato momento, passava pela calçada do sobrado um senhor careca, já com mais de sessenta, que recebeu Santo Antonio pelos cornos e caiu de `rabo trancado´, como disseram os vizinhos. Gritos e exclamações vindos da rua chamaram a atenção de Aurinha, que, ao tomar consciência da desgraça que havia causado ao pobre homem e por ser muito católica, apressou-se a socorrer o infeliz transeunte que se esvaía em sangue sob os atônitos olhares do aglomerado que se formou ao seu redor. Ao lado do cidadão desfalecido, pedaços de Santo Antonio jaziam espalhados pela calçada...

Dias amargos para Aurinha que providenciou a transferência do coroa para o hospital e toda aflita só voltou para casa quando o acidentado foi declarado fora de perigo. Todos os dias, entretanto, levava-lhe maçãs, peras e uvas...

Nessas andanças, descobriu que o careca era solteirão. Daí a um romance foi como num passe de mágica. Eis que Aurinha descobriu que estava amando o careca e viu seu sentimento correspondido quando o dito cujo lhe propôs casamento.

Se se casaram ou amancebaram-se, não sabemos. O que é certo, porém, é que o Santo Casamenteiro realizou o grande milagre trazendo o homem que Aurinha tanto pediu.

Quebrado ou não, o certo é que Santo Antonio não falhou.

Por precaução, voltando ao local do acidente, Aurinha catara os cacos da imagem e as escondera, com receio do caso estourar na policia. Depois sentiu que poderia recuperá-lo e o fez, colocando-o numa redoma de cristal...

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